Papa Francisco ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé Papa Francisco ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé 

Papa aos diplomatas de 2014 a 2019: amor pelo homem e o bem comum

Através dos discursos do Papa Francisco ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé de 2014 a hoje podemos recordar suas palavras sobre a paz, sobre a realidade mundial e a humanidade

Cidade do Vaticano

Tradicionalmente, alguns dias depois da Epifania, o Papa encontra o Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, para a troca de felicitações de Ano Novo. Em seus discursos, desde o início do pontificado, Francisco abrange não apenas o mundo de Norte a Sul de Leste e Oeste com suas feridas, mas o homem como um todo na sua dimensão social e íntima. Antes de tudo e sobretudo é um olhar de amor pelo homem: mesmo falando da situação internacional, chama em causa o coração de cada um.

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São discursos que unem eventos de crônica, Magistério, e viagens apostólicas. Em particular o Papa recorda a Mensagem para o Dia Mundial da Paz, publicada no dia 1º de janeiro. Para esclarecer apresentamos uma retrospectiva histórica forte, sem esquecer a vocação ao instrumento do diálogo que é o caminho privilegiado pela Santa Sé.

São 6 discursos ao Corpo Diplomático, com o de hoje, o Papa completará o seu sétimo. E se a atenção sempre foi centralizada nos países em conflito, migrantes, violação dos direitos humanos, o futuro dos cristãos do Oriente Médio, ameaça nuclear e a paz como objetivo, todos os anos pode-se encontrar alguma particularidade que compõe o mosaico do olhar de Francisco.

2019: a diplomacia multilateral

Foi o centenário do nascimento da Sociedade das Nações que deu ao Papa a oportunidade de recordar que é premissa indispensável da diplomacia multilateral a boa fé, um confronto leal e a vontade de aceitar os inevitáveis compromissos que nascem do confronto, senão prevalece a busca de soluções unilaterais chegando à prepotência do mais forte sobre o mais fraco.

Por isso, considero importante que, também no presente, não esmoreça a vontade dum confronto sereno e construtivo entre os Estados, pois é evidente que as relações dentro da comunidade internacional e o próprio sistema multilateral no seu conjunto estão atravessando momentos difíceis, com o ressurgimento de tendências nacionalistas, que minam a vocação de as organizações internacionais serem espaço de diálogo e encontro para todos os países.

2018: os direitos “fundamentais” e os inúmeros “novos direitos”

Um aspecto que distingue o discurso de 2018 é, sem duvida, o dos direitos. Os fundamentais e os “novos” a partir dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU em 1948. De fato, Francisco nota que principalmente depois do movimentos de 1968, a interpretação de alguns direitos foi progressimente se modificando, a ponto de incluir inúmeros “novos direitos”, os quais muitas vezes se contrapõem entre eles:

Isto nem sempre favoreceu a promoção de relações amigas entre as nações, porque se afirmaram noções controversas dos direitos humanos que contrastam com a cultura de muitos países, que, por isso mesmo, não se sentem respeitados nas suas próprias tradições socioculturais, antes veem-se transcurados nas necessidades reais que têm de enfrentar. Consequentemente pode haver o risco – de certa forma paradoxal – de que, em nome dos próprios direitos humanos, se venham a instaurar formas modernas de colonização ideológica dos mais fortes e dos mais ricos em detrimento dos mais pobres e dos mais fracos.

2017: a loucura do terrorismo

Em 2017, ao se dirigir ao Corpo Diplomático para as felicitações de Ano Novo, o Papa denuncia o fenômeno do “terrorismo de matriz fundamentalista".

Trata-se duma loucura homicida que, na tentativa de afirmar uma vontade de predomínio e poder, abusa do nome de Deus para semear morte. Por isso, faço apelo a todas as autoridades religiosas para que se mantenham unidas em reiterar vigorosamente que nunca se pode matar em nome de Deus. O terrorismo fundamentalista é fruto duma grave miséria espiritual, que muitas vezes aparece associada também com notável pobreza social. E isto poderá ser plenamente vencido apenas com a colaboração conjunta dos líderes religiosos e dos líderes políticos.

2016: o rosto da misericórdia e os ídolos do lucro

Como sempre a dignidade da vida humana é o pano de fundo dos seus discursos. Um caloroso apelo neste sentido, em particular pelos migrantes que fogem das guerras e miséria em busca de esperança, foi dirigido em 2016 quando repetiu o pedido de “derrubar a cultura do descarte”. O Papa lamentava constatar “que muitas vezes estes migrantes não fazem parte dos sistemas internacionais de proteção baseados nos acordos internacionais”.

Como é possível não ver, em tudo isto, o resultado daquela "cultura do descarte" que põe em perigo a pessoa humana, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo? É grave habituar-se a estas situações de pobreza e necessidade, aos dramas de tantas pessoas, fazendo com que se tornem "normalidade". As pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se "ainda não servem" (como os nascituros) ou "já não servem" (como os idosos)

2015: a cultura do descarte

A denúncia da “cultura do descarte” termo decisivo, já era forte no discurso de 2015 com a exortação à paz que a cada ano se renova diante de “uma verdadeira guerra mundial combatida aos pedaços”. O próprio terrorismo de matriz fundamentalista é “consequência da cultura do descarte aplicada a Deus”, destacava, porque rejeita Deus considerando-o “um simples pretexto ideológico”.

Depois, como frequente objeto de descarte, temos também a família, por causa duma cultura individualista e egoísta, cada vez mais difundida, que rompe os vínculos e tende a favorecer o dramático fenômeno da queda da natalidade, e também de legislações que privilegiam outras formas de convivência, em vez de apoiar adequadamente a família para bem de toda a sociedade.

2014: a atenção do amor da Igreja

Em 2014, seu primeiro discurso ao Corpo diplomático, recordava que o caminho “para resolver os problemas abertos deve ser o da diplomacia do diálogo”, caminho mestre indicado com lucidez pelo Papa Bento XV que pedia para acabar com a “inútil tragédia” da Primeira Guerra Mundial. Já estavam presentes os problemas da cultura do descarte, o drama dos que são obrigados a fugirem de suas terras, dos naufrágios no Mediterrâneo.

Infelizmente, objeto de descarte não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos, que acabam "descartados" como se fossem "coisas desnecessárias". Por exemplo, causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto, ou aquelas que são usadas ? Como soldados, estupradas ou mortas nos conflitos armados, ou então feitas objecto de mercado naquela tremenda forma de escravidão moderna que é o tráfico dos seres humanos, que é um crime contra a humanidade.

O espírito que anima a Igreja a se dedicar a todos os necessitados, é a consciência de que a paz não se reduz a uma ausência de guerra, mas se constrói dia após dia. É a partir desta “atenção de amor” – recordava o Papa – “que a Igreja coopera com todas as instituições que carregam no coração o bem de cada um assim como o bem comum”.

 

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09 janeiro 2020, 11:21