O Papa na Audiência Geral: a oração do cristão anda de mãos dadas com a fé
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração na Audiência Geral desta quarta-feira (11/11), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus.
O Pontífice iniciou, dizendo que alguém lhe disse que ele fala muito sobre a oração, que não é necessário. “Sim é necessário”, disse o Papa, “porque se não rezarmos não teremos a força para ir em frente na vida. A oração é como o oxigênio da vida. A oração é atrair sobre nós a presença do Espírito Santo que nos faz ir adiante sempre. Por isso, eu falo muito sobre a oração”.
Oração praticada com perseverança
“Jesus deu exemplo de uma oração contínua, praticada com perseverança. O diálogo constante com o Pai, no silêncio e no recolhimento, é o fulcro de toda a sua missão”, disse o Pontífice, recordando “três parábolas contidas no Evangelho de Lucas que sublinham esta característica da oração”.
“A oração deve ser antes acima de tudo tenaz”, frisou o Papa, “como o personagem da parábola que, tendo que receber um hóspede que chegou de repente, no meio da noite, vai bater à porta de um amigo e pede-lhe pão. O amigo responde “não!”, porque já está na cama, mas ele insiste, e insiste a ponto de o obrigar a levantar-se e a dar-lhe. Um pedido tenaz!”.
Mas Deus é mais paciente do que nós, e quem bate à porta do seu coração com fé e perseverança não fica desiludido. Deus responde sempre. Sempre! O nosso Pai sabe bem do que precisamos; a insistência não serve para o informar ou convencer, mas para alimentar o desejo e a expectativa em nós.
A segunda parábola é a da viúva que se dirige ao juiz para que a ajude a obter justiça. Este juiz é um homem sem escrúpulos, mas no final, exasperado pela insistência da viúva, decide contentá-la. Esta parábola nos faz compreender que a fé não é o impulso de um momento, mas uma disposição corajosa para invocar Deus, até para “discutir” com Ele, sem se resignar ao mal e à injustiça.
Quem reza nunca está sozinho
A terceira parábola apresenta um fariseu e um publicano que vão ao Templo para rezar. O primeiro dirige-se a Deus gabando-se dos próprios méritos; o outro sente-se indigno até de entrar no santuário. Contudo, Deus não ouve a oração dos soberbos, mas atende a dos humildes. Não há verdadeira oração sem espírito de humildade. Não há oração verdadeira sem espírito de humildade. É a humildade que nos impele a orar.
O ensinamento do Evangelho é claro: é preciso rezar sempre, até quando tudo parece vão, quando Deus nos parece surdo e mudo, e que perdemos tempo. Mesmo que o céu se ofusque, o cristão não deixa de rezar. A sua oração anda de mãos dadas com a fé. E a fé, em muitos dias da nossa vida, pode parecer uma ilusão, uma labuta estéril. Existem momentos escuros em nossas vidas e ali a fé parece uma ilusão, mas praticar a oração significa também aceitar esta dificuldade. “Padre, eu rezo mas não sinto nada. Me sinto com o coração árido, seco. Não sei”. Mas devemos ir adiante com essa fadiga dos momentos ruins, momentos em que não sentimos nada. Muitos santos e santas viveram a noite da fé e o silêncio de Deus, quando nós batemos, batemos e Deus não responde, e esses santos foram perseverantes.
Segundo o Papa, “nestas noites de fé, quem reza nunca está sozinho. Na verdade, Jesus não é apenas testemunha e mestre de oração, é muito mais. Ele nos acolhe na sua oração, para podermos rezar n'Ele e através d'Ele. E isto é obra do Espírito Santo. É por este motivo que o Evangelho nos convida a rezar ao Pai em nome de Jesus. São João relata estas palavras do Senhor: «O que vocês pedirem ao Pai em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho».” A oração de Jesus “dá as asas que a oração do homem sempre desejou possuir”.
O Espírito Santo reza em nós
A seguir, o Pontífice recordou as palavras do Salmo 90-91, “carregadas de confiança, que brotam de um coração que espera tudo de Deus: «Ele o cobrirá com as suas penas, e debaixo de suas asas você encontrará refúgio. A sua fidelidade é escudo e couraça. Você não temerá o terror da noite, nem a flecha que voa de dia, nem a peste que caminha nas trevas, nem o mal que devasta ao meio-dia».”
É em Cristo que esta maravilhosa oração se cumpre, é n'Ele que encontra a sua verdade plena. Sem Jesus, as nossas orações correriam o risco de se reduzir a esforços humanos, na maioria das vezes destinados ao fracasso. Mas Ele tomou sobre si cada grito, cada gemido, cada júbilo, cada súplica, cada prece humana. Não nos esqueçamos o Espírito Santo. O Espírito Santo reza em nós. É Ele que nos impele a rezar, nos leva a Jesus, é o dom que o Pai e o Filho nos deram para ir ao encontro de Deus. Quando nós rezamos é o Espírito Santo que reza em nossos corações.
“Cristo é tudo para nós, inclusive na nossa vida de oração”, disse Francisco. Santo Agostinho resume admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus, que também encontramos no Catecismo da Igreja Católica: «sendo o nosso Sacerdote, ora por nós; sendo a nossa Cabeça, ora em nós; e sendo o nosso Deus, a Ele oramos. Reconheçamos, pois, n'Ele a nossa voz e a voz d'Ele em nós». “É por isso que o cristão reza, nada teme! Confia no Espírito Santo que nos foi dado como dom que reza em nós e nos conduz à oração. Que seja o mesmo Espírito Santo, mestre de oração, a nos ensinar o caminho da oração”, concluiu o Papa.
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