Conselho de Igrejas do Oriente Médio condena “agressão global” no Líbano
A escalada militar em curso no Líbano transformou-se “em uma agressão global contra várias regiões libanesas, com o consequente sacrifício de milhares de cidadãos e no deslomento de centenas de milhares de pessoas” da parte sul do país e do vale do Bekaa. Trata-se de “crimes” que “indicam o desprezo das forças de agressão pelos princípios do direito internacional, pelas regras das Convenções de Genebra e por todas as convenções que regulam os conflitos armados”.
A denúncia é do Conselho de Igrejas do Médio Oriente (MECC), o organismo ecumênico com sede em Beirute que, por meio de comunicado, também pede "à comunidade internacional que intervenha o mais rapidamente possível e expresse uma posição clara que condene os crimes de guerra contra civis com o lançamento de ataques, destruindo sistematicamente propriedades e interrompendo o fornecimento de alimentos e saúde.”
Diante dos trágicos acontecimentos no Líbano, o MECC realizou uma reunião de emergência do Secretaridoa Geral, presidida pelo secretário geral, o professor cristão ortodoxo libanês Michel Abs. Os participantes da reunião rezaram juntos pela paz e discutiram “questões humanitárias urgentes e formas de apoiar as famílias”.
No comunicado, sem nomear o exército israelita, o MECC “condena veementemente a morte de pessoas inocentes, crianças, mulheres, idosos e outros civis, e deplora os ataques conduzidos pelas forças de agressão em áreas densamente povoadas que levaram à morte de cerca de 500 pessoas em um único dia e o deslocamento de centenas de milhares de cidadãos das suas áreas de assentamento."
O texto também faz o pedido para que seja fornecida “proteção internacional aos civis para que organizações e associações possam fornecer-lhes os materiais necessários para uma vida digna."
Durante o encontro, os participantes também criaram um grupo de trabalho para coordenar iniciativas no terreno destinadas a apoiar as famílias deslocadas das suas áreas.
“Vivemos todos em uma condição em que se misturam angústia, dor, raiva e medo”, relata à Agência Fides o sacerdote maronita Rouphael Zgheib, diretor das Pontifícias Obras Missionárias libanesas e professor da Universidade São José dos jesuítas. “A incerteza sobre o que nos espera também pesa sobre tudo. Não se consegue entender quem pode fazer parar tudo isso e se os ataques são apenas o começo”.
Os bombardeamentos do exército israelense têm como alvos possíveis bases do partido xiita Hezbollah. Uma estratégia que atinge há dias até mesmo pequenos enclaves e povoados xiitas em áreas predominantemente habitadas por cristãos.
“Esta manhã - relata à Fides padre Rouphael Zgheib na quarta-feira - o pequeno vilarejo xiita de Maaysra foi bombardeado, na região de Keserwan, área histórica de assentamento de comunidades católicas. É um povoado que fica a poucos quilômetros da sede do Patriarcado Maronita, em Bkerké”.
Os bombardeamentos no centro do Líbano têm o efeito de difundir o medo por toda a população. A desconfiança e a suspeita também aumentam, depois de terem transformado pagers e walkie talkies em dispositivos mortais, tornando potencialmente perigoso até mesmo falar ou estar perto de pessoas pertencentes à comunidade xiita, direta ou indiretamente ligadas ao Hezbollah.
“Esta situação de incerteza - acrescenta o padre Zgheib - afeta também as iniciativas de resgate dos deslocados e feridos. Os hospitais estão em colapso, não estavam preparados para atender a quantidade de pessoas feridas no rosto e nos olhos por pagers que viraram explosivos. Igrejas e escolas estão abertas para acolher pessoas deslocadas, há muitas iniciativas individuais de solidariedade para com os cristãos e muçulmanos que fogem do sul e de outras áreas afetadas. Mas esta solidariedade espontânea coexiste com sentimentos de desconfiança. A propaganda e as polarizações políticas dos últimos anos insinuaram suspeitas e desencadearam ataques mútuos entre as diferentes partes que se acusam mutuamente de “trair o Líbano” e de ser um desastre para o país. A crise econômica também restringiu a vontade de ajudar os necessitados. E isso leva muitos a ajudar apenas membros de sua própria rede familiar e grupo confessional”.
*Agência Fides
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