Imagem escolhida pelo Papa Francisco para denunciar "o fruto da guerra" Imagem escolhida pelo Papa Francisco para denunciar "o fruto da guerra" 

Tensões EUA-Rússia sobre mísseis nucleares: potencial devastador

“A posição que a Igreja tomou com o Papa Francisco, de aderir e apoiar a iniciativa pela abolição das armas nucleares”, com referência ao Tratado sobre a proibição destas armas, é profética. A Santa Sé assinou o documento em 20 de setembro de 2017 na sede da Onu, em Nova York, entregando contextualmente o respectivo instrumento de ratificação.

Cidade do Vaticano

De um lado os EUA, que com o presidente Donald Trump anuncia querer abandonar o histórico Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, conhecido como Tratado INF (do inglês: Intermediate-Range Nuclear Forces), assinado  pelos EUA e União Soviética em 1987; de outro a Rússia que, diante das palavras do chefe da Casa Branca, fala de um passo “muito perigoso”, apesar de no passado Moscou ter sido criticada por violações aos compromissos assumidos 31 anos atrás.

Profética posição tomada pela Igreja com Francisco

Risco de uma nova guerra fria e ulterior corrida armamentista

A Imprensa internacional evidencia o risco do início de uma nova guerra fria e de uma ulterior corrida armamentista, com um cenário que envolveria outros países, entre os quais a China.

“Encontramo-nos diante de um potencial atômico devastador”, afirma o responsável pelo dossiê italiano “Desarmamento”, publicado pela editora Città Nuova – expressão do Movimento dos Focolares.

“É um equilíbrio instável diante do qual é profética, mas é sobretudo necessária – face a uma tendência irresponsável para a guerra – a posição que a Igreja tomou com o Papa Francisco, de aderir e apoiar a iniciativa pela abolição das armas nucleares”, com referência ao Tratado sobre a proibição das armas nucleares.

A Santa Sé, com o secretário das Relações com os Estados, o arcebispo Paul Richard Gallagher, assinou o documento em 20 de setembro de 2017 na sede da Onu, em Nova York, entregando contextualmente o respectivo instrumento de ratificação.

Um acidente poderia desencadear uma guerra

Várias vezes o Papa Francisco e, em geral, a Santa Sé reiteraram em âmbitos internacionais a necessidade de um mundo livre das armas atômicas.

A atenção sobre o tema foi despertada em janeiro passado por uma imagem, escolhida pelo Pontífice para denunciar “o fruto da guerra”, distribuída aos jornalistas no voo para o Chile, que teve ampla repercussão: uma reprodução de uma foto tirada em Nagasaki em 1945 pelo estadunidense Joseph Roger O’Donnell, que mostra um garoto à espera de poder cremar o irmãozinho menor morto no bombardeio atômico sofrido pela cidade japonesa.

Na ocasião Francisco manifestou sua preocupação com os riscos de uma guerra nuclear, afirmando realmente temer, numa situação que chegue ao limite: um acidente poderia desencadear uma guerra, ressaltou. A exortação, reiterada em outras ocasiões, foi a de se destruir as armas e trabalhar pelo desarmamento nuclear.

Advertência dos cientistas

“Encontramo-nos diante de um crescimento não mais controlável: qualquer tipo de desencadeamento em nosso território ou a nível mundial pode gerar um conflito do qual não nos damos conta”, evidencia Cefaloni.

“A Federação dos cientistas estadunidenses, que tem um modelo de referência, que é o relógio da meia-noite atômica, nos adverte continuamente de que estamos próximos daquela hora do holocausto nuclear”, frisa ainda.

Carlo Cefaloni evoca Thomas Merton, “ao qual – recorda ele – o Papa Francisco se referiu quando foi aos EUA”. O monge cisterciense “referia-se à paz e à guerra numa época pós-cristã, em que a pertença e obediência a Deus e à consciência do ‘não-matar’ se substitui à nossa ‘fé’ na bomba. Ou seja, é como um adormecimento das consciências e, no fundo, uma crença na salvação que vem da bomba”, prossegue.

Reconsiderar nossas políticas

A imagem de Nagasaki, difundida pelo Papa, “tenho diante de mim aqui na redação, porque embora traumática, evidencia a necessidade de se dar uma resposta àquele drama, àquela tragédia que podemos alimentar se todos não fizermos a nossa parte”, pondera Cefaloni.

Portanto, conclui ele, “ou nos damos conta de nos encontrar diante desta urgência ou, do contrário, corre-se o risco de se cair em referências genéricas. Se partirmos de ações que entram no específico e fazem referência a uma possibilidade de reconsiderar nossas políticas industriais, nossas políticas econômicas, nossa política externa, então talvez possamos incidir e possamos sair desse adormecimento da consciência”.

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24 outubro 2018, 12:53