Papa Fancisco com as religiosas de vida contemplativa, no Mosteiro das Carmelitas Descalças, em Antananarivo Papa Fancisco com as religiosas de vida contemplativa, no Mosteiro das Carmelitas Descalças, em Antananarivo

Papa às monjas: façam pequenos gestos de amor para cativar Deus

Uma pausa regeneradora num dia denso de encontros e de discursos: o momento de oração do Papa Francisco com as Carmelitas Descalças, na manhã deste sábado (07/09), no mosteiro das religiosas de vida contemplativa, em Antananarivo, Madagascar. O Santo Padre ressaltou a importância dos pequenos gestos, porque são eles que salvam o mundo

Adriana Masotti / Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano

Na Capela do Mosteiro das Carmelitas Descalças de Antananarivo – capital malgaxe –, na manhã deste sábado (07/09), o Papa deixou o discurso previamente preparado para dizer às monjas o que tinha em seu coração naquele momento.

Ouça a reportagem com a voz do Papa Francisco

Francisco partiu de uma palavra da Leitura feita pouco antes, “coragem”, e disse que para seguir o Senhor é preciso sempre um pouco de coragem, mas, observou, vejo que o trabalho mais árduo é Ele quem faz, devemos ter a coragem de deixar que Ele o faça.

A vida comunitária: muitos pequenos atos de amor

Em seguida, contou uma imagem que o ajudou muita em sua vida sacerdotal e de fé. As vicissitudes de duas irmãs, uma jovem e uma anciã, que uma noite, saindo do Coro onde tinham rezado, caminhavam para o refeitório e a anciã quase não podia caminhar.

A jovem buscava ajudá-la, mas a anciã se irritava: “não me toque que assim eu caio”, dizia, mas a jovem a acompanhava sempre com o sorriso. Não é uma fábula, é uma história de vida, disse Francisco e revelou os nomes das duas coirmãs. A jovem era Santa Teresa de Menino Jesus.

É uma história verdadeira, disse, que reflete uma parte da vida comunitária, que mostra o espírito com o qual se pode viver a vida comunitária. A caridade nas pequenas coisas e nas grandes coisas. Fazendo aquilo que a obediência pede.

Sei, disse o Santo Padre, que todas vocês vieram aqui para estar perto do Senhor e para buscar a perfeição, mas a perfeição se encontra nestes pequenos passos de amor. Pequenos passos que parecem nada, mas são pequenos passos que escravizam, que aprisionam Deus.

Isso pensava Santa Teresinha, e essas cordas, repetiu o Papa, são pequenos atos de amor que podemos fazer. É preciso a coragem de dar pequenos passos, a coragem de crer que na minha pequenez Deus é feliz e Deus trará a salvação do mundo. Se você quiser mudar não somente a vida religiosa, mas salvar o mundo, exortou ainda Francisco, comece com esses pequenos atos de amor que aprisionam Deus.

O mosteiro e o chamado do mundo

Voltou, em seguida, à história da jovem e da anciã e disse que, uma noite, enquanto as duas caminhavam do Coro para o refeitório, Teresa ouviu o barulho de música que provinha da cidade, música de festa, de dança e ela pensou nos jovens que dançavam, um matrimônio, um aniversário e talvez tenha sentido que seria bom se pudesse estar ali, mas imediatamente disse ao Senhor que jamais trocaria por aquela festa mundana um dos pequenos gestos que fazia no mosteiro, porque estes gestos a faziam feliz mais do que todas as danças do mundo.

Certamente, disse Francisco, também para vocês o mundanismo chegará de várias formas: saibam discernir com a priora, com a comunidade, discernir as vozes do mundanismo, que não entrem no mosteiro de clausura. Quando vier em vocês pensamentos de mundanismo pensem nos pequenos gestos de amor, eles salvam o mundo. Teresa preferiu ficar com a anciã.

Quando houver algo estranho, falem imediatamente

Cada uma de vocês, prosseguiu o Pontífice, para entrar no convento travou muitas lutas, muitas coisas boas e venceu: abateu o espírito do mundo, o pecado, o diabo. O diabo foi embora entristecido, quando uma de vocês entrou no mosteiro, mas depois vendo uma alma tão bela ele retorna e quer entrar nela e pede a ajuda de outros diabos mais astutos do que ele.

Mas eles não podem entrar fazendo barulho como se fossem ladrões, devem entrar educadamente, e assim os diabos educados tocam a campainha, pedem educadamente para entrar. E desse modo a condição daquela alma é pior do que antes. Você não se deu conta de que era o diabo? – se perguntou o Papa. E agora é tarde demais. Você não falou com sua priora, com o Capítulo, com alguma irmã da Comunidade?

O diabo não quer ser reconhecido e toma para si as vestes de uma pessoa nobre. Muitas vezes se torna até mesmo o assistente espiritual. Em seguida o Papa fez um premente convite: por favor, se você se dá conta de algo estranho, fale imediatamente. Falem logo se algo lhes tira a tranquilidade, antes mesmo de tolher a paz. Essa é a ajuda para defender a santidade, para defender o mosteiro.

Mas, vocês poderão dizer, nós nos defendemos bem do diabo porque temos uma grade dúplice e também uma tenda no meio. Mas não são suficientes. Nem mesmo 100, ressaltou Francisco. A defesa é a caridade e a oração. Assim fazia Teresa de Menino Jesus, falava, falava com a priora, embora esta não lhe quisesse bem. Mas para ela a priora era Jesus.

A luta interior deve ser combatida até o fim

O Papa Francisco retomou a história e disse que depois Santa Teresa adoeceu e pouco a pouco pareceu-lhe ter perdido a fé. Parecia não saber como fazer para afugentar o diabo que girava a seu redor nos últimos meses de sua vida. Chamava suas irmãs para que jogassem água benta em seu leito, para que acendessem velas.

A luta no mosteiro é até o fim, mas é bonita, concluiu o Santo Padre, comentando em seguida, talvez interpretando o pensamento de alguma delas, disse ele mesmo: mas este Papa ao invés de falar-nos de coisas teológicas, falou-nos como a crianças, quem dera fossem todas crianças no espírito, com aquela dimensão da infância que o Senhor tanto ama. E encerrou dizendo que Santa Teresinha agora é aquela que acompanha um ancião, ele mesmo, e que ele quis dar esse testemunho. Quis falar às Carmelitas de sua experiência com uma santa para dizer a todas: “Avante e corajosas!”

A saudação da priora

Na chegada do Pontífice ao mosteiro a priora, Irmã Maria Madalena da Anunciação, dirigiu uma saudação a Francisco na capela, antes da recitação da oração da Hora Média.

Expressou ao Santo Padre a gratidão de todas as coirmãs pelo momento de oração que estavam para viver juntos e um efusivo agradecimento pela “atenção e cuidado” com o qual o Papa “acompanha as monjas de Vida Contemplativa e, em particular, pelos recentes documentos “Vultum Dei Querere” et “Cor Orans”, cujos conteúdos e orientações nos renovam na fidelidade a nossos respectivos carismas e nos abrem à escuta de nossos irmãos e irmãs em humanidade.

É na oração, disse ainda Irmã Maria Madalena, que “haurimos a nossa força e ela é o laço que nos une. E o senhor, Santo Padre, com todas as suas intenções, tem um lugar especial em nossa vida de oração e de amor, no coração da Igreja”.

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07 setembro 2019, 15:10