Geralmente jovens e qualificados profissionalmente, não têm trabalho e comida em seu país Geralmente jovens e qualificados profissionalmente, não têm trabalho e comida em seu país 

Quem são os venezuelanos que migram para o Brasil?

Entrevista com a Irmã Telma Lage, religiosa missionária de Nossa Senhora das Dores, coordenadora do Centro de Migrações e Direitos Humanos (CMDH) da Diocese de Boa Vista (RR)

Cristiane Murray - Cidade do Vaticano

A capital do estado de Roraima está assistindo a uma onda de migração venezuelana jamais vista no passado. A cidade de 350 mil habitantes ganhou nos últimos meses 40 mil novos moradores que chegaram em busca de refúgio e moradia em decorrência da crise econômica e humanitária em seu país.

Desesperados, dezenas de milhares de venezuelanos atravessam a fronteira para o Brasil tentando escapar de uma economia em ruínas. Muitos compram alimentos e remédios e voltam, mas outros percorrem a pé os 200 km que separam Paracaima de Boa Vista, onde se instalam para encontrar empregos e ganhar dinheiro para alimentar suas famílias.

Irmã Telma Lage, religiosa missionária de Nossa Senhora das Dores em Boa Vista, coordena o Centro de Migrações e Direitos Humanos (CMDH) da diocese, que oferece assistência inicial a estas pessoas: fornece e ajuda a completar o formulário para a documentação exigida para a regulamentação migratória e acompanha aqueles que solicitam a residência temporária.

“Com projetos, parcerias e a solidariedade de muitos, conseguimos também oferecer cestas básicas, roupas, calçados, livros, brinquedos e aulas de português para facilitar a sua comunicação”, diz a religiosa.

Quem são os migrantes venezuelanos que querem uma vida melhor em nosso país?

“São jovens com qualificação profissional, em maioria com pessoas que dependem de suas rendas. Atravessam momentos de dificuldade por não encontrarem empregos adequados e não terem sua situação  laboral formalizada”.

“Geralmente têm pessoas que eles precisam sustentar, e lá na Venezuela não dão conta. Houve um período de grande desabastecimento de alimentos na Venezuela e agora, mesmo onde há alimentos, têm um valor que eles não conseguem pagar”.

“Não são pessoas acostumadas a pedir, mas a trabalhar e a se sustentar. Boa Vista não tem campo de trabalho para a maioria destes migrantes, além do fato que embora muitos tenham formação universitária, não conseguem regularizar sua situação laboral porque o processo de validação do diploma é muito complexo e caro”.

“O que vemos são pessoas implorando por trabalho, por comida, por ajuda. Precisam ser reconhecidos como pessoas que têm condições de gerar vida e se sustentar, mas não têm a oportunidade”

“Muitas vezes as pessoas se preocupam com números... quantos mil entraram, quantos mil saíram... Para mim, neste momento, é muito importante, mais do que os números, enxergar as pessoas que estão por trás destes números, porque são homens e mulheres que precisam ser enxergados como nossos irmãos e irmãs, independente de falarem português ou espanhol. O sofrimento, a carga emocional que estão trazendo é muito pesada e eles precisam de suporte para superar este momento”. 

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01 novembro 2017, 08:16