"Eu vos peço em nome de Deus": o grito do Papa pelo silêncio das armas
Sebastián Sansón Ferrari – Vatican News
A mensagem em vídeo do Papa Francisco aos movimentos populares, publicada em 16 de outubro de 2021, foi a inspiração para o livro “Eu vos peço em nome de Deus. Dez preces para um futuro de esperança” do jornalista argentino Hernán Reyes Alcaide, correspondente da Télam em Roma. O livro reúne os apelos do Papa Francisco para construir um horizonte de paz através do diálogo, do respeito e da confiança, porque a sobrevivência da humanidade está em jogo. Também reúne outras preocupações centrais do Pontífice, tais como a rejeição da indústria de armas, a discussão do papel das organizações internacionais e a promoção da mulher na sociedade, entre outras.
A ideia
Há um ano, Hernán ficou impressionado com a construção poética do Papa na mensagem em vídeo aos movimentos populares, o que não é uma novidade, como disse ao Vatican News. É um elemento característico de sua rica expressividade. Ressalta ainda que isso pode ser visto em muitas ocasiões, como nos discursos à Cúria Romana por ocasião das saudações de Natal: "Ele sabe conjugar a um interessante tema de fundo, uma belíssima forma". Nas suas palavras aos movimentos populares, recorda o jornalista, após traçar um diagnóstico da situação mundial na época do crescimento da pandemia, o Pontífice faz uma série de pedidos a protagonistas específicos, começando precisamente com a frase "Eu quero pedir-lhes em nome de Deus". Assim começou a pensar na ideia da publicação até ter um primeiro rascunho, que ele apresentou a Francisco, que a aceitou. Desde o início, ficou claro que não seria um tradicional formato perguntas-respostas, mas uma elaboração própria, apoiando-se muito nos discursos pontifícios. É uma visão completa e ampliada, e a publicação deste trabalho ocorre nas vésperas do décimo aniversário do pontificado de Francisco.
Um coração que bate ao ritmo da paz
O texto, que vem à luz num mundo ferido pelo drama da guerra, é mais um eco dos muitos apelos de Francisco pela paz, não apenas durante a invasão russa da Ucrânia, mas sempre. Evoca, por exemplo, no Angelus de 1° de setembro de 2013, quando se tornou o intérprete do grito que, "com crescente angústia, se elevava de todas as partes da terra, em cada povo, em cada coração, na única grande família que é a humanidade: o grito da paz", dizia. E confessava seu sofrimento e preocupação pela guerra na Síria. Uma preocupação que permanece como uma das pedras angulares destes quase 10 anos de anúncio do Evangelho no tempo e fora do tempo. Estes são pensamentos que Bergoglio também desenvolveu como arcebispo de Buenos Aires, incorporando a perspectiva do diálogo inter-religioso e ecumênico, que são dois de seus pilares fundamentais. "É uma continuidade quase natural, agora em uma escala diferente", afirma Hernán.
Paz: o único grito desesperado
"O mal da guerra sempre existirá enquanto o comércio de armas continuar a ter toda essa liberdade e permissividade no mundo", salienta o jornalista. A guerra é agora reforçada pela centralidade geográfica de estar no coração agro-exportador, e as palavras do Santo Padre aparecem como "o único grito desesperado", apelando para soluções imediatas que levem a uma paz duradoura e estável, que não sejam, como dizem no Rio de la Plata, "pão para hoje e fome para amanhã". O escritor argentino destaca que as reinvindicações do Papa pelo encontro, pelo diálogo, pela fraternidade e pela paz estão todas interligadas: "Como podemos pedir à humanidade que avance em direção à paz como coordenada natural da vida se há cada vez menos diálogo", pergunta o jornalista. Ouvir o Papa Francisco repetir várias vezes a necessidade de paz o posiciona como uma voz clara no meio da tempestade, porque uma das grandes riquezas do chamado à paz é questionar o que está por trás da ausência de paz", afirma. Por fim enfatiza: "Tanto no tema da paz como no resto dos dez pedidos em nome de Deus presentes no livro, é impossível não ver a continuidade entre o Papa Francisco e seus predecessores, por um lado, e a Doutrina Social da Igreja, por outro".
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