Papa saúda jovem refugiado vindo da Síria Papa saúda jovem refugiado vindo da Síria 

Papa à Santo Egídio: atravessem fronteiras e muros para reunir

Ao visitar novamente a Basílica Santa Maria em Trastevere, desta vez pelos 50 anos de fundação da Comunidade de Santo Egídio, o Papa Francisco não escondeu seu admiração pelo trabalho realizado pelos seus 60 mil membros em diversas partes do mundo, sintetizado nas palavras "oração, pobres, paz".

Cidade do Vaticano

Na tarde chuvosa deste domingo, 11 de março, o Papa Francisco foi à Basílica Santa Maria in Trastevere por ocasião dos 50 anos de fundação da Comunidade de Santo Egídio.

Francisco já havia visitado a comunidade, que com mais de 60 mil membros em vários locais do mundo, trabalha com refugiados, pobres, idosos, jovens e diálogo inter-religioso, entre outros.

“Aqui dentro há generosidade. O coração aberto também, o coração aberto a todos, sem distinção (...) e isto faz a vida seguir em frente”, disse aos presentes reunidos na Praça existente na frente da Igreja, após ser saudado pelo presidente da comunidade, Marco Impagliazzo.

Testemunhos

 

Depois da leitura do Evangelho e a meditação do pároco padre Marco Gnavi, alternaram-se no microfone quatro rostos conhecidos na comunidade: uma senhora de 80 anos, muito ativa no trabalho com presidiários, com refugiados que aprendem o italiano e no contato com as novas gerações; de Jafar, de 15 anos, palestino-sírio de Damasco, há 2 anos vindo do Líbano, e que depois de aprender italiano na comunidade passou a frequentar a escola pública e no tempo livre, trabalha como voluntário em um Instituto que acolhe idosos; Laura Guida, de 32 anos, membro do movimento Jovens pela Paz da Comunidade de Santo Egídio e Mauro Garofalo, responsável pelas relações internacionais da comunidade, que está trabalhando como mediador na República Centro-Africana. Ele agradeceu ao Papa pela Evangelii Gaudium e a sua proposta de sair das sacristias e da autoreferencialidade, porque desde então “um grande povo colocou-se a caminho”.

Em suas palavras, Francisco convidou a comunidade a viver este aniversário não somente como uma celebração do passado, mas sobretudo como “alegre manifestação de responsabilidade pelo futuro”, e indicou o caminho futuro para a comunidade: que este “aniversário cristão” não seja para fazer balanços, mas para transformar a fé em “nova audácia para o Evangelho”, “atravessando fronteiras e muros para reunir”.

Oração, pobres, paz

 

O Papa recordou o “talento” da comunidade sintetizado na “oração, pobres, paz”, as mesmas palavras usadas na visita em 15 de junho de 2014. Mas na parábola dos talentos – sublinha – um servo não investe o seu talento por medo, como o mundo hoje “muitas vezes tomado pelo medo e também pela raiva”, medo que se concentra frequentemente em relação “a quem é estrangeiro, diferente de nós, pobre, como se fosse um inimigo”.

Se estamos sozinhos, mesmo nós cristãos “somos facilmente tomados pelo medo”. Mas o caminho da comunidade de vocês ajuda a olhar para o futuro junto com a Igreja, porque é filha do Concílio Vaticano II.

Francisco então, volta seu olhar às tantas guerras existentes e pensa na “dor do povo sírio”, momento em que irrompem efusivos aplausos na basílica.

O Papa sublinha a importância da Palavra de Deus que “vos protegeu no passado das tentações da ideologia e hoje vos liberta da intimidação do medo”. Por isto – acrescentou – vos exorto a amarem e frequentarem sempre mais a Bíblia. Cada um encontrará nela a fonte da misericórdia pelos pobres, os feridos pela vida e pela guerra”. “Esta é a espiritualidade que vem do Concílio, que ensina uma grande e atenta compaixão pelo mundo”.

Globalização da solidariedade

 

Nestes 50 anos, o mundo tornou-se “global”, mas se a economia e as comunicações foram unificadas, para muitos, especialmente para os pobres, levantaram-se novos muros, e as suas diferenças são motivos para hostilidade.

Ainda está para ser construída uma globalização da solidariedade e do espírito. O futuro do mundo global é viver juntos: este ideal requer o compromisso de construir pontes, manter aberto o diálogo, continuar a encontrar-se. Não é somente um fato político ou organizativo. Cada um é chamado a mudar o próprio coração, assumindo um olhar misericordioso pelo outro, para torna-se construtor de paz e profeta de misericórdia”.

Nunca digam: “O que eu tenho a ver com isto?”, pois somos irmãos de todos e, por isto, profetas de um mundo novo.

Façam desta recorrência um aniversário cristão”, não um tempo para balanço, “mas tempo em que a fé é chamada a tornar-se uma nova audácia para o Evangelho":

"A audácia não é a coragem de um dia, mas a paciência de uma missão cotidiana na cidade e no mundo. É a missão de tecer novamente o tecido humano das periferias, que a violência e o empobrecimento rasgaram; de comunicar o Evangelho por meio da amizade pessoal; demostrar como uma vida torna-se realmente humana quando é vivida ao lado dos mais pobres; de criar uma sociedade em que ninguém mais é estrangeiro. É a missão de atravessar as fronteiras e os muros para reunir”.

Pobres, o vosso tesouro

 

Hoje – exortou o Papa – continuem com audácia por este caminho:

“Continuem a estar ao lado das crianças das periferias com as Escolas da Paz”, que eu visitei; continuem a estar ao lado dos idosos, às vezes descartados, mas para vocês são amigos. Continuem a abrir novos corredores humanitários para os refugiados da guerra e da fome. Os pobres são o tesouro de vocês”.

“Vocês são de Cristo!”, foi a saudação final de Francisco à comunidade de Santo Egídio. “E sejam sempre de Cristo na oração, no cuidado pelos seus irmãos menores, na busca da paz, porque Ele é a nossa paz”.

Pouco antes das 18 horas, antes do previsto, o Papa deixou a Basílica e a Praça Santa Maria in Trastevere, para retornar ao Vaticano.

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Encontro do Papa com a Comunidade de Santo Egídio
11 março 2018, 18:56