Custódio da Terra Santa reza na Igreja da Natividade em Belém. Custódio da Terra Santa reza na Igreja da Natividade em Belém.  (AFP or licensors)

"Com as feridas ainda sangrando, não é hora de falar de política", diz cardeal Pizzaballa

“Temos católicos do Vicariato hebraico servindo no exército em Gaza, e católicos sendo bombardeados em Gaza. Não é fácil”, sublinhou o Patriarca durante o encontro com uma delegação da Ajuda á Igreja que Sofre. “Devemos deixar a política de lado, reunir-nos, rezar juntos (...).. Reconhecer o sofrimento do outro não é tão simples quando se está sofrendo".

Filipe Avillez - Ajuda à Igreja que Sofre

A situação na Terra Santa continua dramática, sem perspectivas de melhora a curto prazo. Neste contexto, o Patriarca Latino de Jerusalém, cardeal Pizzaballa, pediu aos cristãos que fizessem uma pausa nas discussões políticas e rezassem juntos.

Em um encontro com uma delegação da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, sigla em inglês -  em visita à Terra Santa de 15 até este dia 19 de julho para manifestar a sua solidariedade aos cristãos da região e acompanhar os projetos de ajuda à Igreja local -, o Patriarca explicou que a situação “é tão polarizada que, se estiveres próximos dos palestinos, os israelenses sentem-se traídos e vice-versa. Quando menciono o sofrimento de Gaza, os católicos hebreus falam-me das zonas afetadas pelos atentados de 7 de outubro e, por outro lado, os palestinos só pensam em Gaza. Todo mundo quer ter o monopólio do sofrimento.”

O Patriarcado Latino de Jerusalém está dividido em seis Vicariatos: Jordânia, Israel, Chipre e Palestina – incluindo a Cisjordânia e Gaza. Além disso, existem dois vicariatos: um para católicos de língua hebraica, composto por cerca de 1.000 pessoas, e outro para migrantes e requerentes de asilo, que chegam a dezenas de milhares.

“Temos católicos do Vicariato hebraico servindo no exército em Gaza, e católicos sendo bombardeados em Gaza. Não é fácil”, sublinhou o Patriarca durante o encontro. “Devemos deixar a política de lado, reunir-nos, rezar juntos”, acrescenta. “Mas, agora que as feridas sangram, não é hora de falar de política. Reconhecer o sofrimento do outro não é tão simples quando se está sofrendo", afirma o Patriarca.

A solução, segundo o cardeal Pizzaballa, não consiste em uma falsa neutralidade, mas ao mesmo tempo é importante que a Igreja não se deixe arrastar para o conflito: “Eles continuam me dizendo que devo ser neutro. Acompanhe-me a Gaza, fale com as pessoas que perderam tudo, e depois me diga ser neutro. Isso não funciona. Mas não podemos fazer parte do confronto político, militar, nem do confronto”, explica o cardeal. "A nossa presença deve ser construtiva, mas não é fácil encontrar o caminho correto".

O Patriarcado está fazendo tudo o que pode para ajudar a pequena comunidade cristã em Gaza, mas a situação é tão instável que isso é extremamente difícil. Pode levar semanas para que a ajuda chegue à região e a realidade no terreno é tão fluida que é impossível fazer planos a longo prazo.

“É muito difícil fazer algo pelo futuro de Gaza, mas ainda temos prioridades”, assegura o Patriarca. “Todas as escolas estão destruídas ou são usadas como refúgios. As crianças já perderam um ano de estudos, mas as famílias querem educação, motivo pelo qual estamos tentando introduzir caravanas para que sirvam de escolas. No entanto, temos de encontrar professores e trabalhar com o que resta das autoridades palestinianas."

A maior taxa de desemprego da história da Cisjordânia

 

Ao contrário do que grande parte do mundo pensa, Gaza não é a única crise na Terra Santa. “Todos estão concentrados em Gaza, onde se está cometendo um verdadeiro crime e a situação é catastrófica, mas a situação na Cisjordânia também é dramática”, afirma o cardeal Pizzaballa. “A maioria dos cristãos dependia do turismo e agora não há trabalho com os peregrinos e aqueles que trabalharam em Israel já não têm autorização para entrar. Assistimos à maior taxa de desemprego da história, 78%, especificamente, entre os cristãos.

A ACN vem apoiando projetos na Terra Santa há muitos anos, mas a ajuda aumentou consideravelmente após os ataques de 7 de outubro contra Israel que desencadearam a guerra atual. A ACN foi uma das primeiras organizações a oferecer ajuda ao Patriarcado Latino. “Jerusalém e a Terra Santa são sempre lugares difíceis de viver”, explica o Patriarca. “São maravilhosos, porque o cristianismo nasceu aqui, mas também são muito difíceis, especialmente neste período de guerra, onde enfrentamos muitos desafios. Quero expressar o meu “obrigado à ACN e a todos os seus benfeitores por ajudarem a nossa Igreja a continuar a viver através de atividades pastorais, apesar da emergência”, disse agradecido o purpurado, acrescentando que “esta proximidade e presença concreta entre nós é uma bênção, assim como o apoio e a solidariedade da Igreja universal à Igreja Mãe de Jerusalém”.

 Embora a fundação tenha fornecido ajuda de emergência e financiado um programa de criação de emprego, o cardeal Pizzaballa sublinhou que continua a ser particularmente importante que a ACN esteja disposta a ajudar a financiar mais programas pastorais para fortalecer a fé das pessoas. “Vocês estão presentes quando as coisas ficam difíceis. Nas atividades pastorais, nos acampamentos de verão e em outras atividades para as quais nem sempre é fácil arrecadar fundos. Muitas vezes, as pessoas que ajudam querem ver o seu nome escrito em uma placa, porém a ajuda e a formação não pode ser reconhecidas em uma placa comemorativa."

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19 julho 2024, 11:34