Pós-Covid-19: governantes devem ouvir o Papa para tomar o caminho do bem
Debora Donnini – Cidade do Vaticano
Na sua missa matinal na Casa Santa Marta, o Papa dedica todos os dias suas intenções para um determinado tema. Na segunda-feira (20) suas intenções eram pelo mundo da política. Repetindo Paulo VI, sublinhou que “a política é uma elevada forma de alta caridade”, o Papa rezou pelos partidos políticos dos vários países, “para neste momento de pandemia procurar juntos o bem do país e não o bem do próprio partido”. Um chamado fundamental, como sublinha o historiador Agostino Giovagnoli, professor de História contemporânea na Universidade Católica de Milão.
Agostino Giovagnoli: Neste período o Papa falou de modo direto sobre várias questões. Agora tocou o assunto sobre o problema dos que governam, dos políticos, e aqui aborda um importante problema porque a pandemia colheu boa parte do mundo muito desequilibrado, do ponto de vista político. Um mundo que se encaminha para uma relação que privilegia a busca de consenso eleitoral de modo exagerado. O próprio fenômeno do populismo é um fenômeno que se conecta com esta atenção. É claro que a pandemia precisa de políticos com outro tipo de atenção: pede que sejam tomadas decisões rápidas considerando as competências – fato este não muito comum nos últimos tempos – e às vezes até mesmo medidas impopulares. Confirmando isso pode-se ver nas decisões de isolamento social que são sujeitas a protestos em muitas situações.
Recentemente o Papa rezou pelos governantes, pensando no fim da pandemia para que – como disse – encontrem o caminho certo sempre em favor dos povos e, explicando com clareza que a aposta será ou pela vida e a ressurreição dos povos, ou será pelo deus dinheiro: voltar à sepultura da fome, da escravidão, das guerras, das fábricas de armas, das crianças sem escolas. Então são estes os dois caminhos que se colocam diante da humanidade?
Giovagnoli: Os dois caminhos são as alternativas deste momento. É raro que na história existam momentos nos quais encontrem-se dilemas tão distintos. Papa Francisco teve a capacidade de entender que este momento é um dilema histórico que se apresenta diante dos governantes e obviamente dos povos. Encontra-se entre o caminho de uma reconstrução que cuide do bem comum, do interesse coletivo, que não seja apenas interesse de uma nação, porque a pandemia relançou a realidade de um mundo cada vez mais interdependente e globalizado. E deve ser considerado que a atenção pelos pobres deve ser parte integrante deste projeto pelo bem comum e por outro lado, há o deus dinheiro, diz o Papa Francisco, uma lógica de interesses particulares, fragmentados e conflituais entre eles, e isso não é conveniente neste momento. Por exemplo, mesmo as organizações internacionais: agora é momento de relançá-las, estimulá-las e não criar polêmicas. Parece-me que as indicações do Papa Francisco assim como a tarefa dada ao Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral de fazer propostas para o pós-pandemia, devem ser em uma determinada direção e espera-se que os governantes de todo o mundo, ouçam o bom senso, a concretude e a visão previdente do Santo Padre.
O ponto da questão parece se situar nas conexões entre os Estados e as pessoas individualmente. Por exemplo, a volta ao trabalho dos pais e os filhos com as escolas fechadas, o desemprego e a ajuda dos governos para manter a família. Também as condições dos idosos e das pessoas com deficiências. Uma visão sistêmica é central?
Giovagnoli: Creio que sim. As visões sistêmicas são muito importantes quando se trata realizar obras muito complexas. Penso nas medidas depois da Segunda Guerra Mundial quando o mundo partiu com uma visão sistêmica. Penso na ONU, no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional, ou seja, uma série de estruturas internacionais que delineavam o mundo como queriam para o pós-guerra. Naturalmente as visões sistêmicas não se improvisam e isso é um problema porque aqui se trata de tomar rapidamente muitas decisões em uma situação complexa e, portanto, considerar os interesses que são também conflituais entre eles, e isso é muito difícil, somente com uma perspectiva muito clara pode-se proceder. Se não há uma visão sistêmica, é preciso ao menos contar com diretrizes às quais não se possa absolutamente se abster e sobre as quais realizar uma partilha mais larga possível, por outro lado, há o problema da boa vontade. É claro que nos encontraremos diante de muitos obstáculos, que nos levarão a decisões, também a erros – obviamente isso deve ser levado em conta – portanto algo que será corrigido à medida que acontece, com muita rapidez. A rapidez só existe se há uma abundância de boa vontade, que permita enfrentar decisões imprevistas, permita corrigir erros, permita ir além dos problemas, das dificuldades burocráticas, enfim de tudo o que pode atrasar a facilidade de um caminho que é muito importante.
Deve ser considerado também o sustento dos pobres de todo o mundo…
Giovagnoli: A pandemia cria desemprego, cria pobreza. Pode-se ver a realidade da assistência, por exemplo, no voluntariado católico,que atendem famílias que antes tinham situações de vida bastante normais, e que agora, ao contrário, devem recorrer aos centros de assistência, aos refeitórios, pedir sustento. Também há o aspecto internacional deste problema. É claro que em outros países não europeus este problema é ainda mais forte, é dramático. Falo infelizmente da pandemia na América Latina que está se espalhando rapidamente, um pouco menos na África, pelo menos até agora. Não se pode aceitar que, depois da pandemia seja a pobreza a causa de outras vítimas.
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