Uma história de amor
Luiz Felipe Bolis – Massaranduba/PB
Em Macaé, norte do estado do Rio de Janeiro, os pais Elys e Junior Almeida, ambos de 33 anos, decidiram comemorar o 1º ano do filho Tiago Demócrito Almeida com um ensaio fotográfico baseado na vida de um santo católico. Pelas características físicas do bebê: loiro, de pele branca e olhos azuis, São João Paulo II foi o escolhido para celebrar junto ao pequeno o dom da vida no último dia 13, o Peregrino do Amor que nasceu na Polônia em 1920 e foi Papa entre os anos de 1978 a 2005.
Quando os escritos de Karol Wojtyla chegaram aos olhos e ao coração do pai Junior, ele se encantou pelo aspecto teológico e pela retórica do polonês, primeiro lendo as mensagens da Teologia do Corpo e em seguida o livro “Vida de São João Paulo II” (Minha Biblioteca Católica, 2022). “Quando eu lia a história do santo, uma parte me chamou muito a atenção: uma pessoa esteve com São João Paulo II, olhou para ele e guardou essa frase: ‘eu olhei aqueles olhos azuis acinzentados’. Na hora eu lembrei do Tiago, porque o olho dele é diferente, de cor azul acinzentado. Eu já admirava nosso papa pelo combate dele contra as falsas ideologias e achei por bem fazer uma homenagem”, comenta Junior.
O vendedor de uma distribuidora de alimentos para supermercados recorreu às mãos “de fada” e costureira da sua tia Luciene Novais para a confecção de vestimentas semelhantes às mesmas que São João Paulo II utilizava. O detalhe é que elas seriam bem menores em tamanho e em estatura para o bebê e que a sua finalidade seria para um verdadeiro espetáculo de fofura e registros de família.
A tia Luciene, que confecciona vestes religiosas para membros do clero, fez bordados e inseriu o brasão papal de João Paulo II na “casula do Tiago”, e o resultado foi uma roupa impecável que coube muito bem no bebê. O modelo alegre, divertido, carinhoso e brincalhão se sentiu à vontade diante dos cliques da fotógrafa Lívia Marques, que decorou um lindo estúdio em Iracema/RJ, com balões, uma obra literária do santo e outras decorações. Os pais também entraram em cena com uma mesma camisa preta, trazendo a foto de São João Paulo II estampada e com a seguinte frase do santo: “o amor me explicou tudo”. A Providência divina presenteou os pais com a roupa e as fotos e os isentou de custos.
“Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca”, em português e com pitadas de bom humor saiu a afirmação célebre do pontífice nascido na Polônia. Era outubro de 1997 e na cidade cercada pela Baía de Guanabara uma multidão de fiéis lançou o olhar a uma única direção: aos gestos e palavras de João Paulo II (1920-2005).
Passados vinte e seis anos da última visita de Karol Wojtyla ao Brasil, permanece vivo no Rio de Janeiro o carinho de um Papa por seu povo e os encantos da Vossa Santidade por um estado repleto de cultura, história e fé. A fé viva, repassada a cada geração nas famílias cariocas, de pais para filhos, com entusiasmo e amor.
Nos passos da Sagrada Família, Elys e Junior seguem no presente e almejam um futuro de graças para o pequeno Tiago, chamado de “Tiném” pelo pai – abreviatura de “Tiago-neném” –, e de “Môzinho” pela mãe. A cada mês eles participam de encontros promovidos pela Opus Dei sobre temáticas familiares, levando inclusive o Tiago consigo, reuniões nas quais eles têm aprendido lições importantes para a vida conjugal e para a educação dos filhos.
“Deus tem uma pessoa, você casa com essa pessoa, e de um amor que vem de Deus vocês conseguem, com a permissão Dele, gerar uma vida. O amor de Deus, ao morrer na cruz por nós, é a forma de amor mais forte que vemos, mas eu acho que depois da cruz é quando você ganha um filho. Deus me confiou uma alma para levar ao Céu. É minha responsabilidade educar e ensinar o que é certo e o que é errado”. É a alma de uma mãe que afirma tais palavras, mãe esta que acalenta o seu neném com traços de sono a caminho.
