Irã desafia pandemia e sanções
Andrea De Angelis, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Pouco se fala sobre o assunto, mas está entre os cinco países do mundo mais afetados pela pandemia, junto com a China, Itália, Espanha e Estados Unidos. O Irã tem mais de 20.000 casos de Covid-19 e, de acordo com os últimos números oficiais, quase 1.700 mortes. Um número destinado inevitavelmente a aumentar com o passar dos dias, o que o torna o estado mais afetado pela pandemia no Oriente Médio. Números impressionantes quando comparados com os dos países vizinhos, mas que já são conhecidos há algum tempo. Apesar disso, as sanções dos Estados Unidos continuam em vigor e novas sanções foram acrescentadas na semana passada, precisamente no dia 17 de março.
Os apelos da comunidade internacional
Não só a China, mas também a Rússia e o Paquistão. Multiplicam-se os apelos para que Washington bloqueie ou reduza as sanções durante a pandemia do Covid-19. Pequim salientou que as sanções são "contrárias ao espírito humanitário e um obstáculo às ajudas internacionais", enquanto a Rússia apontou o dedo contra a tentativa de fazer prevalecer razões geopolíticas sobre as emergências de saúde, como a que o Irã está vivenciando atualmente. Também o Paquistão fez ouvir a sua voz em apoio ao imediato levantamento das sanções. E nesta segunda-feira o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, disse que "o povo iraniano aprecia a crescente campanha global dos líderes de governo e da sociedade civil apelando para o levantamento das sanções impostas ilegalmente pelos Estados Unidos" contra o Irã. “Os Estados Unidos não estão escutando, obstruindo a batalha global contra o Covid-19", disse Zarif, "e o único remédio é desafiar as punições em massa dos Estados Unidos. Isto é um imperativo tanto moral como prático". Ainda nesta segunda-feira, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Iranianas, General Mohammad Hossein Baqeri, agradeceu à China pela ajuda médica recebida para enfrentar a emergência.
"É um dever remover as sanções"
"É necessário uma ação comum diante da pandemia, não certamente fazer prevalecer as razões de parte, e é por isso que devemos acabar com as sanções contra Teerã". Foi o que disse numa entrevista ao VaticanNews Andrea Plebani, professor da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão e especialista no Oriente Médio. Segundo Plebani, a situação poderia se tornar catastrófica se os números aumentassem, "mesmo se - sublinha - aqueles que temos sejam provavelmente inferiores aos contágios reais". O setor de saúde não está sujeito às sanções, mas o Irã não pode aceder aos mercados financeiros e, portanto, não consegue obter fornecimentos médicos do estrangeiro, além de sofrer um embargo petrolífero que o priva do seu principal recurso econômico. Tudo isto mostra como as sanções devem ser levantadas neste momento.
Não às ajudas
Há, porém, um fato que pode parecer paradoxal, como aponta Plebani na entrevista. O supremo líder religioso iraniano, o Ayatollah Ali Khamenei, recusou na semana passada a oferta de ajuda dos EUA na luta contra o coronavírus, recordando que Washington é o inimigo mais amargo de Teerã e duvida do seu apoio. Em um discurso transmitido pela TV - como refere a BBC - Khamenei teria se referido a uma teoria da conspiração, apontando o dedo contra os Estados Unidos. "Tais declarações mostram - sublinha Plebani - como a posição iraniana não seja, porém, ambígua diante de uma emergência deste tipo". A Casa Branca, por sua vez, tem reiterado nestas horas a sua vontade de ajudar o Irã.
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