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Papa Paulo VI na ONU em 1965 Papa Paulo VI na ONU em 1965 

“O Papa acredita na ONU, desde que siga uma lógica planetária”

"Para se construir a paz, é preciso evitar a lógica de uma paz ligada a uma vitória: A paz é paz e não é necessariamente a vitória! Isso deve ser entendido por todos os que se preocupam com as vítimas, sobretudo com os civis desta guerra". Palavras do professor Roberto Morozzo recordando os Papas na ONU

Francesca Sabatinelli - Vatican News

Francisco e a impotência das Nações Unidas: após as palavras do Papa na Audiência geral da última quarta-feira (06), no Vaticano, tenta-se interpretar a função da ONU. No entanto, as palavras do Pontífice, segundo alguns observadores, não pretendem ser uma crítica, mas "um auspício de Nações Unidas".

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A este respeito, Roberto Morozzo, docente de história contemporânea na Universidade de Roma3 e membro da Comunidade romana de Santo Egídio, explica: "A ONU, nesta guerra (Rússia-Ucrânia), parece não ter nenhuma função, mas, o Papa acredita fortemente nas Nações Unidas, porque considera esta Organização uma Assembleia suprapartidária, como se pode deduzir das suas palavras. O Papa é difidente das grandes potências, que devem ser citadas pelo próprio nome: Rússia, Estados Unidos, China. Ele prefere uma assembleia multinacional, como as Nações Unidas, que parecem mais equilibradas”. A visão de Francisco de uma política mundial multipolar não é uma novidade, na opinião do professor, mas deve ser “encarnada pela própria ONU; o Papa prefere uma lógica planetária, que corresponda à que deveria ser adotada pelas Nações Unidas. Embora o Conselho de Segurança ainda seja composto pelas potências vitoriosas da II Guerra Mundial, não significa que a Assembleia Geral não representa o mundo inteiro”.

O grito de Paulo VI: “Guerra, nunca mais”!

Em 1965, o Papa Paulo VI interveio na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Era a primeira vez de um Pontífice. Depois dele, também João Paulo II falou duas vezes, seguido de Bento XVI e Papa Francisco, em 2015. O grito do Papa Montini, na sede da ONU, ficou indelével na história: “Guerra, nunca mais”! No entanto, hoje, o Papa enfatiza a sua impotência, segundo o Prof. Morozzo: "Houve uma expansão nas operações de paz e intervenções sobre a paz, mas também, sem dúvida, um maior compromisso e também uma mudança, devido ao fim da lógica da Guerra Fria, em 1989. Entretanto, hoje, parece que a guerra fria tenha sido retomada, mais uma vez, com maior força, tanto nas relações entre EUA-China e EUA-Rússia. Todavia, nas últimas décadas, as principais guerras, como no Iraque, Afeganistão e agora Ucrânia, não contaram com uma intervenção determinante da ONU; mas, não é fácil também para as nações prevenir e domar os surtos de guerra”.

A ONU de Trastevere

A Comunidade de Santo Egídio, situada no bairro romano de Trastevere, foi definida, muitas vezes, como a “ONU de Trastevere” pelo seu papel de mediação em conflitos dramáticos, sobretudo naquele de Moçambique, como afirma o professor Roberto Morozzo: “Santo Egídio sempre foi mediadora de paz entre as partes em conflito, levando-as a uma negociação e um desfecho positivo. Se transferirmos esta lógica à ONU, para que seja reconhecido seu papel de mediadora e de artífice da paz, teríamos que nos perguntar: como induzir ambas as partes a chegar a um compromisso de paz? Isso é algo realmente difícil”. Para se construir a paz, segundo a tese do Prof. Morozzo, é preciso evitar a lógica de uma paz ligada a uma vitória: "A paz é paz e não necessariamente uma vitória! Isso, porém, deve ser entendido por todos os que se preocupam com as vítimas, sobretudo com os civis desta guerra".

Ocidente contra a Rússia

Enfim, um acordo de paz, - neste caso entre a Ucrânia e a Rússia, - só será possível quando “ambas as partes quiserem, legitimamente”, pois, enquanto apenas uma das partes estiver ciente da vitória, não se chegará a nenhum acordo. Neste caso, para exercer uma mediação de paz, as Nações Unidas “precisam, fortemente, ser apoiadas por todas as potências, começando pela China e Estados Unidos e, depois, também pela Grã-Bretanha e França, que também fazem parte do Conselho de Segurança da ONU. Mas, isso não é um dado de fato, infelizmente, porque, neste momento, parece que estamos assistindo um conflito entre o Ocidente e a Rússia”.

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09 abril 2022, 09:52