O arcebispo Baldo Reina, vigário para a diocese de Roma, recorda a figura de Pe. Pedro Arrupe O arcebispo Baldo Reina, vigário para a diocese de Roma, recorda a figura de Pe. Pedro Arrupe 

Padre Arrupe: o carisma inaciano sob o signo do Vaticano II

O encerramento da primeira fase da causa de Beatificação do 28º superior'geral da Companhia de Jesus, no Palácio de São João de Latrão, em Roma, foi em 14 de novembro. O vigário geral para a diocese de Roma, dom Baldo Reina, recordou a sua coragem, clarividência, humildade, zelo missionário e amor pelos pobres, sempre em obediência à Igreja e aos Papas. Animado por uma capacidade criativa e não-dirigista de governar, Pe. Arrupe jamais descuidou da oração, que era a “sua prioridade”.

Antonella Palermo - Vatican News

“Um profeta corajoso da renovação conciliar”: eis o aspecto peculiar, entre muitos, que, no último dia 14 de novembro, no Palácio de Latrão, em Roma, foi destacado sobre a vida do Servo de Deus, Padre Pedro Arrupe Gondra, 28º Superior geral da Companhia de Jesus. Por ocasião do seu aniversário de nascimento em Bilbao, em 1907, - após mais de cinco anos da abertura do inquérito sobre a vida, virtudes, fama de santidade e gestos do jesuíta espanhol, - terminou, em Roma, a fase diocesana do seu processo de Beatificação. Todos os documentos e atas processuais foram sigilados, prontos para serem encaminhados ao Dicastério das Causas dos Santos.

Lealdade e obediência à Igreja e aos Papas

Após as declarações rituais, por parte do tabelião atuário, Marcello Terramani, - na presença do Vigário diocesano, Dom Baldo Reina, dos membros do Tribunal diocesano, Dom Giuseppe D'Alonzo, delegado episcopal, e de Dom Giorgio Ciucci, Promotor de Justiça – foi lido um longo texto sobre a memória desta figura extraordinária para a história da Igreja. Segundo Dom Baldo, a prioridade da sua missão foi a defesa e a prática do Concílio Vaticano II, sempre em espírito de lealdade e obediência à Igreja e aos Papas. O arcebispo fez suas as palavras do Padre Konvelbach, sucessor de Pedro Arrupe à frente da Companhia, que recordou a sua franqueza e audácia: “Para o Padre Arrupe, o quarto voto característico dos Jesuítas ao Pontífice foi vivido, não apenas com convicção intelectual ou elemento tradicional, mas como profunda adesão afetiva. O realismo do seu caráter ajudou o sacerdote nos momentos não fáceis da 32ª Congregação Geral: ele concebeu aquela fase Conciliar como oportunidade para uma maior purificação do espírito dos Jesuítas.

Estilo de governo não dirigista, mas criativo

O Arcebispo Reina acrescenta: “O constante esforço do Padre Pedro Arrupe foi o de uma compreensão atualizada da consagração e dos votos, como também da vida comunitária, da missão e da vida espiritual, dos quais a difusão da espiritualidade inaciana, sobretudo, graças aos Exercícios Espirituais do Fundador, obteve vantagem. O modelo ideal de Superior Geral, que Padre Arrupe tinha em mente, era o de um homem capaz de passar de uma atitude crítica e dirigista para alguém que inspira, anima, encoraja e promove novas ideias, como explica ainda o Vigário diocesano: “Ele acreditava na força geradora de confiança. Por isso, optou por acreditar em seus homens, valorizando o que havia de melhor em cada um, a ponto de assumir o risco de não ser compreendido ou enganado”.

JRS e a opção preferencial pelos pobres

Em sua intervenção, o Arcebispo Reina deteve-se ainda na “opção preferencial pelos pobres”, que levou Arrupe a ser um farol e pioneiro, e a nutrir também um profundo amor aos oprimidos pela pobreza, injustiça, ignorância e desespero. A maior herança que o Padre Arrupe deixou à Igreja é o “Serviço Jesuíta aos Refugiados” (JRS), fundado em 1980 e presente em 58 nações. Nacho Eguizábal, vice-diretor desta obra internacional, falou aos meios de comunicação vaticanos, sobre a urgência de voltar aos ensinamentos do então Prepósito-geral da Companhia de Jesus, em um mundo, como o nosso, que “está se submetendo ao temor de ser acolhedores”. Se Padre Arrupe estivesse vivo ainda hoje, ele nos encorajaria a abrir o nosso coração, a pôr em prática a hospitalidade e a partilha, que fazem melhorar a nossa vida; ele estaria em plena sintonia com o que o Papa Francisco sempre repete: estar ao lado dos migrantes”.

Japão e inculturação

O Arcebispo Vigário-geral para a Diocese de Roma não deixou de ressaltar ainda o “grande zelo evangelizador” do Padre Pedro Arrupe, segundo um estilo de inculturação, no mútuo respeito das especificidades locais. O prelado recordou também aos meios de comunicação vaticanos o testemunho de Miki Hayashi, na fase de investigação diocesana: uma estudante japonesa da Universidade Gregoriana, convertida do Budismo ao catolicismo, graças ao carisma inaciano, que, desde criança, respirava em seu país. Precisamente o Japão era um dos lugares mais desejados e queridos pelo Padre Arrupe para realizar a sua missão. De fato, ele chegou àquele país em 1938 e ali permaneceu por 27 anos. Naquela época, com a explosão da bomba atômica em Hiroshima, foi fundado um hospital de campo na sede do noviciado dos Jesuítas, que socorreu cerca de 200 pessoas.

Os documentos nas caixas sigiladas
Os documentos nas caixas sigiladas

Oração como prioridade

Padre Pedro Arrupe, promotor do diálogo inter-religioso, convida a manter boas relações com os não-cristãos e encoraja os leigos a assumir suas responsabilidades, tanto nas escolas da Companhia de Jesus quanto nas Associações internacionais, como as "Comunidades de Vida Cristã" e o "Apostolado da Oração", hoje "Rede Mundial de Oração do Papa". A capacidade de não perder a serenidade e o equilíbrio interior ajudou muito o Servo de Deus a enfrentar os momentos mais críticos do seu governo. Além do mais, como o atual Prepósito-Geral, Padre Arturo Sosa Abascal, ressaltou comovido aos nossos microfones: “Arrupe é um modelo para os que buscam um álibi na oração. Aos que lhe perguntavam como encontrava tempo para se retirar em diálogo diário, prolongado e íntimo com o Pai, respondia com franqueza: é simples questão de prioridades”. Eis a força vital que acompanhou este Jesuíta até o fim, a partir da qual se desenvolveu a coerência entre palavras e obras, a capacidade de discernimento e de uma vida contemplativa na ação, que constituem os pilares do carisma de Inácio de Loyola. As 150 comunidades, casas, obras apostólicas, lugares educativos, programas, prêmios, centros pastorais, instituições de caridade, ruas que recebem seu nome, no mundo inteiro, dão testemunhos da sua obra.

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19 novembro 2024, 14:05