O Papa, Mediterrâneo: Estados e continentes não podem continuar se ignorando
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes da 7ª Conferência Rome MED Dialogues, que teve início, nesta sexta-feira (03/12), em Roma, promovida anualmente pelo Ministério Italiano das Relações Exteriores e a Cooperação Internacional e pelo Instituto de Estudos de Política Internacional, com o objetivo de repensar a abordagem tradicional da área do Mediterrâneo e buscar respostas novas e compartilhadas para os importantes desafios que ela representa.
O Santo Padre, que atualmente realiza sua 35ª Viagem Apostólica Internacional a Chipre e à Grécia, saúda os participantes do evento através da mensagem na qual ressalta que "o Mediterrâneo está também no centro da atenção constante da Igreja".
Mediterrâneo é lugar de fronteira
Segundo Francisco, "embora os reinos e impérios da região mediterrânea sejam agora coisa do passado, o mare nostrum continua tendo uma importância geopolítica central, mesmo no século atual. O Mediterrâneo é lugar de fronteira onde se encontram três continentes, que não só são banhados por ele, mas que nele se tocam e são chamados a conviver. A interconexão centrada neste mar nos mostra, não apenas simbolicamente, que todo o Planeta é uma grande casa comum e que o destino de um país não pode ser independente do destino de outros".
O Papa ressalta que o conceito de independência está mudando perigosamente. "No passado, significava a legítima reivindicação de autonomia contra a interferência ou ocupação por Estados estrangeiros, hoje, a independência está assumindo um significado de "indiferença" e "desinteresse" em relação ao destino de outros povos". "A política e a diplomacia precisam se questionar e fazer de tudo para impedir que o processo de globalização degenere na globalização da indiferença", ressalta Francisco, chamando a atenção para os problemas da crise climática e da pandemia de coronavírus que nos mostram que Estados e continentes "não podem continuar se ignorando mutuamente".
Migração, todos devem se sentir responsáveis
A seguir, o Papa destaca entre os vários problemas que se concentram no Mediterrâneo, que exigem uma visão política clarividente, a questão migratória, que o incentivou em sua viagem apostólica, à Ilha de Lampedusa, em 2013.
Segundo o Pontífice, "os eventos dos últimos anos confirmam cada vez mais que uma intervenção eficaz só pode vir de um esforço conjunto não limitado aos países fronteiriços, mas também compartilhado pelos respectivos continentes aos quais pertencem. Ninguém deve ser deixado sozinho na gestão deste enorme problema. Todos devem se sentir responsáveis, porque todos são de fato responsáveis, como nos lembra no início da Bíblia a pergunta de Deus a Caim: "Onde está seu irmão?"
Deixar-se inspirar por Giorgio La Pira
Francisco recorda o frutuoso encontro do ano passado em Bari, "Mediterrâneo, fronteira de paz", promovido pela Conferência Episcopal Italiana, que contou com a participação de bispos de vinte países banhados pelo Mediterrâneo. O Pontífice recorda que no próximo ano se realizará outro encontro em Florença, atualmente em fase de organização.
Por fim, o Papa espera que não só os encontros eclesiais, mas também o diálogo sobre o Mediterrâneo, possam se inspirar nos "colóquios mediterrâneos" inaugurados por Giorgio La Pira nos anos 50 e 60 do século passado, que aproximaram as margens opostas do mar, inaugurando a política de diálogo em torno do que La Pira considerava, numa visão de fé, como "um grande lago de Tiberíades".
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