Primeiras atrações da TV brasileira Primeiras atrações da TV brasileira 

Nos 70 anos da TV no Brasil, Igreja reforça sua presença

Fernando Morgado, professor, palestrante e consultor nas áreas de marketing, inteligência de mercado e comunicação, nos conta um pouco da participação da Igreja nestes 70 anos de TV Brasileira.

Fernando Morgado - Rio de Janeiro

Em 2020, a televisão completa 70 anos de atividades no Brasil. A Igreja exerceu – e exerce – papel importante ao longo de todo esse tempo. Aliás, os católicos começaram a se destacar na tela antes mesmo dessa mídia ter sido lançada oficialmente no país, em setembro de 1950.

70 Anos da TV Brasileira

Um frade foi uma das primeiras atrações da TV brasileira. José Mojica, artista mexicano que trocou os estúdios de Hollywood por um monastério no Peru, apresentou-se diante das câmeras da TV Tupi de São Paulo quando ela começou a operar de forma experimental, em julho de 1950. Esse espetáculo aconteceu no auditório do Museu de Arte de São Paulo, que, na época, funcionava na sede paulistana dos Diários Associados, grupo do qual a Tupi fazia parte. Trajando hábito franciscano, frei Mojica pregou e cantou acompanhado de uma orquestra. O religioso, inclusive, fez questão de escrever o roteiro do programa, colaborando ativamente com o patrocinador, a indústria de alimentos Peixe.

A Igreja também se destacou no começo de outro canal importante: a TV Rio. Ela foi inaugurada em julho de 1955, durante o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional. O evento, que reuniu milhares de peregrinos na Cidade Maravilhosa, foi transmitido ao vivo pela nova emissora, que cedeu todos os seus equipamentos para a comissão organizadora do congresso.

Como se nota, a evangelização pela TV não é um fenômeno recente. Outro exemplo disso é a "Santa Missa em seu lar". No ar desde fevereiro de 1968, trata-se do programa mais antigo em exibição na Globo e o terceiro mais longevo de toda a televisão brasileira. Nem um incêndio devastador foi capaz de interromper essa trajetória. Na noite de 27 de outubro de 1971, uma sexta-feira, o fogo lambeu estúdios e equipamentos do canal no Rio de Janeiro. Mesmo arriscando sua vida, um empregado da emissora enfrentou as labaredas e salvou a cruz que compunha o cenário da missa. Apesar das dificuldades, a Globo conseguiu promover sua celebração dominical naquela semana, ainda que de forma improvisada, em sua portaria, diante de uma multidão que se aglomerou na rua.

Uma das marcas da "Santa Missa em seu lar" era a fala de Dom Eugênio Sales. Durante muitos dos mais de 50 anos de programa, o então cardeal arcebispo do Rio de Janeiro aparecia no vídeo tratando de assuntos de interesse da Igreja e da sociedade em geral. Ao longo do tempo, a "Santa Missa em seu lar" ganhou algumas versões locais e, atualmente, é celebrada em São Paulo pelo padre Marcelo Rossi.

A primeira emissora de TV controlada por religiosos católicos foi a Difusora, de Porto Alegre. Ligada aos capuchinhos no Rio Grande do Sul, ela entrou no ar em 10 de outubro de 1969. A estreia contou com uma mensagem do papa São Paulo VI. Em termos históricos, a maior contribuição da Difusora foi gerar as imagens da Festa da Uva de Caxias do Sul, em fevereiro de 1972. Esse evento marcou a pré-estreia das cores na televisão brasileira. Oferecendo uma programação diferenciada para os padrões da época, com menos telenovelas e mais programas locais e filmes, o canal dos capuchinhos chegou a ser líder de audiência na capital gaúcha e a comandar emissoras em outros estados. Em 1980, a TV Difusora foi adquirida pela Bandeirantes.

Hoje, no Brasil, existem várias redes católicas – Aparecida, Canção Nova, Evangelizar, Nazaré, Pai Eterno, Rede Vida, Século 21 –, além de diversas estações locais. Poucos países do mundo contam com tamanha presença da Igreja Católica na televisão. Isso se deve, em boa medida, à força que essa mídia mantém dentro da sociedade, mesmo diante do avanço das novas tecnologias, e à grande devoção dos brasileiros.

Sobre Fernando Morgado

Professor, palestrante e consultor nas áreas de marketing, inteligência de mercado e comunicação. Possui livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller “Silvio Santos: a trajetória do mito” e o recém-lançado "Comunicadores S.A.". Membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora do Emmy, maior premiação da TV mundial. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Site: fernandomorgado.com

 

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29 outubro 2020, 10:12