A construção da memória do holocausto deve ser diária, alerta jornalista brasileiro
Andressa Collet - Vatican News
Esta quarta-feira (7), a primeira de julho, não teremos a Audiência Geral com o Papa Francisco, como de costume durante todo o ano. E não é devido a cirurgia que o Pontífice fez no último domingo (4), com necessidade de internação de alguns dias, mas por causa das férias tradicionais de verão.
Enquanto aguardamos o retorno do Pontífice, com data já marcada para a quarta-feira, 4 de agosto, vamos relembrar o emocionante encontro do Papa com uma sobrevivente de Auschwitz justamente ao final de uma Audiência Geral no Pátio São Dâmaso, no Vaticano. Era 26 de maio deste ano quando Lídia Maksymowicz, polonesa de origem bielorussa, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, mostrou a Francisco o número da deportação tatuado no braço: o “70072” ganhou um beijo inesperado do Pontífice, num gesto instintivo e afetuoso.
Para Lídia, de 80 anos, um gesto “que me fortaleceu e me reconciliou com o mundo”, afirmou em entrevista ao Vatican News. Para um jornalista brasileiro no interior do Rio Grande do Sul, um gesto que “arrepiou” e deu partida a um filme na cabeça a partir do momento em que começou a estudar sobre o tema do holocausto. De fato, Salus Loch conta que foi justamente Lídia a primeira e principal incentivadora para aprofundar o argumento e levar a história do nazismo às novas gerações. O jornalista começou um percurso de pesquisas, através de viagens internacionais e entrevistas a sobreviventes, com reportagens veiculadas na mídia nacional e mundial, além da publicação de um livro. Um tempo profícuo dedicado ao tema para manter viva a memória daquela “Alemanha Nazista de Hitler, e outros colaboracionistas”, que matou “6 milhões de judeus durante a década de 1930 e 1940 na Europa, em nome de uma suposta supremacia racial alimentada pelo discurso do ódio e fanatismo”, disse Salus, ao acrescentar:
“Ao me deparar com a foto do Papa Francisco beijando a tatuagem da sobrevivente do holocausto, um turbilhão de imagens passou pela minha cabeça. Primeiro, pela importância do gesto do Papa Francisco, reconhecendo que o amor, a empatia, o carinho ao próximo, o respeito, é fundamental - especialmente na sociedade em que vivemos hoje. Segundo motivo, foi que a dona Lídia foi a primeira sobrevivente do holocausto que eu tive oportunidade de entrevistar, em 2015, em Cracóvia, na Polônia. E aquele sorriso dela, naquela imagem junto ao Papa, é o mesmo sorriso que eu lembro dela. Aliás, eu tive a oportunidade de me encontrar já por duas vezes com a dona Lídia e foi ela quem abriu a porta para que eu estudasse o tema, para que eu me encontrasse com mais de 20 sobreviventes, para que eu fizesse trabalhos a respeito deles, lançando o livro, produzindo conteúdo, ... Então, aquele gesto, o beijo do Papa, como eu faço referência no artigo que eu escrevi para um jornal local onde trabalho, foi muito simbólico. E eu tenho certeza que a gente precisa disso, a gente deve refletir sobre isso, inclusive aqui no Brasil, onde o assunto holocausto é relevado, ele não é de conhecimento de todo mundo e a gente, creio, deve avançar sobre essa perspectiva de entender porque as coisas acontecem."
Salus hoje mora e trabalha em Erechim/RS e atua como voluntário junto ao Departamento de Comunicação do Museu do Holocausto de Curitiba/PR procurando fazer o que recentemente o Papa Francisco enfatizou ser um caminho importante a seguir, através de um jornalismo “de formação”, que saiba “ver a história, tocar a história e refletir sobre a história; aquela de hoje, aquela de ontem, como a edição dedicada ao Dia da Memória”, do L’Osservatore Romano, “que foi uma verdadeira catequese para os jovens de hoje: que vejam o que aconteceu naquele tempo e que pode acontecer hoje”.
Um pensamento compartilhado pela sobrevivente Lídia que, em entrevista ao Vatican News após o encontro com o Pontífice em maio, fez questão de enviar um apelo aos jovens:
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