Migração e abusos: o primeiro discurso do Papa na Irlanda
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
O conceito do conjunto das nações como uma única família humana foi o cerne do primeiro discurso pronunciado pelo Papa Francisco na Irlanda.
Diante dos membros do governo irlandês e do corpo diplomático, no Castelo de Dublin, o Pontífice recordou o motivo de sua visita, que é participar do Encontro Mundial das Famílias.
“Se falamos do mundo inteiro como de uma só família, é porque justamente reconhecemos os laços da nossa humanidade comum e intuímos a chamada à unidade e à solidariedade, especialmente em relação aos irmãos e irmãs mais vulneráveis.”
Ódio e conflitos
Entre os males persistentes que desafiam a humanidade, Francisco citou o ódio racial e étnico, os conflitos e violências, o desprezo pela dignidade humana e o crescente abismo entre ricos e pobres.
“Quanta necessidade temos de recuperar, em cada área da vida política e social, o sentido de ser uma verdadeira família de povos! E de nunca perder a esperança e a coragem de perseverar no imperativo moral de sermos obreiros de paz, reconciliadores e guardiões uns dos outros.”
Irlanda do Norte
O Papa citou em especial os 20 anos da assinatura do Acordo da Sexta-Feira Santa, que pôs fim a décadas de conflitos com a Irlanda do Norte, cujos representantes estavam presentes no Castelo de Dublin. “A paz é dom de Deus”, recordou Francisco, mas requer também uma conversão constante de nossa parte.
Migração
O Pontífice apontou a crise migratória como a questão mais desafiadora dos tempos atuais, “cuja solução exige sabedoria, perspectivas amplas e uma preocupação humanitária que ultrapasse em muito decisões políticas de curto prazo”.
Abusos
Falando dos mais vulneráveis, Francisco citou ainda o “grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos sobre menores por parte de membros da Igreja”.
“O falimento das autoridades eclesiásticas ao enfrentarem adequadamente estes crimes repugnantes suscitou, justamente, indignação e continua a ser causa de sofrimento e vergonha para a comunidade católica. Eu próprio partilho estes sentimentos.”
O Papa afirmou que é preciso remediar os erros passados e adotar normas rigorosas para que esses casos não voltem a ocorrer. E manifestou a esperança de que os escândalos aumente a proteção de menores e adultos vulneráveis por parte de toda a sociedade.
Raízes cristãs
Francisco concluiu seu discurso recordando as raízes cristãs da Irlanda, com a pregação de Paládio e Patrício, e citou santos ilustres da Irlanda, como Colomba, Columbano, Brígida, Gallo, Killian e Brendan.
“Rezo para que a Irlanda, enquanto escuta a polifonia da discussão político-social contemporânea, não esqueça as vibrantes melodias da mensagem cristã, que a sustentaram no passado e podem continuar a fazê-lo no futuro.”
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