Índia. Quando o padre Swamy cantava em sua prisão

Dois anos atrás, morria o jesuíta injustamente preso por seu compromisso com os direitos dos tribais. Um de seus companheiros de cela relata em um site indiano como seu famoso verso - "mesmo em uma gaiola um pássaro pode cantar" - não era apenas uma imagem, mas também um gesto com o qual ele compartilhava a vida com outros detentos

Vatican News

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Esta quarta-feira, 5 de julho, na Índia, completaram-se dois anos da morte do padre Stan Swamy, o jesuíta indiano que morreu aos 84 anos de idade depois de mais de nove meses na prisão por ter sido falsamente acusado de terrorismo por suas atividades em apoio aos direitos dos povos tribais em Jharkhand.

Entre as muitas lembranças do padre Stan é muito significativo um relato de um de seus companheiros de prisão - Vernon Gonsalves, que também estava entre os ativistas presos na prisão de Taloja, em Mumbai, por causa do caso político Bhima Khoregaon – presente esta quarta-feira no site indiano Scroll.

"Mesmo em uma gaiola um pássaro pode cantar"

Gonsalves se baseia em um verso escrito na prisão pelo padre Swamy, que a agência católica AsiaNews também relatou no início de 2021: "Mesmo em uma gaiola um pássaro pode cantar". Ele o retomou para contar que, de fato, o jesuíta idoso cantava na prisão. E, com esse gesto, ele resumiu toda a sua vida dedicada aos últimos.

"Pouco depois de entrar na prisão - escreve Gonsalves -, Stan começou a cantar, em um sentido literal. Ele estava alojado no hospital da prisão, um labirinto de pequenas celas e barracas. Naquele momento, outro acusado no caso Bhima Koregaon, o poeta VV Rao, estava em uma cela próxima. Seu estado era crítico devido a dois anos de abandono na prisão e à Covid. Arun Ferreira e eu tínhamos sido designados como seus assistentes e estávamos na mesma cela. VV não conseguia fazer tudo sozinho e tinha que ser colocado numa cadeira de rodas".

"Stan, que parecia estar relativamente melhor na época, conseguia andar, embora fosse um pouco instável. Portanto, ele vinha regularmente ver VV nos horários permitidos pelas regras da prisão. O horário após o chá das 15h era a hora da música. Stan vinha, sentava-se ao lado de VV e cantava uma ou mais músicas".

Ao cantar, religioso realizava um ato expressamente proibido

"Seu repertório era vasto - lembra Gonsalves -, canções de luta de Jharkhand, como Gaanv Chodob Nahin, canções em tâmil, sua língua materna, canções de Paul Robeson e algumas em kannada das lutas em Bengaluru e arredores, onde ele esteve nas décadas de 1970 e 1980. Sua voz era melíflua e forte. Cada música era apresentada por seu contexto, sua ligação pessoal com ela ou porque ele queria cantá-la naquele momento. Nós queríamos participar do coro. Imaginávamos nossas vozes ultrapassando as grades e os altos muros da prisão, alcançando povos e terras distantes".

"Cantar - acrescenta o companheiro de prisão - foi terapêutico para VV, ajudou em seus esforços para se recuperar dos estragos da doença e do mau tratamento médico. Ele respondia com poemas. Arun e eu, exaustos e sobrecarregados pela escuridão dos anos prolongados na prisão, nos sentíamos revigorados. Com vigor renovado, embarcávamos na árdua busca por precedentes judiciais e lógica jurisprudencial para enfrentar as falsificações e as mentiras em nosso caso".

Gonsalves especifica que, ao cantar, o padre Stan estava realizando um ato expressamente proibido pelos regulamentos da prisão e, portanto, de alguma forma, se expondo.

"Na prisão ou fora dela, cantaremos em coro"

"A regra 19, parágrafo I, normalmente é mantida inativa - explica ele -, mas só é imposta de forma muito seletiva a determinados grupos e atividades que a administração carcerária visa". Ele cita um caso como exemplo: "a briga de um prisioneiro nigeriano com um oficial, por causa de um assunto pessoal, em um canto da prisão, levou à proibição total de hinos e orações nas manhãs de domingo em toda a prisão - entendida como uma ação punitiva em massa para todos os prisioneiros africanos, que são em sua maioria cristãos".

Mas é justamente o canto - ao contrário - que une os prisioneiros nas prisões indianas: "Apesar dos preconceitos dos oficiais que proíbem alguns cantos e promovem outros - observa Gonsalves -, as canções dos prisioneiros coexistem em harmonia". A história da imensa variedade de canções na prisão seria uma história em si. Basta dizer que as celas lotadas à noite são o local de muitos mehfil (encontros artísticos, ndr), onde a alma reprimida e sofrida do prisioneiro encontra saída e expressão".

"Stan, um pássaro em uma gaiola ainda pode cantar - conclui o artigo -, os pássaros em uma gaiola continuam cantando, e você, eu, todos nós, na prisão ou fora dela, cantaremos em coro".

(com AsiaNews)

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06 julho 2023, 12:19