Papa Francisco recebe bispos da Igreja Caldeia
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu na manhã desta segunda-feira no Vaticano, os bispos da Igreja Caldeia, em visita "ad Limina Apostolorum".
Historicamente, a Igreja Católica Assírio-caldeia é a mais numerosa comunidade cristã no Iraque. Mas no total, são cerca de 1 milhão de fiéis, dos quais somente 250 mil viviam no Iraque em 2010.
Estrutura da Igreja Caldeia
O atual primaz – que como os seus antecessores assume o título Patriarca de Babilônia dos Caldeus e reside em Bagdá – é S.B. Louis Raphaël I Sako.
A Igreja Caldeia no Iraque é subdividida em uma arquieparquia própria do Patriarca e 7 eparquias (dioceses de rito oriental)
Patriarcado de Babilônia dos Caldeus: S.B. Louis Raphaël I Sako, que tem como eparquia própria a Arquieparquia metropolitana de Bagdá dos caldeus.
Eparquias sufragâneas
Alquoch dos Caldeus: Dom Mikha Pola MAQDASSI
Amadiyah(Amadia) e Zākhō (Zaku) dos Caldeus: Mons. Rabban AL-QAS
Aqrā (Akra) dos Caldeus: vacante
Arquieparquia de Arbil (Erbil) dos Caldeus: Bashar WARDA, C.SS.R.
Arquieparquia de Bassorah (Basra) dos Caldeus: Dom Habib H. J. AL-NAWFALI
Arquieparquia de Kerkūk dos Caldeus: Dom Yousif Thomas MIRKIS, O.P.
Arquieparquia de Mosul dos Caldeus: vacante
Circunscrições Eclesiásticas caldeias presentes em outros países
Além do Iraque, os caldeus estão presentes no Irã (4 Circunscrições Eclesiásticas), Síria (2 Circunscrições Eclesiásticas), Líbano (1 Circunscrição Eclesiásticas), Turquia (1 Circunscrição Eclesiásticas), Egito (1 Circunscrição Eclesiásticas), Estados Unidos (2 Circunscrições Eclesiásticas) ,Canadá (1 Circunscrição Eclesiásticas), Austrália (1 Circunscrição Eclesiásticas).
A estes somam-se os fiéis caldeus residentes em diversos países europeus, sobretudo do norte, confiados a um Visitador Apostólico (atualmente Dom Saad Sirop).
Quem são os assírio-caldeus
Os assírio-caldeus são os descendentes do povo assírio que habitava a Mesopotâmia há 6.700 anos, e tinha por capital Nínive.
Ao longo dos séculos, eles preservaram a identidade, a língua e uma cultura própria, antes da chegada da influência árabe.
Foram os primeiros a acolher a mensagem cristã no século I, após a pregação de São Tomás de Aquino e de seus discípulos.
A denominação “caldeu” passou a prevalecer na Roma do século XVII, em contraposição ao termo “Sírio Oriental”, denominação tradicionalmente utilizada nas regiões habitadas pelos caldeus.
Alguns missionários da Mesopotâmia levaram este patrimônio ritual à Ásia Central, China e Índia.
Na Liturgia, conservou-se unicamente o uso do siríaco, escrito e pronunciado de maneira diversa daquele usado na Síria.
O hábito de ler os perícopes estruturais e poucas outras fórmulas em árabe, propagou-se sobretudo na Mesopotâmia.
Origens da Igreja Caldeia
As origens da Igreja Caldeia remontam ao século XIII, quando alguns missionários católicos, fundamentalmente dominicanos e franciscanos, desenvolveram um intenso trabalho entre os fiéis da Igreja Oriental Assíria.
A Igreja Assíria era caracterizada a partir da metade do século XV por uma tradição de sucessões patriarcais hereditárias, de tio à sobrinho.
Foi precisamente a recusa em aceitar um destes patriarcas em 1552, que um grupo de bispos assírios decidiu buscar a união com Roma.
O abade Yuhannan Sulaka, com este fim, é nomeado patriarca, com o encargo específico de promover este desejo de união com a Igreja Católica.
A reaproximação deu seus frutos em 1553, quando o Papa Júlio III o proclamou patriarca com o nome de Simão VIII “dos caldeus”, ordenando-o bispo na Basílica de São Pedro em 9 de abril do mesmo ano.
Ao retornar para sua pátria, contudo, Simão VIII não teve uma vida fácil. Sofreu forte oposição do patriarca rival assírio, que não hesitou em mandar prendê-lo, torturá-lo e ordenar sua execução, o que ocorreu em janeiro de 1555.