Um drama em três atos ilustra a peça teatral “A Loja do Ourives”, escrita pelo próprio Karol Wojtyla e que diz que “para momento assim, relógio não existe; são momentos que superam o tempo dentro de nós”. É na profundeza dos oceanos do cotidiano, e não sob a superfície de breves momentos, que se percebe o tamanho do amor que se derrama na casa dos Almeida. O ensaio fotográfico comprova a semente que é regada a cada dia com companheirismo, aprendizados e coração aberto a Deus.
“Para mim, esse ensaio de fotos mostra que ainda é possível viver a santidade e a castidade nesse mundo louco, do avesso”, sublinha o esposo da Elys. Administradora com pós-graduação em marketing que hoje se dedica aos cuidados do filho em tempo integral, ela expressa: “santidade não é uma coisa da época de Cristo ou dos anos 1700. É algo dos dias atuais para quem trabalha, estuda, frequenta a Igreja. É uma escolha diária.
Os primórdios da vocação e da família
Ele, o rapaz criado na zona rural de Itaperuna/RJ. Nossa Senhora certamente o via ajoelhar-se com o pai e os irmãos todas as noites para juntos rezarem o terço, ainda que, enquanto católicos, não frequentassem os momentos na capela.
Aos 13 anos, ele foi estudar na área urbana e tornou-se o que lutou para combater: um jovem violento, embriagado todos os dias e sem sentidos concretos na vida. Participou do encontro Bartimeu em Itaperuna, voltado especialmente ao resgate de dependentes em processo de cura. A partir de então, ele, de nome Sebastião José de Almeida Junior, se fez homem novo e se tornou um intercessor do movimento, a exemplo daquele senhor alvo da cidade de Casimiro de Abreu/RJ que tanto admirava, propagador daquele encontro católico e, futuramente, o seu sogro.
Ela, de família de raízes católicas e sempre atuante em missas, festas de padroeiros, procissões e outros momentos católicos em Casimiro de Abreu/RJ. Filha do Tiago Eli (in memoriam), fundador do encontro Despertai, que saía ele mesmo à procura de pessoas para participarem dos dias de retiro, uma nova chance de redescobrir a plenitude da vida. Elys Mara Demócrito Almeida.
Um casal de jovens de 25 anos que ainda não se conhecia. O que os unia era o grupo da rede de conversas instantâneas da região, voltado à evangelização, no qual ambos estavam. Às noites os participantes sempre combinavam de rezar o terço mariano. Um simples diálogo virtual entre ele e ela; tempos depois, o convite para Elys ir até Itaperuna conhecer, com Junior, o Santuário da Mãe do Infinito Amor. E de fato o dia chegou: 26 de abril de 2015.
O homem foi moldado no sexto dia pelas mãos do Pai Criador, a partir da argila do solo, e recebeu em suas narinas um sopro de vida. No ínterim de uma unidade a se concretizar por Deus, já não estaria mais sozinho, pois teria ao seu lado uma companheira chamada mulher. Assim se deu com o casal ao longo das épocas de relacionamento.
Rezando de mãos dadas diante da imagem da Mãe do Infinito Amor, ele pediu conselhos à Virgem Maria para a paixão que brotava em seu coração por Elys, logo sentindo a confirmação de que iriam ficar juntos e iniciar um relacionamento, o que de fato ocorreu conforme sentido.
