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Myanmar: marcha pela paz dos católicos de Kachin

Agrava-se o conflito armado entre o exército de Myanmar e os rebeldes de Kachin. Há quase dois meses, mais de 1.300 refugiados são reféns do exército e usados como escudos humanos. Para a ONU, “Kachin é uma crise humanitária esquecida”. Os cristãos acusam: “É um verdadeiro genocídio”.

Cidade do Vaticano

Milhares de católicos realizaram uma caminhada pelas ruas de Myitkyina, capital do Estado de Kachin, em nome da paz em Myanmar. Em 24 de maio passado, a diocese havia publicado uma carta em que convidava todos os cidadãos para uma marcha de oração.

O documento – refere a Agência Asianews – esclarecia que não seria uma manifestação política. Na segunda-feira (28/05), Dom Francis Daw Tang, bispo da cidade, conduziu a procissão e rezou com os manifestantes, entre os quais havia muitos protestantes e não cristãos. É a primeira vez que os católicos Kachin fazem um gesto público, nas ruas, pela paz: a situação alarmante fez com tomassem essa iniciativa.

O exército não permitiram a fuga dos civis da área de conflito

Desde abril de 2017, no norte e leste de Myitkyina continuam os combates armados entre o exército birmanês e os rebeldes de Kachin Independence Army (Kia). O exército étnico da minoria Kachin, conta com um grande número de cristãos, dos quais 40% católicos e 60% batistas. Geralmente os habitantes dos vilarejos das áreas de conflito podem fugir e procurar um refúgio. Todavia, desta vez o exército governamental não permitiu que os civis desalojados pudessem se refugiar. As forças armadas de Naypyidaw  detiveram os civis como reféns nas proximidades das bases militares, como escudos humanos, para impedir o ataque do exército rebelde de Kachin.

Mais de 1.300 refugiados detidos como reféns pelo exército

Expoentes e organizações civis fizeram várias tentativas para salvar-lhes, mas o comandante chefe das tropas do Norte impediu até mesmo a intervenção do primeiro ministro do Estado de Kachin. A única intervenção que teve sucesso foi a do Ministro do Bem-Estar Social de Naypyidaw. De 1.500 desalojados que ficaram bloqueados nos conflitos, cerca de 150 foram autorizados a irem para os campos de refugiados. Há quase dois meses, mais de 1.300 refugiados estão detidos como reféns pelo exército, sob a chuva tropical e o gélido clima de montanha. Um relatório das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (UNOCHA) publicado no mês passado revela que, durante a última fase do conflito em Kachin, entre abril e maio o número de desalojados detidos na região tiveram aumento de 5 mil unidades.

Manifestações em todo país pela libertação dos civis

Nas últimas semanas foram realizadas várias manifestações para pedir a libertação dos civis. Em Myitkyina, numerosos cristãos protestam dia e noite pela libertação dos reféns detidos. No dia 16 de maio os ativistas pelos direitos civis reuniram-se de modo pacífico em Yangon, mas as forças de segurança governamentais prenderam cerca de 20 pessoas, e muitos foram processados.

ONU: o conflito em Kachin “uma crise humanitária esquecida”

Depois de uma missão de seis dias em Myanmar, o Secretário geral adjunto para os Assuntos humanitários da ONU e o Vice-coordenador para emergências, definiram o conflito de Kachin “uma crise humanitária esquecida”. Enquanto que o jornal britânico Guardian definiu “um lento genocídio” e em Washington, muitos exilados birmaneses fizeram uma greve de fome pelos desalojados, exclamando ao governo dos Estados Unidos que em Myanmar está acontecendo um verdadeiro e próprio genocídio de cristãos”.

A preocupação dos bispos de Myanmar

Durante as operações militares, em abril passado, as tropas do Governo bombardearam várias cidades dos rebeldes Kachin como Laiza e Maija Yang. Além disso, o Governo de Myanmar continua a impor severas restrições às ajudas humanitárias para a população. Apesar das tensões, na primeira semana de maio os bispos de Myanmar foram ao Vaticano para uma visita ad limina. Os bispos de Kachin manifestaram a própria preocupação pelos desalojados e pela paz em Myanmar também em um encontro com o Secretário de Estado do Vaticano e o governo francês, durante a visita ao Santuário mariano de Lourdes.

O conflito retomou depois de 17 anos de trégua

Com fronteiras para a China e a Índia, o Estado de Kachin foi abalado por uma retomada do conflito entre o exército e os rebeldes desde 2011, quando foi suspenso o acordo bilateral de cessar fogo que tinha durado 17 anos. Os conflitos causaram centenas de mortes e cerca de 150 mil desalojados, grande maioria formados por cristãos, que ainda vivem em condições miseráveis nos campos de refugiados da região. A população de Myanmar e a de etnia Shan, ao invés, foram poupadas das ações do exército. Por isso muitas fontes internacionais consideram que por trás deste conflito exista uma motivação étnico-religiosa contra a minoria cristã de Kachin.

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30 maio 2018, 11:41