Educar para um novo humanismo: reflexão à luz da CF 2022
Amaro França - Escritor
A educação tem como força motriz nos proporcionar aprendizagens e experiências transformadoras. Dessa maneira, as vivências educacionais nos diversos ambientes de aprendizagens, principalmente na família e na escola, ajudam-nos a compor a nossa forma de ver o mundo e as pessoas. Sob esse mesmo prisma, acontece a manifestação relacional com a Transcendência e com os valores mais profundos que nos humanizam.
A Campanha da Fraternidade 2022 que tem como tema: Fraternidade e Educação e lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor.” (cf. Pr 31,26) quer despertar em nós a solidariedade em relação a um problema concreto que envolve toda a nossa sociedade – A Educação - fomentando assim, a busca de soluções à luz do Evangelho.
Motivados pelo Papa Francisco a comunidade internacional vem sendo conclamada à adesão ao Pacto Educativo Global expressamente presente com o fomento e a promoção da CF 22. O Santo Padre nos “provoca” e nos conclama a termos uma nova postura educacional - essa deverá ser mais colaborativa, cidadã e promotora de vínculos de solidariedade e de sustentabilidade planetária. Uma educação que tenha uma perspectiva missionária de promoção de um novo humanismo.
É perceptível quantas questões eclodiram em nossas vidas diante do quadro pandêmico, especialmente em relação à educação. Muitas dessas questões já tão histórico-socialmente presentes, mas que parecem terem sido descortinadas, revelando-nos a crueza de uma fotografia que, talvez, insistíssemos em não ver.
Em setembro de 2020, a ONU (Organizações das Nações Unidas) publicou um relatório acerca do impacto da pandemia na educação (até aquele momento) e, um dos dados revelava que na América Latina - 137 milhões de crianças e adolescentes - se encontravam com a educação “pausada”, sem nenhum tipo de acesso aos processos educacionais escolares, seja de forma emergencial remota, impressa ou de outra forma possível. Um dos fatores contributivos a esse quadro, se dava devido à falta de wifi ou dados para conexão com a internet.
Ainda não temos como mensurar as consequências desse hiato e suas consequências na vida das crianças e dos jovens - quanto ao desenvolvimento das aprendizagens educacionais. Constata-se, no entanto, que depois de tanto tempo afastados do ambiente escolar, uma série de (re)aprendizagens estão sendo necessárias, pois essas são fundamentais, inclusive para o bem-estar emocional dos alunos e, consequentemente, a aquisição de outras aprendizagens cognitivas mais elaboradas.
A Campanha da Fraternidade/22 objetivamente “coloca o dedo” nessas chagas sociais e nos convoca a “Escutar” a realidade. “Escutar é mais que ouvir... Supõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. Escutar é uma condição para falar com sabedoria e ensinar com amor” (CF 22. N.26;27). Dessa forma, conclama-nos, também à “Discernir” como outro exercício de escuta; a escuta da Palavra de Deus – como caminho fundamental para poder julgar à luz dessa Palavra e dos valores do Evangelho, os desafios vigentes e apontar para ações de novos posicionamentos pessoais e sociais.
Chamados ao exercício da escuta e do discernimento, somo impulsionados ao novo - a um novo “Agir”. Como afirma o Papa Francisco: “Estamos diante de um momento de extrema fragmentação de extrema contradição, precisamos unir forças para estabelecer uma aliança educacional para formar pessoas maduras capazes de viver em sociedade e para a sociedade. ” Assim, “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis – se não se preocupar também por difundir o modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza... Tal empreendimento exige repensar a ação educativa formal e informal e quais escolhas estamos estão sendo feitas, qual modelo de sociedade e de pessoa estamos formando, pois educar é servir, e o verdadeiro serviço da educação é a educação a serviço – nos passos do discipulado do Mestre dos mestres – Jesus Cristo. ” (CF.22).
Faz-se necessário enquanto seguidores de Jesus, enquanto pessoas, mas principalmente enquanto pais e educadores, nos questionarmos: o que pudemos aprender com a pandemia para iniciarmos novos processos e novas aprendizagens - vislumbrando uma nova realidade educacional? Certamente, estrão presentes descobertas em torno da nossa vulnerabilidade humana e, tantas outras questões... Mas, também, certamente, descobriremos a nossa força de cooperação, o sentido que estamos interligados, que somos interdependentes e complementares. No dizer do filósofo e sociólogo Edgar Morin: “A consciência de pertencer à comunidade humana... requer que cada sistema de ensino dê a seus cidadãos a consciência de pertencerem à humanidade. O futuro imprevisível está em gestação. Tomara que seja para a regeneração... para a preservação do planeta e para a humanização da sociedade: é hora de mudarmos de via. ”
Oxalá!! Que nos unamos numa verdadeira aliança entre todos nós habitantes dessa “Casa Comum”, por um novo humanismo, na promoção de uma educação para o bem-comum - que seja “geradora de esperança”, de justiça e de verdadeira paz.
...Amaro França é escritor, palestrante e gestor educacional, autor dos livros: Educação em Pauta – fomentando novos olhares (Paulinas Editora) e Gestão Humanizada: liderança e resultados organizacionais (Ed. Ramalhete).
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