O Papa: padre Fiorito, o homem que ensinava a ser amigo de Deus
Alessandro De Carolis, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Não é uma novidade que Jorge Mario Bergoglio assine o prefácio de um texto de um dos mestres de sua alma e de muitos jovens jesuítas da Argentina e do Uruguai. Já em 1985 aceitou introduzir o segundo dos dois livros escritos pelo padre Miguel Ángel Fiorito, intitulado "Discernimento e luta espiritual", fazendo entre outras coisas uma observação: "O discernimento espiritual é ter a coragem de ver em nossos rostos humanos os traços divinos". Porque foi isso que o padre Fiorito fez durante toda a sua vida, "sentir e saborear" as pegadas de Deus em seu coração e ensinar a seus coirmãos como recebê-las em toda a sua profundeza, mantendo afastados os enganos do "espírito do mau".
Na Escola do Espírito
Trinta e quatro anos depois, o "aluno" Bergoglio tornou-se Vigário de Cristo, mas o tempo não afetou o sentimento de gratidão pelos ensinamentos do antigo "Mestre Fiorito", como os Jesuítas gostavam de chamá-lo. Isso é demonstrado pela decisão do Papa de apresentar pessoalmente, na próxima sexta-feira às 18h30 na Cúria Geral da Companhia de Jesus, os "Escritos" do jesuíta argentino que agora a Civiltà Cattolica publica reorganizados em 5 volumes organizados pelo padre José Luis Narvaja. As três páginas do prefácio do livro "Escritos 1952-1959" - assinadas pelo Papa - são a expressão de uma gratidão imutável ao homem que, com o seu "Centro de Espiritualidade" e o seu "Boletim", contribuiu de modo lúcido para a recepção da novidade do Concílio em sua Província religiosa e em particular para o desenvolvimento da chamada "teologia do povo", da qual é tecido o magistério de Francisco.
O olfato do "inimigo"
O padre Fiorito, escreve o Papa, tinha interiorizado uma máxima de São Pedro Faber, ou seja, que "saber receber e saber comunicar são duas coisas diferentes e cada uma requer uma graça". Uma graça que o professor argentino possuía de forma suprema. "Seus escritos - observa Francisco -, destilam a misericórdia espiritual, ensinamentos para quem não sabe, bons conselhos para quem precisa, correção para quem comete erros, consolo para os tristes e ajuda a ter paciência na desolação". Como bom jesuíta, praticava assiduamente a arte dos exercícios - particularmente na segunda metade da sua vida - recomendando-os em todas as suas formas, e tinha desenvolvido, observa o Papa, "um olfato especial para 'odorar' o espírito do mau; sabia identificar a sua ação, reconhecer os seus tiques, desmascará-lo pelos seus frutos maus, pelo sabor desagradável e pelo rastro de desolação" que Satanás "deixa à sua passagem".
O folheto que consola
Francisco recorda a imagem do pe. Fiorito subindo perigosamente as escadas de sua biblioteca pessoal - uma parede inteira de seis metros por quatro - com a intenção de encontrar em uma das muitas gavetas cheias de "folhetos", fichas de estudo, orações e ações, aquele correto a entregar "sem muitas palavras" ao irmão que lhe havia confiado "alguma inquietação" ou que o mesmo religioso "tinha intuído escutando falar de suas coisas".
Um bem para muitos
Miguel Ángel Fiorito, diz o Papa, "era fundamentalmente um homem de diálogo e de escuta. Ele ensinou muitos a rezar, a dialogar em amizade com Deus", tentando tudo, mas "guardando apenas o que é bom". Em suma, um "pai amoroso, mestre paciente e adversário firme" quando necessário, "mas sempre respeitoso e leal, nunca inimigo", capaz de discernir "o tempo de Deus" nas coisas e ensinar que o próprio discernimento é a "cura da cegueira espiritual", aquela "triste doença" que atua como uma tela para a ação divina. A convicção de Francisco é que "estes escritos farão um grande bem a toda a Igreja". Têm a altura de um grande sonho", diz ele, e a esperança é que, de um modo semelhante ao passado, quando marcaram a vida de muitas almas, os pensamentos do "Mestre Fiorito" possam colocar "raízes" e dar "flores e frutos na vida de muitas pessoas".
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