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Educação e tecnologias da informação: o que ajuda as crianças?

Pesquisas científicas atuais mostram o que faz bem e o que faz mal às crianças: os pequenos humanos têm necessidade do contato com outras crianças, do contato com adultos compreensivos, atenciosos e afetuosos e do contato com a natureza.

Padre Anderson Alves – Diocese de Petrópolis (RJ)

Como demonstra M. Spitzer, em “A epidemia do Smarthphone”, muitas pesquisas científicas atuais – da medicina, da psicologia do desenvolvimento, da neurobiologia do desenvolvimento, das neurociências cognitivas – mostram o que faz bem e o que faz mal às crianças: os pequenos humanos têm necessidade do contato com outras crianças, do contato com adultos compreensivos, atenciosos e afetuosos e do contato com a natureza. Por outro lado, as crianças não têm nenhuma necessidade das tecnologias da informação, nem no seu tempo livre nem durante o tempo que passam na escola.

De fato, como vemos demonstrando, as tecnologias de informação provocam danos físicos, emotivos, mentais e sociais nos mais jovens, comprometendo assim a sua saúde, às vezes de modo grave. A lista dos riscos e dos efeitos colaterais das tecnologias informação é ampla: a vida sedentária, os danos de postura, a miopia, o sobrepeso, a pressão alta, os diversos tipos de diabetes, os distúrbios do sono e a consequente sonolência durante o dia, o aumento dos comportamentos de risco nos relacionamentos sexuais e no tráfego das estradas. Além desses danos físicos, há os distúrbios da atenção, a ansiedade, a depressão, a autolesão, o suicídio, o estresse, as dependências de diversos tipos (do computador, da internet, dos jogos, do celular, da pornografia), o aumento do consumo do álcool e do tabaco, a diminuição do sucesso acadêmico e o abandono escolar.

Além disso, as tecnologias da informação aumentam a agressividade, fomentam o extremismo e fazem diminuir a empatia em relação aos amigos, aos desconhecidos e aos pais. Os celulares comprometem também o desenvolvimento de uma vontade autônoma e a capacidade de empatia, da confiança no próximo e nas instituições, minando assim os fundamentos da vida social e da democracia. Estes riscos e efeitos colaterais da tecnologia da informação são maiores segundo a idade mais baixa dos sujeitos que a utilizam. Entretanto, também os idosos e os aposentados estão expostos aos riscos das tecnologias digitais, como atestam o estado atual dos nossos conhecimentos, e devem sempre estar atentos aos mesmos riscos.

Pelo que sabemos, e Spitzer o afirma no seu livro de 2018 (“A epidemia do Smartphone”), não há estudos que demonstrem os efeitos positivos das novas tecnologias na educação, embora toda a publicidade a esse respeito. Por outro lado, uma série de estudos demonstra que quanto maior é o tempo que um estudante passa no uso dos meios digitais pior é o seu rendimento escolar. Ao analisar os dados dos relatórios PISA, um grupo de economistas descobriu, há mais de 15 anos, que as pessoas na faixa etária de 15 anos que possuem computador e câmera de vídeo apresentam resultados escolares piores do que os seus coetâneos que não os têm.

Esses dados foram confirmados no último relatório PISA, principalmente relevantes para o Brasil. Segundo o último relatório, aproximadamente 65% dos estudantes afirmaram se distrair nas aulas de matemática devido ao uso dos diversos dispositivos eletrônicos. No Brasil, o índice é de 80%. Os alunos que passam muito tempo conectados afetam a atenção dos seus colegas: 59% dos estudantes afirmaram se distrair com o uso excessivo de aparelhos eletrônicos por parte de seus colegas, obtendo15 pontos a menos nos testes de matemática, “isso equivale a 3/4do valor de um ano de educação”.

Um estudo realizado há alguns anos nos EUA, com estudantes que frequentaram da primeira a terceira série elementar, demonstrou por via experimental que a posse de um videogame torna pior os resultados escolares. A explicação é simples: quem passa 40 horas por semana no videogame – essa é a média do tempo do uso dos jovens nos Estados Unidos – deverá retirar aquele tempo de outras atividades, como, por exemplo, estudar e aprender alguma coisa sensata. A tese que diz que os videogames melhoram a atenção e a lucidez mental dos jovens não é de modo algum confirmada.

