O poder da clareza: uma reflexão filosófica sobre ascensão da IA
Dom Edson Oriolo - bispo de Leopoldina, MG
Nas minhas aulas, lecionando várias matérias relacionadas à filosofia e, hoje, ao ministrar palestras, sempre comento sobre a evolução do poder. No passado, quem tinha poder era quem tinha força. Depois, o poder era daqueles que detinham o monopólio do capital e, nas últimas décadas, podemos dizer que o poder está relacionado ao conhecimento. Yuval Harari, um historiador israelita, em suas obras, considera que o poder está relacionado à clareza das coisas. Assim, fico pensando que, hoje, têm poder os que possuem e produzem a clareza do conhecimento.
Quando olhamos para o método educacional na Grécia Antiga, vemos que a instrução preferida pelas elites era a instrução individual de um aluno feita por um tutor. Basta lembrar de Aristóteles, quando o rei Filipe II, da Macedônia, convocou-o para ensinar filosofia, medicina e arte para seu filho que, mais tarde, tornou-se Alexandre, o Grande. Podemos também citar o imperador romano Marco Aurélio que, na infância, aprendeu retorica, gramática, direito e filosofia. Os tutores eram os responsáveis por estimular o interesse dos alunos pelos conhecimentos.
Aristóteles foi alguém que estudou muito a lógica e queria melhorar a forma de representar os conhecimentos. Ele focou nos aspectos da lógica dedutiva e os seus trabalhos serviram como base para os demais modelos que usamos hoje, principalmente, o silogismo. A lógica que conhecemos, desde Aristóteles, é um dos mais tradicionais e eficazes instrumentos do raciocínio humano para inferência racional de conclusões.
A lógica silogística de Aristóteles nos permite afirmações sobre o mundo e são as famosas premissas, que nos levam a novas informações, que são as conclusões. Basta lembrar: “Todos os homens são mortais, Pedro é homem. Logo, Pedro é mortal”; “As laranjas são frutas. As frutas são saudáveis ao ser humano. Logo, as laranjas são saudáveis ao ser humano”.
Destarte, podemos entender como a inteligência humana é regida. Somos seres smart. Somos capazes de sentir, reagir, afetar os nossos ambientes pela capacidade de sermos inteligentes, na dinâmica do pensar e produzir conhecimento com clareza, como dizia Sócrates: “Eu sei que sou inteligente, porque eu sei que nada sei”.
Na atualidade, estamos capacitando máquinas e treinando sistemas para esquematizar, dar instruções e fornecer dados, permitindo a reprodução de conhecimento. Grandes empresas de tecnologia (as big techs), como Google, Amazon, Facebook, Apple, Microsoft e Netflix, estão investindo pesadamente em inteligência artificial (IA) para uma ampla gama de aplicações. Essas empresas alimentam suas IA’s, que são capazes de prever padrões no comportamento humano em todas as dimensões. Elas ajudam a simular e apresentar conhecimentos.
O aprendizado das máquinas (machine learning) é executada por algoritmos. São passos que produzem resultados por uma saída desejável. Seguem sequências que são repetidamente revisadas por tentativas de erro para melhorar a precisão. Os algoritmos mostram todos os caminhos possíveis para resolver de maneira rápida aquilo que solicitamos.
Já no contexto dos sites de buscas ou até mesmo em plataformas de comércio eletrônicos, as IA’s das chamadas “retargeting” ou “remarketing” utilizam algoritmos para sugerir anúncios com base no comportamento da navegação do usuário na internet, proporcionando ao anunciante segmentar o seu público alvo, de acordo com a intenção do usuários.
A inteligência artificial esclarece dúvidas, traz conhecimentos e é capaz de contextualizar a importância dos conteúdos. Ela é construída em cima de uma tecnologia que vai nos ajudar a pensar e a chegar a soluções por conta própria, quando formos capazes de adentrar tais processos do algoritmo.
No entanto, quando falamos de inteligência humana e artificial, podemos dizer que, na inteligência humana, temos os nossos 86 milhões de neurônios que ajudam nossos expedientes racionais fazerem a simples apreensão e o juízo, fechando com o raciocínio. Quando falamos em inteligência artificial, podemos nos lembrar da máquina que necessita ser programada para ser executada. Ela pode impactar de diferentes modos a força do trabalho, as decisões mais capazes de trazer soluções e informações para o ser humano. Assim, a inteligência artificial vem transformando drasticamente a vida das pessoas.
A inteligência humana executa funções cognitivas, enquanto a inteligência artificial, além de armazenar e manipular dados, muda nossa maneira de viver como imagem e semelhança do Bom Deus. “É necessário prevenir, propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único.” (cf. Mensagem do Papa Francisco - 58.º Dia Mundial da Comunicação).
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