Encerrado o V Encontro da Igreja na Amazônia Legal: momento de discernimento comum
Padre Modino – Regional Norte 1 da CNBB
Um encontro que à luz das leituras da Festa de Nossa Senhora Rainha, nos leva a “despertar em nós algumas atitudes”, segundo o arcebispo de São Luiz (MA) e presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O arcebispo refletiu sobre quatro atitudes, sendo a primeira a alegria, “ajudar a nosso povo a vir à luz, a encontrar a luz”. Ele lembrou as partilhas ao longo do encontro, “as nossas dificuldades, os nossos desafios: o individualismo, clericalismo, a espiritualidade desencarnada da realidade, a ameaça do Marco Temporal, a situação do agronegócio, da monocultura, da mineração destruindo a casa comum e a vida das pessoas”, e diante disso, “o Senhor nos pede que não percamos a alegria, sem alegria a vida se torna difícil e dura”, e ter consciência que “nós estamos solidários uns com os outros”.
Uma segunda atitude é “essa certeza de que o Senhor está contigo, Deus nos acompanha e também nos defende, e nos proporciona sempre o bem”, sobretudo quando caminhamos juntos. Como terceira atitude, dom Gilberto ressaltou “não temas, não tenhais medo de uma história difícil”, advertindo sobre os muitos medos, dentre eles o medo à missão, ao fracasso, à doença, à morte, podendo “sentir medo de nossas incompreensões e incoerências”. Por isso, o presidente da CEA sublinhou que “o medo sufoca a vida, paralisa as forças, nos impede de caminhar”.
Finalmente, a exemplo de Maria, acolher a graça de Deus e nos deixamos conduzir por ela, “despertar em nós a confiança em Deus e a alegria de sabermos acolhidos por Ele”, e nos deixarmos ser acompanhados por Deus. O arcebispo afirmou que “só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem, em solidariedade com os que choram. Só pode ser feliz para acordar felizes os outros”.
Os compromissos nascidos do V Encontro da Igreja na Amazônia Legal, estruturados em passos, pistas e responsáveis, são divididos em seis caminhos: Caminhos da formação; Caminhos da ministerialidade; Caminhos de Participação das Mulheres; Caminhos do cuidado da Casa Comum; Caminhos da corresponsabilidade e sustentabilidade; Caminhos da Caridade e a Profecia.
Igreja na Amazônia e a COP30
Para a Igreja na Amazônia a COP30, que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025, tem uma grande importância. A Conferência das Partes é o encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em vista do debate e das soluções. A Igreja do Brasil, que em 2025 terá como tema da Campanha da Fraternidade a Ecologia Integral, está se mobilizando em vista da COP 30, e tem criado uma equipe de coordenação.
O Papa Francisco, na Laudate deum, afirma que “as alterações climáticas são um dos principais desafios que a sociedade e a comunidade global têm de enfrentar”. Nessa perspectiva, a Igreja do Brasil quer “fortalecer o grau de incidência da Igreja em vista da conversão ecológica e da transformação socioambiental do planeta, à luz da Doutrina Social da Igreja.” Foram apresentados os atores e escalas, os cenários, as diretrizes e as ações previstas. Durante a COP30 está previsto a realização do Jubileu da Igreja da Amazônia, com diversas atividades que estão sendo propostas a ser realizadas no tempo da COP.
Uma Igreja que, em palavras do bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, tem “a admiração pela perseverança diante de desafios tão difíceis”, da Igreja do Brasil. É por isso, que ele manifestou seu compromisso de partilhar com o resto da Igreja do Brasil a realidade da Igreja da Amazônia.
Dom Gilberto Pastana encerrou o encontro agradecendo a participação, a partilha, a colaboração e o discernimento comum em obediência ao Espírito, em um processo que tem que nos levar a uma conversão permanente, na pastoral, no relacionamento e nas estruturas, sempre ao serviço da vida, a assumir a missão da Igreja em sinodalidade. Palavras que antecederam a celebração de envio, encerrada com a benção de um dos grandes profetas da Igreja da Amazônia, o bispo emérito do Xingú, dom Erwin Kräutler.
Carta Compromisso
Na Carta Compromisso no final do encontro dizem ter se reunido “para reafirmarmos a caminhada que nossos antecessores começaram de modo colegial e, hoje, somos nós que prosseguimos como peregrinos da esperança”.
Um encontro iluminado pela “memória da caminhada sinodal da Igreja na Amazônia”, que lembrou a importância do Encontro de Santarém 1972, que convidou “a uma conversão ao Verbo Encarnado que exigiu da Igreja um total entrosamento com a realidade”. Diante dos apelos de hoje, que ajudam a acolher os avanços e desafios, inspirados no Sínodo para a Amazônia e no Encontro de Santarém de 2022, surgem caminhos de encarnação na realidade e evangelização libertadora, em vista da formação, da ministerialidade, do cuidado com a casa comum, da corresponsabilidade e sustentabilidade, da caridade e profecia. Tudo isso com ferramentas e meios para bem ler os sinais dos tempos a abrir a novos horizontes.
Não se limitar a novos temas, e sim “um novo jeito de ser Igreja, em pequenas comunidades inseridas no chão da Amazônia, que evangelizam pelo testemunho, pelo serviço e pelo anúncio do Evangelho”. Uma Igreja de processos e não de eventos, com homens e mulheres capazes de dar a vida até o fim, que está junto do povo e luta com o povo por seus direitos, corajosa. Uma Igreja com mulheres que já exercem a diaconia na animação e coordenação das comunidades.
Uma Igreja que quer construir o Rito Amazônico, e que é envolvida pelo Espírito no cuidado com a Casa Comum, na defesa da vida dos povos e, sobretudo, dos pobres da terra e das águas, dos migrantes, os mais atingidos com as mudanças climáticas. Uma Igreja comprometida na defesa dos povos originários, que se sente chamada a alimentar a esperança e dar respostas ousadas e sem medo aos desafios.
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