Papa à Roaco: tenho o desejo de ir ao Iraque no próximo ano
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (10/06), na Sala do Consistório, no Vaticano, cerca de cem participantes da 92ª Assembleia Plenária da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (Roaco).
Em seu discurso, Francisco sublinhou que desde o último encontro com a Roaco ele teve várias ocasiões para encontrar as realidades ligadas ao trabalho da Congregação para as Igrejas Orientais, e citou como exemplo, as viagens apostólicas à Bulgária, Macedônia do Norte e Romênia, e o dia de oração e diálogo com os Patriarcas do Oriente Médio, em 7 de julho do ano passado, em Bari, na Itália.
Risco de uma crise humanitária na Síria
“Nesses dias, as contribuições dos representantes pontifícios de alguns países, bem como dos relatores que foram escolhidos, ajudarão vocês a ouvir o grito daqueles que, nestes anos, lhes foram roubadas a esperança: penso com tristeza, mais uma vez, ao drama da Síria e às nuvens densas que parecem aumentar sobre ela em algumas áreas ainda instáveis e onde o risco de uma crise humanitária ainda maior permanece alto.”
O Papa também recordou “as pessoas que não têm alimento, as que não têm assistência médica, não têm escola, os órfãos, os feridos e viúvas que levantam as suas vozes”. “Se os corações dos homens são insensíveis, o de Deus não é, ferido pelo ódio e pela violência que pode desencadear-se entre suas criaturas”, um coração “capaz sempre de se comover e cuidar delas com a ternura e a força de um Pai que protege e guia. Mas também, muitas vezes penso na ira de Deus que se desencadeará contra os responsáveis daqueles países que falam de paz e vendem armas para fazer essas guerras. Essa hipocrisia é um pecado". A seguir, disse:
Construção do bem comum no Iraque
“Um pensamento insistente me acompanha pensando no Iraque, onde tenho o desejo de ir no próximo ano, para que possa olhar adiante através da participação pacífica e partilhada na construção do bem comum de todos as componentes religiosas da sociedade, e não caia novamente em tensões que vêm dos conflitos intermináveis de potências regionais”.
Esperança de paz na Ucrânia
O Pontífice recordou também a Ucrânia, “para que a sua população possa encontrar a paz, cujas feridas causadas pelo conflito” ele tentou “aliviar com a iniciativa de caridade à qual contribuíram muitas realidades eclesiais”.
Convivência pacífica na Terra Santa
“Na Terra Santa, espero que o recente anúncio de uma segunda fase de estudo da restauração do Santo Sepulcro, que vê as comunidades cristãs do Statu quo lado a lado, seja acompanhado pelos sinceros esforços de todos os protagonistas locais e internacionais para que chegue logo uma pacífica convivência no respeito de todos aqueles que vivem naquela terra, sinal para todos da bênção do Senhor", frisou ainda o Pontífice.
O Papa convidou a ouvir o grito de dor das pessoas que fogem dos conflitos, que deixam tudo para ir a um lugar de esperança. E recordou o que está acontecendo na Europa e seus portos:
Hipocrisia da Europa
“Gritam as pessoas em fuga amassadas dentro de navios, em busca de esperança, sem saber em que portos poderão ser acolhidas na Europa que abre os portos para embarcações que têm que carregar armamentos sofisticados e caros, capazes de produzir devastação que não poupam sequer as crianças. Esta é a hipocrisia da qual eu falei. Somos conscientes de que o grito de Abel sobe até Deus, conforme nos lembramos em Bari há um ano, rezando juntos pelos nossos fiéis do Oriente Médio.”
Francisco também recordou que ao lado da dor, há sempre esperança e consolação, “eco da incansável obra de caridade” que a Roaco realiza e que “manifesta o rosto da Igreja e contribui para torná-la viva, em particular alimentando a esperança das jovens gerações”.
Futuro de paz e prosperidade
Francisco recordou, conforme visto no recente Sínodo, a coragem de muitos jovens que, fascinados pelo anúncio de Cristo, o seguem sem medo, os jovens da Etiópia e da Eritreia que vivem a “fraternidade sincera e respeitosa de cada um” depois da paz assinada entre os dois países.
Fez um apelo para tornar conhecido o documento assinado em Abu Dhabi junto com o Grão-imame de Al-Ahzar, “boa aliança para o futuro da humanidade contida nele”, e a preservar realidades como escolas e universidades que, por exemplo, no Líbano, são autênticos “laboratórios de coexistência e lugares de humanidade aos quais todos podem acessar facilmente”.
“Peço a vocês para prosseguir e aumentar o seu compromisso para que nos países e nas situações que vocês apoiam, os jovens possam crescer em humanidade, livres das colonizações ideológicas, com os corações e mentes abertos, valorizando as suas raízes nacionais e eclesiais e desejando um futuro de paz e prosperidade, que não deixe ninguém para trás e não discrimine ninguém.”
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