Esta controvérsia entre os favoráveis e contrários ao catolicismo prosseguiu por dois séculos.
Somente em 1830 a situação estabilizou-se, após a confirmação do Papa Pio VIII do Metropolita João Hormizda como líder de todos os católicos caldeus, com o título de Patriarca de Babilônia dos Caldeus, com sede em Mosul.
Quase dizimados durante a I Guerra Mundial, os católicos caldeus foram obrigados a mudar continuamente a sua sede até 1950, ano em que o Patriarcado estabeleceu-se em Bagdá, o que continua até os dias de hoje.
A tradição ritual caldeia
A liturgia caldeia tem suas origens no século V, na cidade de Edessa.
Foi revista no século VII: dela foram suprimidos os exorcismos na administração do Batismo e foi abreviada a cerimônia de ordenação.
Os textos litúrgicos foram retocados diversas vezes até o século XVIII.
Na celebração da Missa são proclamadas quatro catequeses e o acesso ao altar é acompanhado por uma longa cerimônia.
O Ofício consta de somente três horas. O Ano Litúrgico é dividido em período de sete semanas cada um, as festas em honra aos Santos são em número limitado.
Na liturgia caldeia, a língua oficial é o aramaico, mas como os fiéis falam o árabe, a celebração da Santa Missa é bilíngue.
A Igreja Caldeia hoje: o êxodo dos caldeus do Iraque e da Síria
A vida dos caldeus, assim como de outras comunidades cristãs, não tem sido fácil no Iraque.
Saddam Husseim implantou um regime laico e os cristãos haviam encontrado um modus vivendi que havia permitido à Igreja desenvolver atividades também no campo sócio-caritativo.
Mas já nos tempos da ditadura teve início uma emigração sempre crescente, devido também ao suceder de guerras no país.
Neste quadro, formaram-se numerosas comunidades de caldeus no exterior, o que levantou também o problema de sua assistência espiritual e da salvaguarda de sua identidade cultural.
Os êxodos mais maciços tiveram início depois da intervenção militar dos Estados Unidos em 2003, com o aumento da insegurança e dos atentados contra igrejas e instituições religiosas.
Êxodo dos caldeus do Iraque e da Síria
Em 2010 eram cerca de 250 mil fiéis de rito caldeu no Iraque. Cifra esta que reduziu-se ulteriormente após a tomada do norte do país pela facção Estado Islâmico.
Aqueles que haviam fugido para a Planície de Nínive para escapar dos ataques e dos atentados no sul, foram de novo obrigados a abandonar às pressas também esta área em 2014, com a chegada do Isis, e que esvaziou da presença cristã no berço histórico do cristianismo mesopotâmico.
Muitas destas famílias, assim como as sírias, encontraram refúgio nos campos de refugiados na Jordânia, Síria, Turquia e Líbano ou receberam asilo em outros países.
Depois da libertação da Planície de Nínive no decorrer de 2017, poucos tiveram a coragem de retornar para suas casas, por causa da perdurante insegurança em seu país, enquanto a emigração rumo à Europa, Estados Unidos, Canadá, América Latina e Austrália assumiu sempre mais o caráter de uma mudança definitiva.
Acolhida do clero caldeu nas dioceses da diáspora
Junto com os fiéis, também muitos sacerdotes e monges deixaram as próprias dioceses e casas religiosas no Iraque nos últimos anos - até mesmo sem a permissão de seus Superiores - para migrar aos Estados Unidos e outros países, onde é maior a presença de membros da diáspora caldeia.
Este afastamento não autorizado provocou diversas repreensões por parte do Patriarca Sako, que em outubro de 2014 publicou um decreto em que ordenava a quem saiu sem permissão, retornar às respectivas dioceses de origem, ou de tratar com os próprios bispos e com os líderes das comunidades a regularização da própria transferência.
Sínodo da Igreja Caldeia em Roma em outubro de 2015
O êxodo dos caldeus do Iraque e da Síria e a questão dos sacerdotes e religiosos caldeus iraquianos que se estabeleceram no exterior sem o consenso de seus bispos, estiveram entre os principais temas tratados no último Sínodo da Igreja Caldeia iraquiana e da diáspora realizado em Roma, em outubro de 2015.
Ao final dos trabalhos, os padres sinodais divulgaram uma declaração que teve seu foco no tema da reconciliação, do perdão, da unidade e coesão, além de um apoio para a Liga Caldeia, como caminho privilegiado para garantir a participação dos cristãos na vida política do Iraque, mesmo sem transformar-se em um partido.
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