“Eu sempre pedi uma namorada para eu viver a castidade no namoro, no noivado, até chegar ao casamento. Pedi ela em namoro um dia na pracinha de Italva/RJ, e seguimos para a matriz. Nesse dia, estava tendo o grupo de oração e a pregação foi toda voltada ao tema do matrimônio e à vida de casal. Mais uma confirmação”, conta Junior. Era dia 09 de maio de 2015. Pouco depois o Junior foi conhecer mais de perto o seu sogro Tiago Eli, semelhante ao nome do neto como forma de homenagem. O pai da Elys faleceu dois meses depois, em virtude de câncer de mediastino.
“O Junior sempre deixava claro que Deus era o Senhor da vida ele, então eu pensei: esse é o tipo de pessoa que vai cuidar da família, pois sabe que Deus está na frente e cuida de tudo. Esse vai ser um bom marido, um bom pai. É o tipo de pessoa que dá exemplos, que vai saber lutar, vai saber conduzir. Tinha as inseguranças, mas tinha aquela fé de que Deus estava ali provendo tudo”, Elys compartilha seus sentimentos. Junior complementa: “a Elys, desde que eu conheci ela, é uma pessoa muito carinhosa. Ela é muito forte por tudo o que ela passou. Eu vi uma mulher de Deus”.
O pedido de casamento ocorreu em Búzios/RJ, no dia 12 de outubro de 2018 e o casamento ocorreu em Itaperuna, em 18 de maio de 2019. Para a surpresa do casal, recentemente descobriram que se casaram no dia do aniversário natalício de São João Paulo II. Ao se unirem como casal, não conheciam os métodos naturais ensinados pela Igreja e na Pastoral Familiar receberam formação sobre o método Billings, o qual seguem até hoje.
Em outubro de 2021, a felicidade brotou ao receberem a notícia da primeira gravidez. A criança veio a óbito no ventre da mãe um mês depois. Ainda que lidar com pressões psicológicas da equipe médica e com a dor da perda da criança fosse difícil, sobretudo àquele momento, eles depositaram sua confiança em Deus e logo em janeiro o Tiago já estava na barriga da mãe em seus primeiros meses de gestação, consagrado à Virgem Maria. Mesmo fazendo o tratamento de asma, Elys não teve um episódio de crise de asma sequer ao longo da gravidez.
13 de outubro de 2022, uma quinta-feira inesquecível na vida dos pais: o nascimento do pequeno Tiago. 13 de outubro. Entre tantos detalhes especiais, a recordação do milagre do sol, ocorrido 105 anos antes em Fátima/Portugal. Tiago nasceu bem e forte, e com algumas adaptações e acompanhamentos médicos, se tornou ainda mais resistente e saudável ao longo dos meses.
Conforme a consagração que fizeram à Virgem Maria, os pais Junior e Elys confiam no melhor da vocação e dos caminhos aos quais Deus guiará o filho no futuro.
Os bastidores da graça: um jornalista dá voz a si próprio
Quando eu fitei os olhos do santo a partir de algum mirante da fé, não foi ao bel-prazer que proferi o meu pedido. As palavras que escapuliram do coração foram fortes a ponto de nem precisarem abrir as maçanetas da boca, nem de palanques, nem de plateia. Saíram tão simples e discretas do interior da minha casa que nem me dei conta de onde poderiam parar.
Ante as santas pupilas de Karol Józef Wojtyla, eu clamei por um olhar meu e dele. O nosso que se faz primeiro entre duas pessoas e depois sacia outras almas. O nosso em vestes de pronome. O nosso conjugado em primeira pessoa do plural antes e depois de ceder lugar à terceira pessoa e ao singular da vida, à pessoa de São João Paulo II, à Pessoa de Cristo Jesus, quando o Caminho dá à luz um texto jornalístico. O Verbo presente e autor de um verdadeiro tributo ao papa polonês cujos lábios evangelizaram e beijaram solos de todas as partes do mundo, a exemplo do Brasil, que acolhe grande maioria dos leitores destas linhas.
