Apelo internacional islâmico-cristão pela proteção dos locais de culto e comunidades de oração
Ataques sangrentos a locais de culto que recebem comunidades de fiéis reunidas em oração ou que participam de atos rituais, representam "o auge” das atrocidades e violências sob justificativas religiosas. Diante da perpetuação de tais fenômenos, é necessário incentivar a criação de uma "rede global" inter-religiosa e intercultural, que trabalhe para proteger os locais de culto e todos os fiéis que os frequentam, como uma contribuição para o desenvolvimento de uma “civilização humana comum”, alimentada pelo reconhecimento e compartilhamento de “valores humanos comuns”.
Este é o que defende o Apelo Internacional para a proteção dos Lugares Santos de toda a violência e abusos que atingem as várias comunidades de oração. A iniciativa é promovida pelo príncipe jordaniano Hassan Bin Talal, que preside o Arab Thought Forum ("Fórum do Pensamento Árabe") e também o Conselho do Instituto Real de Estudos Religiosos.
Uniram-se ao apelo mais de 40 apoiadores muçulmanos e cristãos, incluindo altos representantes de comunidades do Médio Oriente e representantes de instituições acadêmicas, teológicas e culturais de vários países.
O texto apresenta ênfases e conteúdos originais, ao mesmo tempo em que se move dentro do horizonte já traçado no Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz mundial e da convivência comum, assinado em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e pelo xeque sunita Ahmed al Tayyeb, Grão Imame de al-Azhar.
Em particular, o novo apelo insiste na necessidade de promover um diálogo entre as diferentes identidades confessionais e culturais que valorizem a razão humana e a partilha de valores comuns.
Os ataques perpetrados contra locais de culto estão ligados a eventos que mesmo em tempos recentes viram locais de valor cultural, bibliotecas e "outros centros representativos da civilização árabe islâmica" virarem alvo, em analogia ao que já aconteceu na imensa Biblioteca Bayt al Hikma (Casa da Sabedoria) em Bagdá, destruída pelos mongóis em 1258.
Os locais religiosos são lugares simbólicos "de nossa humanidade, da nossa história e das tradições compartilhadas por pessoas ao redor do mundo". E “sem a história não podemos sustentar o futuro. A história e o seu patrimônio nada mais são do que um pilar do presente que procuramos construir”.
Nos nossos tempos - sublinha o apelo promovido pelo príncipe Bin Talal - continuam a aumentar o incitamento ao ódio e os conflitos que justificam o derramamento de sangue, “acompanhados do recurso ao abuso de religiões e crenças como pretexto para violência, exclusão e discriminação".
São também visados “sítios históricos e arqueológicos e patrimônio arquitetônico, incluindo museus, bibliotecas e manuscritos”, com a clara intenção de “apagar a memória que preserva da extinção as civilizações dos povos e o seu núcleo de valor”.
Tal medo e remoção da memória histórica dos povos - defende o apelo - pode ser respondido reconhecendo e promovendo "o conceito de valores humanos comuns", e experimentando que "ao contrário do que alguns possam pensar, o conceito de 'valores humanos comuns', no seu sentido mais profundo, não enfraquece as especificidades inerentes às diferentes crenças religiosas”, nem “entra em conflito com as identidades culturais ou nacionais”.
A lista de expoentes muçulmanos e cristãos que assinaram o apelo do príncipe Hassan bin Talal inclui, entre outros, o professor Ali Muhyiddin Al-Qura Daghi, secretário-geral da União Internacional de Estudiosos Muçulmanos (Catar); o professor turco Arshad Hormuzlu; o professor saudita Khalil al Khalil; Dr. Ahmed al Khamlichi, Diretor da Fundação marroquina Dar Al-Hadith al Hassaniya; a acadêmica libanesa Nayla Tabbara, cofundadora da Fundação Adyan; Imame Yahya Pallavicini, Presidente da Federação das Organizações Islâmicas italianas; Dr. Martino Diez, Diretor da Oasis International Foundation; Atallah Hanna, arcebispo greco-ortodoxo de Sebastia; o Bispo emérito Salim Sayegh, ex-Vigário Patriarcal de Jerusalém dos Latinos para a Jordânia; o sacerdote jordaniano Rifat Bader, diretor do Centro Católico de Estudos e Mídia.
*Agência Fides
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