Presidente nigeriano Muhammadu Buhari assina o acordo durante o summit da União Africana em Niamey Presidente nigeriano Muhammadu Buhari assina o acordo durante o summit da União Africana em Niamey 

África: nasce maior zona de livre comércio do mundo

Com a assinatura por parte da Nigéria e do Benin no domingo (07) sobe para 54 o número de países do continente africano que fazem parte do bloco econômico da Área de Livre Comércio da África continental (AfCFTA). Entrevista com o missionário comboniano Giulio Albanese.

Cidade do Vaticano

A Assinatura do Tratado Continental Africano de Livre-Comércio (AfCTA, sigla em inglês) por parte do Benim e da Nigéria - o país mais populoso e rico do continente - chegou no domingo (07) depois 4 anos de negociações. Somente a Eritreia ficou de fora, devido aos conflitos com a Etiópia, embora pareça que o recente reinício das negociações de paz esteja levando Asmara a pedir sua adesão.

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A aliança comercial tem como objetivo criar uma zona de circulação de bens sem taxas aduaneiras, semelhante à da União Europeia. Uma aliança comercial que poderá contribuir para a industrialização dos países africanos e a redução da dependência de outras potências econômicas, como a China ou a União Europeia. Um primeiro passo naquilo que poderá ser a criação de um mercado único .

Um passo significativo

Padre Giulio Albanese fala sobre o assunto: “É um mercado econômico das Áfricas, prefiro usar o plural porque é um continente três vezes maior que a Europa, porém não é a primeira tentativa. Já houve o Comesa (o Mercado Comum da África oriental e meridional), mas agora certamente trata-se de um passo significativo. Porém restam os problemas estruturais, pelos quais o risco é que se trate de uma iniciativa louvável, mas que no momento da aplicação resolva pouco”.

Grandes dificuldades a serem enfrentadas

Os países do continente africano, com efeito, devem enfrentar várias dificuldades. A maior de todas “é a questão do crescimento do PIB, até agora ligado fundamentalmente ao terciário e à venda – talvez seria melhor dizer liquidação – de matérias primas, recursos minerais e energéticos, sobretudo o petróleo. Há também a questão da dívida – prossegue padre Albanese – que continua a aumentar em todo o continente, apesar das iniciativas de 15 anos atrás do FMI, Banco Mundial e Banco Africano do Desenvolvimento que não só reduziram, até mesmo cancelaram em alguns casos. Ultimamente a dívida está crescendo novamente, estamos perto de 700 bilhões de dólares para a África subsaariana. É um fenômeno preocupante porque de fato, a dívida foi financiada, isso significa que o pagamento dos juros é ligado às especulações da bolsa de valores, um sistema que coloca os países africanos em grande dificuldade.”

O papel da Europa

"Enfim, há um terceiro aspecto que se refere aos grandes tratados internacionais como o EPA (Acordos de Parceria Econômica) que a Europa impôs aos países com os quais manteve relações de cooperação para o desenvolvimento, afirma padre Albanese. São acordos que estão penalizando muito os países do sul do mundo, em particular os africanos, porque as suas economias não têm condições de manter a competição com os países industrializados europeus”.

As Áfricas: uma grande terra de conquista

Portanto, um primeiro passo, mas que pode não ser suficiente. “Devemos considerar que na África o processo de industrialização deixa muito a desejar”, disse padre Albanese. Faltam estruturas e o pouco que foi feito recentemente é principalmente obra dos chineses. As Áfricas continuam a ser uma grande e ilimitada terra de conquista e o caminho ainda é longo”.

As migrações e o futuro

Impossível não pensar nas consequências que um aumento de riqueza e a estabilização de algumas áreas poderiam ter sobre o fenômeno migratório. A este propósito padre Albanese declara: “Na Itália o fenômeno é contado de modo errôneo. Olhando os números não deveríamos ser tão alarmistas, 75% da mobilidade humana permanece dentro do continente africano. Estamos falando de 24 milhões de pessoas. Certamente há um movimento que leva na direção do norte. Porém a reflexão deveria ocorrer em chave política considerando que a Europa está envelhecendo e portanto precisa de novas energias. Por outro lado é também verdadeiro que a mobilidade por parte dos africanos aumentará sem limite nos próximos anos. As Nações Unidas fizeram a previsão de que em 2050 a população africana será de cerca de 2,4 bilhões, em 2100 irá superar os 4 bilhões. Os fenômenos migratórios são inevitáveis, justamente por isso seria preciso tentar governá-los de modo inteligente, na lógica e no interesse comum”.

 

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09 julho 2019, 12:13