Karol em vestes papais. Mergulho na imagem dos anos 1970 ou 80 que embeleza o meu lar, erguido sobre o interior paraibano. O bispo de Roma e o seu báculo emolduram corações afeiçoados à santidade do retratado. Às vezes tenho a impressão de que ele me sorri, em outros casos parece me exortar com o olhar. As palavras escapolem. Quase não as noto. Correm ao destino celestial.
“Meu querido São João Paulo II, se aproxima o teu dia: 22/10. Já está na hora de escrever uma nova reportagem ao Vatican News, e quero falar de ti. Mas a qual novo ‘gancho’ posso me direcionar, se tanto tu falou ao mundo e tanto o mundo tem falado de ti? Faz-me, com os meus olhos de jornalista, enxergar a história certa, a narrativa que tu mesmo deseja levar ao mundo”. A você eu compartilho um segredo: o santo ouviu cada uma de minhas palavras e reticências.
Em um desses domingos em que só o canto do pássaro ecoa entre os becos da tarde, ocorreu que eu navegava em minhas redes sociais e aportei o meu olhar em um fato de “três is”: interessante, incrível e inusitado. O domingo tem numeral certo: foi no último dia 15/10, nos retalhos de uma história que se construía por volta das 3h da tarde.
Um pai, uma mãe e um bebê de quase 1 ano na foto com legenda. Sabe o que mais? Roupas de santidade e um sorriso nascido na alma os vestiam. O menino Tiago todo paramentado de São João Paulo II e os pais utilizando a camisa estampada com a imagem da Vossa Santidade. Apreciando o registro, comento algo do tipo: “meu santo de devoção”. Outros internautas dizem: “já pensou se esse bebê se torna Papa!?”, “que fofura!”, “lindo demais!”. A mãe escreve: “que você possa ter esse grande santo da Igreja sempre intercedendo por você, meu filho. Te amo e amo nossa família”. Do pai vem as seguintes palavras: “agradeço a Deus pelo aniversário de 1 ano do meu filhão e à Nossa Senhora por sempre cuidar de nós”.
Uma criança como tantas crianças que o 263º sucessor de São Pedro tomou sobre os braços no exercício papal, como se estivesse envolvendo o próprio Menino Jesus em seu colo, Menino este que, “acabado agora de nascer, quando Se tornar grande, como Mestre da Verdade divina, manifestará um afeto extraordinário pelas crianças”, o trecho que ele mesmo proferiu por ocasião do Ano da Família de 1994.
O jornalista viu uma criança amada pelo Peregrino do Amor sobre as telas do seu celular. O Amor tinha sede de peregrinar, de não ficar recluso apenas a um post, a uns likes, a uma terra enquanto tantas outras poderiam ser alcançadas pela pureza de um menino. Seus pés falavam de um Caminho com destino a tantas manjedouras de leitores aos quais fosse possível chegar. Um trabalho destes feitos pelos que se debruçam no ofício do jornalismo e que por Deus são capacitados diariamente no talento a serviço do outro.
A quem, em sua essência, Deus chamava naquela ocasião a convidar os pais do Tiago para uma entrevista sobre o ensaio fotográfico do filho? Sim, eu mesmo. Eu, cujo tesouro estava revelado aos meus olhos, precisava saber se a Elys e o Junior aceitariam partilhar o ouro da fé de sua família ao mundo. Eles gentilmente abriram as portas de sua casa e, mesmo com os mais de 2 mil quilômetros de larga distância entre a Paraíba e o Rio de Janeiro, a proximidade de um contato virtual estabeleceu o vínculo da unidade, a partir do qual a graça da Boa Nova acontece.
São João Paulo II, do seu túmulo na Basílica São Pedro e da sua manjedoura em cada alma fiel, nos baseamos em seu exemplo de pai, pastor e filho consagrado à Virgem Maria. Agradecemos por renovares diariamente o abundante riacho de testemunhos e milagres que te levam a peregrinar por este mundo. Andas como um intercessor que zela pelo povo, aos que clamam e que lançam olhares de esperança rumo ao Céu.
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