Papa em visita surpresa a acadêmicos de Roma: fraternidade universal salva do individualismo
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A tradicional meditação de Quaresma que a Pontifícia Universidade Lateranense de Roma organiza todo o ano foi feita através de uma visita surpresa do Papa Francisco à comunidade acadêmica e antes de uma série de compromissos do Pontífice dedicados à Cidade Eterna, no Capitólio.
O Pontífice começou a Lectio Divina na Aula Magna através de uma reflexão da primeira leitura do dia do livro do profeta Daniel (Dn 3, 25. 34-43). O texto traz a oração de três jovens, filhos de Israel, Hananias, Azarias e Misael, jogados numa grande fornalha ardente pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, porque se recusaram a adorar a sua estátua de ouro, convictos da fidelidade a Deus e de proteger a liberdade. Atitudes que os expôs ao martírio, “como acontece também hoje aos seus colegas cristãos, em algumas partes do mundo”, disse o Papa. Deus, porém, impediu o mal aos jovens.
“Ser encobertos pelas chamas e permanecer ilesos: acontece com a ajuda do Senhor Jesus, o Filho de Deus, e da inspiração do Espírito Santo. Eu imagino vocês assim: mesmo se vivemos num contexto cultural marcado pelo pensamento único, que envolve todos e faz adormecer com o seu abraço mortífero e queima toda forma de criatividade e de pensamento divergente, vocês caminham intactos graças à consagração em Jesus e no seu Evangelho, que se tornou atual pelo poder do Espírito Santo. Dessa maneira, conservem um olhar alto e também um olhar outro sobre a realidade, uma diferença cristã portadora de novidade.”
O inverno demográfico
O Papa convidou os estudantes a fazerem parte dessa realidade “com sabedoria crítica e capacidade de discernimento” para contribuir à vida cultural e social do mundo. Essa “adesão ao Evangelho”, com pensamento autêntico, ajuda a não ceder às tentações do individualismo, inclusive aquele descrito por Francisco como “inverno demográfico”, perigoso e que nos separa dos outros:
“’Mas por que não tem filho, ao menos, dois?’ – ‘Não, mas penso, eu gostaria de fazer uma viagem, espero ainda mais um pouco...’. E assim os casais seguem sem fecundidade. Por egoísmo, por querer mais, para fazer viagens culturais, mas os filhos não vêm. Aquela árvore não dá frutos. O inverno demográfico que hoje todos nós sofremos é realmente o efeito desse pensamento único, egoísta, dirigido somente a nós mesmos, que busca somente a ‘minha’ realização. Estudantes, pensem bem nisso: pensem em como esse pensamento único é tão ‘selvagem’... Parece muito cultural, mas é ‘selvagem’, porque te impede de fazer história, de deixar depois de ti uma história.”
“É uma vergonha”, afirmou o Papa, essa exaltação do próprio “eu” pessoal e do grupo, em desprezo aos outros, aos pobres. Precisamos evitar de “sermos queimados” no cérebro, no coração, no corpo e nas relações por essa “doença do individualismo”, mas nos deixar conduzir pela mão do Senhor, construindo uma “mística do nós”, fermento da fraternidade universal que nos salva do individualismo e propicia “uma espiritualidade de solidariedade global”.
O futuro precisa de revolução cultural corajosa
Ao concluir, o Papa sublinhou a necessidade de uma “mudança de paradigma” inclusive para os estudantes universitários eclesiásticos que não devem “ficar dissociados da humanidade”, não devem “jogar com os conceitos ou se prender a fórmulas abstratas”, mas, sim, ser capazes de “uma revolução cultural corajosa”.
O Pontífice enalteceu a importância dos estudos, fundados no Evangelho, para ajudar a interpretar o mundo e desejou que todos fossem abertos ao futuro, ao sonhá-lo e projetá-lo:
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