Os efeitos das tecnologias digitais na escola não são diversos dos que ocorrem no tempo livre. De fato, é possível demonstrar que a introdução deles na escola determina um pioramento do aprendizado e das notas dos alunos. Os dados são tão inequívocos quanto preocupantes. Falaremos disso mais adiante.

Ao examinar o uso escolar das tecnologias digitais encontramos uma série de efeitos negativos que presumivelmente se reforçam reciprocamente. Os resultados são os seguintes:

1. O uso das tecnologias de informação durante as aulas distrai, gerando uma queda do aprendizado entre 10 e 15 % segundo os diversos estudos. A multitarefa (multitasking) provoca distúrbios de atenção.

2. Para buscar informações os motores virtuais de busca são uteis somente quando quem o usa sabe algo ou muito do assunto pesquisado. Quando isso não acontece, o melhor é buscar os dados nos meios tradicionais, como os livros de textos impressos. Isso pode ser comprovado quando se analisa o índice de abandono dos “massive online open courses” (MOOCS). Nos países ocidentais desenvolvidos com um alto nível de instrução o percentual de abandono desse tipo de cursos é de 92% enquanto nos países menos desenvolvidos e com um nível de instrução inferior a taxa de abandono é de 98%.

3. Estudos demonstram que quando os meios digitais são usados para registrar informações, isso provoca uma queda na capacidade de reter (memorizar) os dados recolhidos. A razão é que os meios digitais induzem os usuários a ter um tratamento superficial das informações. Por outro lado, uma elaboração mental aprofundada do material é essencial para a sua memorização. De fato, nós nos recordamos o que profundamente pensamos. Por isso, as crianças que visitam um museu como uma máquina fotográfica têm muito menos recordações daquele espaço do que outras que simplesmente olharam o que estava exposto.

4. O uso de livros de texto eletrônicos no lugar dos livros de papel faz diminuir o rendimento escolar. Sabe-se que 85 % dos estudantes da Silicon Valley preferem a leitura dos livros impressos e justificam a sua preferência com o fato de poder evidenciar melhor (marcando, sublinhando, escrevendo) o conteúdo dos textos.

5. A capacidade de reter na memória os conteúdos de uma aula é mais elevada quando se toma anotações por escrito, mais do que quando se utiliza um teclado para registrá-las. Isso foi demonstrado por 5 estudos experimentais realizados por 2 pesquisadores dos Estados Unidos. Nesse caso, como em muitos outros, é possível confirmar o que a velha psicologia aristotélica afirmava: nada está na razão sem antes ter passado pelos sentidos. Ao se escrever manualmente um texto, o esforço mecânico e mental é muito maior do que o requerido para digitar algo, o que explica a maior compreensão e memorização do que foi anotado.

 

*Padre Anderson Alves Padre - nasceu em 6 de maio de 1982, em Petrópolis e foi ordenado sacerdote em 7 de dezembro de 2008, na Catedral São Pedro de Alcântara, em Petrópolis. Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis (2004); graduado em Teologia (Licenciatura em ciências religiosas) pela Universidade de Navarra, Espanha (2008); mestre em Filosofia, (especialidade Metafísica e Filosofia da Ciência) pela Pontificia Università della Santa Croce, Roma (2011); doutor em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce, Roma (2011-2014), tendo o seu título reconhecido pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 17/04/2019.

Foi bolsista de pós-doutorado em educação na Universidade Católica de Petrópolis (2014-2018). Mestre em Teologia moral pela Pontificia Università della Santa Croce, em Roma (2019). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Metafísica, teoria do conhecimento, história medieval, educação e fundamentos filosóficos da teologia moral. É professor adjunto de filosofia na Universidade Católica de Petrópolis e professor do programa de pós-graduação em educação da mesma Universidade. Desde 2022 é coordenador do curso de Filosofia, na Universidade Católica de Petrópolis. 

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22 janeiro 2024, 13:48