Papa às Pontifícias Academias: saibam falar aos corações dos jovens
Cidade do Vaticano
Realizou-se, nesta terça-feira (05/12), no Palácio da Chancelaria, no Vaticano, a 22ª Sessão Solene Pública das Pontifícias Academias. Durante o evento, o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, entregou o “Prêmio das Pontifícias Academias” .
Para a ocasião, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e do Conselho de Coordenação entre as Academias Pontifícias, Cardeal Gianfranco Ravasi.
Este encontro das sete Pontifícias Academias, que se realiza a cada ano desde 1995, é “um incentivo à pesquisa e ao aprofundamento de temas fundamentais para a visão humanista cristã”, afirma o Papa no texto.
Esta edição sobre o tema “In interiore homine. Percursos de pesquisa na tradição latina”, tem como protagonista, pela primeira vez, a Pontifícia Academia Latinitatis, inserida no Conselho de Coordenação entre as Pontifícias Academias logo depois de sua instituição, iniciativa do Papa emérito Bento XVI, “a fim de incentivar o compromisso de um maior conhecimento e um uso mais competente da língua latina no âmbito eclesial e no vasto mundo da cultura”.
O Papa ressalta na mensagem que esse tema “pretende conjugar os itinerários de pesquisas expressos por autores latinos, clássicos e cristãos, com uma temática absolutamente central, não somente na experiência cristã, mas também humana. O tema da interioridade, do coração, da consciência e da autoconsciência está presente em toda cultura como também nas diferentes tradições religiosas e se repropõe com urgência e força em nosso tempo, muitas vezes caracterizado pela aparência, pela superficialidade, pela divisão entre coração e mente, interioridade e exterioridade, consciência e comportamentos. Os momentos de crise, de mudança, de transformação não somente das relações sociais, mas sobretudo da pessoa e sua identidade profunda, lembram inevitavelmente a reflexão sobre a interioridade e sobre a essência íntima do ser humano”.
Parábola do Pai Misericordioso
“O itinerário da vida cristã e da vida humana é sintetizado pelo dinamismo interior e depois exterior, que dá início ao caminho de conversão, de mudança profunda, coerente e não hipócrita, de desenvolvimento integral autêntico da pessoa.” A esse propósito o Papa cita a Parábola do Pai Misericordioso que teve compaixão de seu filho pródigo.
Francisco recorda algumas figuras pertencentes ao mundo clássico greco-romano e ao mundo cristão, como os Padres da Igreja e os escritores latinos do primeiro milênio cristão que refletiram sobre esse dinamismo interior do ser humano, “propondo-nos vários textos que ainda hoje são profundos e atuais, e não devem cair no esquecimento”.
Obras de Santo Agostinho
Citou as obras de Santo Agostinho como as “Confissões” e o “De vera religione”, em que o santo se interroga sobre que é a verdadeira harmonia e, resumindo tanto a sabedoria antiga quanto as palavras do Evangelho, afirma: “Não saia de si, volte para si mesmo; a verdade habita no homem interior e, se você achar que sua natureza é mutável, transcende a si” (39,72).
A reflexão de Santo Agostinho se torna um forte apelo no Comentário ao Evangelho de João (18,10): “Volte ao seu coração! Onde você quer ir longe de si? Indo longe, você vai se perder. Por que andar em estradas desertas?”. Renovando o convite, aponta a meta, a pátria do itinerário humano: “Volte ao coração; e lá examine aquilo que talvez você percebe de Deus, porque a imagem de Deus está lá; Cristo habita no interior do homem.”
Não se deixar cair nos labirintos
Segundo o Papa Francisco, essas “afirmações sugestivas” são atuais sobretudo para os “jovens que, iniciando a grande aventura da vida, muitas vezes se envolvem nos labirintos da superficialidade, da banalidade, do sucesso exterior que esconde um vazio interior, da hipocrisia que camufla a divisão entre as aparências e o coração, entre o corpo bonito e cuidado, e a alma vazia e árida”.
Francisco fez um apelo aos acadêmicos, aos participantes da 22ª Sessão Solene Pública das Pontifícias Academias, aos que têm a tarefa do ensino e da transmissão da sabedoria dos Padres da Igreja, contida nos textos da cultura latina: “Saibam falar aos corações dos jovens, saibam valorizar a rica herança do patrimônio da tradição latina para educá-los no caminho da vida e acompanhá-los ao longo das estradas ricas de esperança e confiança, aproveitando a experiência e a sabedoria daqueles que tiveram a alegria e a coragem de ‘voltar a si mesmos’ para seguir a própria identidade e vocação humana”.
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