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Covid-19: o risco diário dos agentes de saúde dentro das ambulâncias

O aumento da carga de trabalho, mas também o risco de infecção pelo coronavírus caracteriza a atividade dos agentes de saúde na Itália, como aqueles do setor de transporte emergencial de doentes feito pela Cruz Vermelha e Companhia Ares 118. Uma tarefa difícil também do ponto de vista humano: “mas não nos sentimos heróis”, desabafa um médico do 118.

Fabio Colagrande, Andressa Collet – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco, nas missas diárias direto da Casa Santa Marta, tem agradecido especialmente o trabalho de médicos, enfermeiros e sacerdotes empenhados na assistência aos doentes de Covid-19, além de rezar pelas pessoas mortas nessa difícil tarefa. Nestes dias, uma atividade arriscada na Itália é também o trabalho de quem oferece o primeiro atendimento, como os voluntários da Cruz Vermelha e os agentes de saúde em serviço nas ambulâncias da Companhia Ares 118.

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A Cruz Vermelha de Tortona

 

A responsável pela Cruz Vermelha de Tortona, na Província de Alessandria, região do Piemonte, Patrizia Mauri, conta que estão ativos todos os dias, durante as 24h: “neste período, imaginem como somos bombardeados de ligações da central operativa do 118, tendo que acrescentar um meio especial dedicado só ao ‘transporte Covid’”.

A diocese de Tortona é muito ampla, pois vai da divisa da região da Ligúria àquela da Lombardia, na Itália, e a Cruz Vermelha local cobre um território entre os mais afetados pelo coronavírus no país. Uma das atuações, como conta Patrizia, foi contribuir à evacuação do Instituto das Irmãs Orionine, além de deslocar doentes que estavam no hospital de Tortona que se transformou num Covid-Hospital: “tudo foi coordenado pelo comitê central do 118 que chegava de Turim, com a administração municipal, a Cruz Vermelha e as equipes da Misericórdia”.

Olhares que não se esquecem

 

Uma das dificuldades dos voluntários da Cruz Vermelha nesta fase é encontrar dispositivos individuais de proteção para poder prestar socorro sem correr riscos. Patrizia, emocionada, conta, porém, que o maior desafio é de tipo humano: “eu, pessoalmente, trabalho dentro da ambulância e, quando levamos um doente, que deve deixar a família em casa... os olhares dos familiares, são olhares que não se esquece, pode acreditar”.

É preciso ficar em casa

 

A responsável pela Cruz Vermelha de Tortona confirma que ali, como em outros lugares, teve um atraso na percepção do risco por parte da população: “as pessoas não tiveram a consciência do perigo. Os comportamentos sempre foram bastante superficiais. Quase pensando que o inimigo não podia tocar a gente, que esse vírus fosse uma notícia que podia chegar só aos outros. Hoje, ao contrário, atinge sempre mais próximo a nós. Hoje de manhã, tive a notícia do falecimento de um colega de um outro comitê que tinha conversado na semana passada. Realmente é necessário que as pessoas entendam que as indicações dadas pelas autoridades são taxativas: é preciso ficar em casa”. Ficar em casa e deixar sair somente quem deve trabalhar, explica Patrizia: as forças de segurança, os profissionais da saúde, os voluntários das várias associações – todas pessoas preparadas para fazer esse tipo de serviço.

Ares 118 na região do Lazio

 

Há algumas semanas mudou inclusive a vida dos agentes sanitários que prestam serviço no transporte emergencial de doentes dentro das ambulâncias da Companhia Ares 118 em toda a Itália. O médico Manuele Berlanda, da região do Lazio, explica que “certamente tivemos uma carga de trabalho mais importante e, obviamente, aumentou o número dos pedidos de socorro potencialmente com risco de infecção. Todos os agentes estão particularmente empenhados a oferecer um serviço importante para a população, mas, também, obviamente a preservar a própria saúde”.

Os turnos de trabalho são sempre de 12 horas, mas se nota o aumento no número das ligações e das intervenções por patologias respiratórias ou de gripes que, obviamente, obrigam os agentes a usar dispositivos de proteção individual.

Resposta positiva na região

 

A população, explica Manuele, está respondendo de maneira positiva à gravidade do momento: “as pessoas ligam para o 118 ou ao pronto-socorro somente quando é realmente necessário. E isso nos ajuda”. De fato, aumentaram as intervenções pelas patologias respiratórias, mas diminuíram aquelas por doenças não graves, assim, fazendo o sistema funcionar de maneira mais fluida.

O trabalho dos médicos

 

Manuele pede, enfim, que, “como categoria dos agentes de saúde, não sejam esquecidos quando terminar essa fase. De não cair no anonimato toda a assistência diária que todo o sistema sanitário nacional oferece aos pacientes, mesmo antes da emergência do coronavírus”.

O mundo tem falado, e o próprio Papa Francisco também, que se trata de heroísmo o que fazem os médicos e enfermeiros no socorro aos doentes de Covid-19. “Nós não queremos ser chamados de heróis”, comenta o médico, que finaliza: “escolhemos fazer o nosso trabalho com abnegação e o fazemos diariamente mesmo antes da emergência do coronavírus. Esperamos que entendam que a nossa profissão é sempre arriscada e feita com empenho, inclusive, fora dos períodos de emergência”.

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30 março 2020, 10:29