Gaúcha, 2 filhos e marido no combate em Israel: quero continuar trazendo brasileiros para Terra Santa
Andressa Collet - Vatican News
"Lembrei de dar água pra ele e outras coisas básicas. Pensei eu, 10 da manhã, quando será que ele vai comer. Que tenha alguma coisa e ..." Perla Szaf Levy levou um susto com as sirenes que tocam na cidade israelense de Rishon LeZion, ao lado de Tel Aviv. Era meio-dia do horário local, 7h no horário de Brasília, desta segunda-feira, 9 de outubro, e a brasileira não interrompeu o testemunho que dava à redação brasileira do Vatican News ao mesmo tempo em que levava os dois filhos - Aviel de 15 anos e Ilay de 12 anos - para o que chamam de quartinho de segurança.
No instante seguinte, enquanto contava sobre a despedida do marido que foi para o combate, a guia turística também fez uma chamada em vídeo para mostrar a realidade vivida com o toque das sirenes e desde sábado (7) quando o Hamas atacou o país, onde ela vive há 22 anos. De tantos conflitos, é a primeira vez que a gaúcha de Porto Alegre vive uma guerra.
O início da guerra
Nesta segunda-feira (9), o Ministério da Defesa de Israel confirmou que 300 mil reservistas já foram chamados para o serviço. Entre eles está o marido de Perla, Itzik Levy, de 46 anos, chamado no primeiro dia que Israel declarou estado de guerra após múltiplos ataques dos milicianos do Hamas a partir da Faixa de Gaza - a 60 Km da casa da família. Vinham de um dia de festa para os judeus, ele tinha ido dançar com os filhos na sinagoga, todos muito felizes, quando às 6h30 de sábado (7) toca pela primeira vez a sirene e a primeira ida ao quarto de segurança:
"As sirenes começaram a aumentar e meu marido já sabia que seria convocado. Começaram a chegar as mensagens que os reservistas seriam chamados. E rapidamente ele falou 'eu vou!', como ele sempre fala. Até que chegou a mensagem de voz do general dele: 'todos para o ponto de encontro'. Eu fiquei em choque sentada no sofá. As crianças saíram correndo para ajudar o pai arrumar a sacola pré-preparada. Eu me sentia presa. Algo surreal estava me acontecendo aquela hora. Acho que é a primeira vez que estou falando, então, um pouco do que estava dentro de mim começa a sair agora... além das lágrimas."
O marido descreveu os muitos carros pelas ruas, todos de homens reservistas a caminho da sua base, e muito respeito da comunidade por quem estava fardado naquele momento. O marido de Perla foi designado até um ponto entre Tel Aviv e Jerusalém:
Os parentes envolvidos na guerra
Parentes de Perla, gaúchos de Erechim, também foram apanhados de surpresa. O primo dela, que estava na base, escapou ileso no meio da noite do primeiro dia de guerra, após todos da casa ao lado terem sido mortos. "Hoje ele está combatendo: um dia perdeu todo mundo, no outro já estava lá pelo país dele, filho de erechinenses", continua Perla.
A brasileira conta ainda que muitas pessoas foram raptadas até o início do combate, desde bebês de 6 meses e crianças a pessoas idosas. Além dos ataques e do número de pessoas feridas e assassinadas que continua subindo, existe muito terrorismo por parte do Hamas, prossegue ela, com trágicas cenas divulgadas pelas redes sociais que mostram famílias inteiras sendo aterrorizadas e até mortas dentro de casa.
A rotina do país e da família
Até quarta-feira (11), como Perla ainda descreve, todos vivem um decreto semelhante à epoca da pandemia: não é para sair de casa e se o for, rapidamente, somente 10 pessoas juntas. Só funcionam mercados e hospitais; escolas e repartições públicas estão fechadas.
O centro de Tel Aviv chegou a ser atingido já no segundo dia de guerra. Perla conta que as sirenes têm tocado bastante, mas "não a afetam em nada" e os avisos também chegam pela televisão para que possam se esconder nos quartos de segurança. "Ainda tem os interceptores de bombas", diz a brasileira, tentando descrever a realidade vivida nestes três dias de guerra e de noites em claro, mas de muita consciência de que estão em guerra.
Além da família, a preocupação também é com um grupo de 33 brasileiros de São Paulo, que estavam em peregrinação pela Terra Santa e agora fechados num hotel, tentando ser repatriados. Perla, que trabalha com turismo receptivo, normalmente depois que os peregrinos passam por Roma para conhecer o Vaticano e ver o Papa, compartilha do apelo de Francisco feito no Angelus deste domingo (8), quando descreveu os ataques que têm gerado horas de terror e angústia, invocando a paz sobre os países em conflito:
"O que mais quero é um final feliz para o nosso lado. Este sábado, 7 de outubro, é um dia para ser lembrado pra nunca mais voltar, como o holocausto. É bem difícil tu levantar e continuar esta vida... mas aqui é assim. Meus filhos estavam loucos para ir para o exército, meu sogro e meu chefe gostariam de ir também. Todo mundo se mobilizando para ajudar o exército."
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