Francisco: nossas vocações têm raízes na terra e coração no céu
Silvonei José – Cidade do Vaticano
Depois de visitar a Catedral de Trujillo e depositar flores aos pés da Virgem, o Papa chegou ao “Colégio Seminário” e aos sacerdotes, religiosos e especialmente aos seminaristas disse: “As nossas vocações terão sempre essa dupla dimensão, raízes na terra e coração no céu. Quando um desses dois está faltando, nossa vida, pouco a pouco, definha”.
É com a “Memória” e com as virtudes que dela nascem que “Tudo nos leva a olhar para as nossas raízes, para o que nos sustenta no curso do tempo e da história para crescer rumo ao Alto e dar fruto. Nas palavras de Francisco aos sacerdotes, religiosos e seminaristas reunidos no “Colégio Seminário” de Trujillo, a grande consciência de que: “a memória olha para o passado a fim de encontrar a seiva que, ao longo dos séculos, irrigou o coração dos discípulos e, assim, reconhece a passagem de Deus pela vida do seu povo. Memória da promessa que Ele fez aos nossos pais e que, perdurando viva no meio de nós, é causa da nossa alegria e nos faz cantar: «O Senhor fez por nós grandes coisas; por isso exultamos de alegria».
E é precisamente a partir deste “ser rico de memória”, explica o Papa, que brotam as virtudes como “A consciência feliz de si”, “a hora da chamada” e “a alegria contagiosa”.
“A consciência feliz de si”
Figura de referência para o Papa Francisco, é João Batista, que tem profunda consciência de ser apenas aquele que “anuncia”:
“João Batista sabia que a sua missão era indicar a estrada, iniciar processos, abrir espaços, anunciar que o portador do Espírito de Deus era Outro. Nós, consagrados, não estamos chamados a suplantar o Senhor, nem com as nossas obras, nem com as nossas missões, nem com as intermináveis atividades que temos de fazer. Simplesmente nos é pedido para trabalhar com o Senhor, lado a lado”.
Mas como combater a tentação de se sentir muito importante? Francisco tem um conselho:
“Aprender a rir de si mesmo nos dá a capacidade espiritual de estar diante do Senhor com nossos próprios limites, erros e pecados, mas também com os próprios êxitos e com a alegria de saber que Ele está do nosso lado. Duas píluas: uma vez é suficiente, olhar-se no espelho.
Lembrar-se da hora de sua chamada
Continuando em seu discurso e citando a passagem do Evangelho de João em que o apóstolo recorda a hora exata de seu encontro com Jesus, Francisco pede aos presentes para se lembrarem quando foram “tocados” pelo “olhar” de Cristo, porque: “sempre que nos esquecemos desta hora, esquecemo-nos das nossas origens, das nossas raízes; e, perdendo estas coordenadas fundamentais, pomos de parte a coisa mais preciosa que uma pessoa consagrada pode ter: o olhar do Senhor. Deixe-se olhar”.
Uma chamada, explica, que não se pode esquecer e que nasce do “amor entranhado, amor de misericórdia que comove as nossas entranhas para ir servir aos outros com o estilo de Jesus Cristo”. O próximo passo, também fundamental para o Pontífice, é recordar de quem a fé foi transmitida porque, sublinha Francisco, “o povo fiel de Deus possui o olfato” e “sabe distinguir quem é rico de memória e que é sem memória”. Daí o convite para “não esquecer, e muito menos desprezar, a fé simples e fiel do povo”. “Saibam acolher, acompanhar e estimular – encoraja o Papa – o encontro com o Senhor. Não se tornem profissionais do sagrado, que se esquecem do seu povo, de onde o Senhor os tirou. Não percam a memória e o respeito por aqueles que os ensinaram a rezar.
A alegria contagiosa
Na terceira reflexão, a figura evangélica de referência é o apóstolo André:
“André começa o seu apostolado pelos mais próximos, pelo seu irmão Simão, quase como algo natural, irradiando alegria. Este é o melhor sinal de que «descobrimos» o Messias. A alegria é uma constante no coração dos apóstolos; vemo-la na força com que André confidencia ao seu irmão: «Encontramo-Lo!» Portanto «a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”
Eis, então, a importância e a necessidade de contrastar “neste mundo fragmentado”, o isolamento e a solidão:
“somos desafiados a ser artífices e profetas de comunidade. Porque ninguém se salva sozinho. E gostaria de ser claro nisto. A fragmentação ou o isolamento não é algo que acontece «fora», como se fosse apenas um problema do «mundo». Irmãos, as divisões, as guerras, os isolamentos, vivemo-los também dentro das nossas comunidades, e quanto mal nos fazem”.
Na sua clareza, o Papa Francisco continua a explicar como “ser artífices de comunhão e unidade” signifique “apreciar” as “diferenças", sabendo que cada um, a partir de sua própria especificidade, oferece sua contribuição, mas precisa dos outros”. Outra tentação a ser combatida, adverte, é a do “filho único” que “quer tudo para si mesmo, porque não tem quem compartilhar”:
“Àqueles que devem exercer encargos no serviço da autoridade, peço, por favor, que não se tornem autorreferenciais; procurai cuidar dos vossos irmãos, fazei com que estejam bem, porque o bem é contagioso. Não caiamos na armadilha duma autoridade que se transforma em autoritarismo, esquecendo que, antes de tudo, é uma missão de serviço”.
Grande atenção do Papa Francisco também ao diálogo entre sacerdotes jovens e idosos. Um diálogo entre diferentes gerações, capaz de enriquecer um e outro e, acima de tudo, “fazer sonhar”, quem está mais avante nos anos.
É, portanto, com um sincero convite a viver na alegria do servir e do ter encontrado Cristo, que o Papa Francisco conclui seu discurso cheio de referências e anedotas pessoais e histórias diárias: no verdadeiro próprio estilo que o distingue
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