Sínodo: como é que a paróquia pode ser o lugar concreto da vivência sinodal
Rui Saraiva – Portugal
Vai decorrer de 29 de abril a 2 de maio na ‘Fraterna Domus’, em Sacrofano, nos arredores de Roma, uma grande Assembleia Mundial de Párocos. “Párocos pelo Sínodo” é o nome da iniciativa que vai refletir sobre o tema “Como ser uma Igreja local sinodal em missão”.
No caminho de preparação da segunda sessão do Sínodo que terá lugar em outubro próximo, a Secretaria Geral do Sínodo promove este encontro internacional que vai acolher mais de 200 párocos vindos de todo o mundo. Será um tempo de oração, de escuta e de partilha de experiências.
Por indicação da Conferência Episcopal Portuguesa vão estar presentes o padre Sérgio Leal, da diocese do Porto e o padre Adelino Guarda da diocese de Leiria-Fátima. Também da diocese do Porto estará presente o padre António Bacelar, a convite da Secretaria Geral do Sínodo.
Diferentes geografias e culturas para um mesmo desafio
Em entrevista, o padre Sérgio Leal, assinala a sua expectativa em conhecer o que vai acontecendo em outras geografias e culturas sobre “como é que a paróquia pode ser o lugar concreto da vivência sinodal”. Revela também um seu especial gosto e interesse em participar neste grande encontro mundial de párocos em Roma, devido à sua recente investigação académica no âmbito do caminho sinodal.
“Eu diria que há duas expectativas: uma mais pessoal, dado o meu interesse pela sinodalidade e até pelo estudo académico que desenvolvi nesse âmbito, participar num evento sinodal desta natureza tem para mim um interesse muito querido. E estarão párocos de todo o mundo neste encontro internacional “Párocos pelo Sínodo” será, pois, também sentir o pulsar deste Sínodo, teremos um encontro com o cardeal Grech que será aberto a questões sobre o caminho sinodal neste momento; depois há uma expectativa em relação a este trabalho da vida paroquial no contexto sinodal ou de uma paróquia em chave sinodal. Perceber como é que em outras geografias, em outras culturas se vai vivendo este desafio de ser Igreja sinodal em missão. E de como é que a paróquia pode ser o lugar concreto da vivência sinodal. Há um convite para que os párocos levem algumas boas práticas que existem nas suas dioceses. Há uma expectativa muito grande de perceber como é que a paróquia hoje pode ser um lugar de sinodalidade”, diz o padre Sérgio Leal.
Renovação sinodal a partir da paróquia
Para o sacerdote português, não obstante, os carismas dos diferentes movimentos, “a paróquia continua com uma grande vitalidade e como lugar concreto da vivência sinodal”. E a paróquia “é um tema crucial na renovação sinodal”, afirma.
“É um tema crucial na renovação sinodal porque na verdade a Igreja universal realiza-se e acontece nas igrejas particulares e as igrejas particulares têm como grande célula a paróquia. Sabemos que hoje no ritmo de vida eclesial, social e cultural, assumimos uma outra mobilidade, já não estamos tão ligados aos critérios de territorialidade, mas a paróquia é uma célula fundamental da evangelização e da vida eclesial. E, não obstante, os diferentes carismas dos diferentes movimentos, a paróquia continua com uma grande vitalidade e como lugar concreto da vivência sinodal. Ou melhor: tendo esse desafio concreto de vivência sinodal. Porque percebemos que a paróquia é herdeira de uma grande história que está ainda muito ligada, muitas vezes, a um modelo mais tridentino. E esta pode parecer uma expressão um bocadinho forte, mas é neste sentido: o modelo tridentino de paróquia assentava num ambiente de cristandade onde todos aqueles que dela faziam parte pelo batismo, família e condição social, eram crentes e, por isso, à paróquia ficava apenas a tarefa (e já era uma grande tarefa) de ensinar a doutrina, de pregar e administrar os sacramentos. Isto criou uma estrutura de paróquia clerico-cêntrica onde o padre tem esta missão de administrar os sacramentos, pregar e ensinar a doutrina. E este modelo tridentino de paróquia, porventura, tem ainda hoje um reflexo muito forte no modo como as paróquias se estruturam e desenvolvem a sua missão. E aqui há uma conversão pastoral que me parece urgente de todos: do padre que situa o seu ministério no horizonte sinodal e dos leigos que vêm também reclamar um papel novo e diferente nesta Igreja sinodal, já não como meros destinatários da ação do clero, mas como sujeitos da ação eclesial”, refere o pároco da diocese do Porto.
Inadiável conversão dos processos de formação
Segundo o padre Sérgio Leal, este caminho sinodal da Igreja “implica uma inadiável conversão dos processos de formação”. De todos, mas, em particular, do clero.
“Este caminho sinodal que a Igreja está a fazer implica uma inadiável conversão dos processos de formação. E de formação no seu todo, de percebermos que a catequese tem que ser feita em estado sinodal, porque esta formação não pode ser uma mera transmissão de conceitos, ou seja, transmitir uma nova eclesiologia de comunhão que está na base da vida sinodal. Não basta isto. É necessário que esta formação para a sinodalidade passe pelo exercício concreto da sinodalidade. Por isso, dizemos que numa paróquia para que haja de facto uma formação de todos para a sinodalidade importa criar e valorizar os diferentes conselhos e estruturas de sinodalidade, criar eventos e momentos e processos que sejam sinodais na paróquia onde as pessoas sentem-se envolvidas a participar e aí desenvolvam essas competências sinodais. E se isto é necessário no todo da Igreja como formação, mais ainda naqueles que têm uma função de liderança decisiva no modo como as paróquias se estruturam. Infelizmente, ainda muitas vezes a paróquia vive à imagem do seu pároco, porque é ele que tem a missão de presidir a essa comunidade e está bem, ele tem a missão de presidir ao discernimento comunitário, de presidir à tomada de decisão, mas que envolva todos. E para isso é necessária uma renovada formação que começa na formação inicial dos seminários até à formação permanente do clero e só assim podemos ver um modelo de pastor mais incarnado no tempo em que vivemos”, declara o sacerdote.
Recordemos que o padre Sérgio Leal no passado mês de fevereiro concluiu o seu doutoramento em Teologia Pastoral, em Roma, com uma tese intitulada “Pastores para uma Igreja em saída”. Este trabalho académico centralizou o seu objeto de estudo no exercício do ministério pastoral numa Igreja sinodal.
“O Ministério Pastoral numa Igreja Sinodal ao Serviço da Evangelização e da Missão para uma Permanente Conversão Pastoral e Missionária em Portugal” é o subtítulo da tese agora apresentada pelo padre Sérgio Leal na Pontifícia Universidade Lateranense, sendo que em 2018 aí se licenciou com um texto sobre a sinodalidade como estilo pastoral, tema do qual, aliás, é um dos principais especialistas mundiais de língua portuguesa.
As conclusões desta grande assembleia de párocos de todo o mundo vão ser contributo relevante para a elaboração do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho para a segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos do próximo mês de outubro.
Laudetur Iesus Christus
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