Rio de Janeiro: campanha pelo enfrentamento da violência contra mulheres no Brasil
Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro
O Santuário Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, acolheu no dia 7 de agosto, data em que se celebrou os 16 anos da sanção da Lei Maria da Penha, o evento de lançamento no Brasil da campanha #ParaCadaUma, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), através da iniciativa global “Verificado”, que trata da violência doméstica e familiar contra mulheres.
O momento foi marcado com projeções no corpo do monumento do Cristo Redentor, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno e Patrimônio da Humanidade pela Unesco, com nomes de mulheres e os tipos de violência previstos na legislação.
No evento foi realizado um ato inter-religioso que contou com a presença do arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, e do secretário da Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, diácono Nelson Águia, e representantes de oito diferentes religiões. Estiveram presentes também Luzia Lacerda, coordenadora do Instituto Expo-Religião, e Izaías Carneiro, presidente da Missão Somos Um.
“Sejam todos bem-vindos à colina do Corcovado neste momento especial de integração, de diálogo, que não é pontual, mas constante por meio de encontros semanais, evidenciando cada vez mais a cultura de paz, que tão bem faz para a sociedade. O tema de enfrentamento à violência contra as mulheres é de grande importância, com repercussões pelo país. Que o Cristo Redentor acolha e abençoe a todos em sua paz”, disse o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, na abertura do evento.
Campanha #Paracadauma
A campanha #ParaCadaUma – conforme explicou a antropóloga Beatriz Accioly, representando o Instituto Avon e que também foi a mestre de cerimônias – pretende abrir conversas e caracterizar cada uma das violências que acometem mulheres e relações em espaços domésticos e familiares.
“Acreditamos que a transformação e a informação são chaves para mudanças. Cada pessoa é convidada a identificar situações de abuso e violações e com isso contribuir como uma rede de apoio e acolhimento a mulheres em situação de violência, e que cada uma delas seja dona da própria história”, disse a antropóloga.
“Quando sabemos nomear e identificar uma experiência, a tornamos existente e abrimos as portas para a ação. Por que falar? Aprendemos tanto com as religiões, que também é uma experiência de cura. Juntas e juntos vamos mais longe”, acrescentou Beatriz Accioly, e destacou que a campanha tem o apoio do Instituto Avon, que atua na defesa de direitos fundamentais das mulheres.
A campanha também tem o apoio do Instituto Maria da Penha, alicerce de toda esta luta por direitos, e a colaboração de várias instituições, entre elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Arquidiocese do Rio de Janeiro por meio do Santuário Cristo Redentor.
O objetivo da campanha #Paracadauma do projeto ‘Verificado’, conforme explicou Roberta Caldo, representando o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic-Rio), é fazer com que cada uma das cinco violências contempladas na Lei Maria da Penha – psicológica, moral, patrimonial, sexual ou física – seja identificada e nomeada, abrindo espaço para o enfrentamento a cada uma delas.
“Jogar luz sobre o tema é também conscientizar as pessoas de que qualquer tipo de violência contra as mulheres não é apenas inaceitável, é crime. Informação é poder e o poder de alertar e denunciar a violência contra as mulheres está nas nossas mãos, também na união de todos, disse Roberta Caldo.
O evento foi animado pela cantora e compositora brasileira Kell Smith, que apresentou as canções “Era Uma Vez”, “Respeita as Mina”, “Seja Gentil” e “Vivendo”.
Religiões presentes
Durante o evento, os representantes das religiões, sendo que alguns deles fazem parte do grupo Diálogo e Paz, criado por Dom Orani no início de 2020, e que se reúnem de forma on-line a cada semana, manifestaram apoio à campanha com uma mensagem.
Os representantes religiosos foram os seguintes: Paulo Maltz, diretor para Assuntos Inter-religiosos da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ); monge Dokan Sensei, do budismo; babalorixá Pai Márcio de Jagun, do candomblé; Alexandre Pereira da Silva, diretor para Assuntos Inter-religiosos do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro; pastora Agda Floriano de Oliveira, diretora do Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio e da Missão Somos Um; Kunti Devi Dasi, do Hare Krishna; e Daniela Francisca Urzúa, diretora do Departamento Educacional da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro.
Engajamento na campanha
Na sua mensagem, representando a Igreja Católica, Dom Orani parabenizou a iniciativa da ONU e o apoio do Instituto Avon, agradeceu a escolha do Santuário Cristo Redentor para o ato de lançamento da campanha em âmbito nacional e fez votos para que ela possa repercutir para o mundo. Também acolheu os representantes das várias religiões presentes e que todos se “sentissem unidos às demais religiões que procuram viver e valorizar o diálogo, a fraternidade e a paz”.
O arcebispo destacou que o evento era uma oportunidade de “pensar sobre situações de violência que acontecem longe, no mundo, como guerras e invasões, mas também as de perto, como as violências verbais e digitais”. “Existia uma certa ideia que a nossa casa fosse um lugar de segurança, mas há situações que acabam demonstrando o contrário quando, por exemplo, a mulher sofre violências e perseguições na própria casa, na própria vida em família”.
Dom Orani observou que a Lei Maria da Penha, que precisou até de intervenções internacionais para ser aprovada, deve ser valorizada, difundida e respeitada. “É necessário o esclarecimento, a educação o falar sobre o assunto para que situações de violências possam ser revertidas, para que o respeito aconteça começando pela casa, já que é um lugar dos mais sagrados”, destacou.
Para evidenciar a dignidade da mulher, o arcebispo lembrou – segundo a Doutrina Católica – que “Deus quis morar no meio de nós e para isso escolheu uma mulher, Maria, que se tornou a mãe de Jesus, que é Deus, portanto Mãe de Deus. Algo impensável e aparentemente impossível para nós, mas que manifesta a dignidade da mulher”.
Ao mesmo tempo, observou o arcebispo, “Estamos longe da prática da fraternidade, do respeito, do amor um para com outro. Porém, devemos continuar a pregar o amor a Deus e o amor ao próximo, e o próximo, seja quem for, de qualquer religião ou de ideologia. Todas as pessoas merecem respeito, ainda mais as mulheres”.
Dom Orani lembrou que as autoridades devem ser conclamadas para exercer as funções a que foram confiadas, “para que tenha lugar de denúncia, apuração e condenação para aqueles que não obedecem às leis”. Ainda mais, que também “promovam a educação, a começar nas escolas e pelos meios de comunicação”.
Ao finalizar sua mensagem, Dom Orani destacou que as religiões e a sociedade civil também têm a responsabilidade de viver, pregar o respeito e defender a mulher, já que ela foi “escolhida para ser no lar sinal da fecundidade, nascimento e maternidade, e na sociedade alguém que seja sinal do amor”. Para que as situações de violências acabem e um mundo melhor aconteça, o arcebispo lembrou sobre o engajamento na campanha #ParaCadaUma. “Não se pode ficar do lado do silêncio. Ficar calado seria favorável ao violento, aquele que abusa”.
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