Violência impede Papa de ir a Goma, explica missionário espanhol
Vatican News
"É uma bela viagem, eu gostaria de poder ir a Goma, mas com a guerra não dá para ir. Será somente Kinshasa e Juba, de lá faremos tudo."
Ao saudar os jornalistas presentes no voo que o levou à República Democrática do Congo, o Papa Francisco lamentou não poder ir à cidade de Goma, capital do Kivu do Norte (Nord Kivu) como previsto inicialmente. A recordar, que esta "peregrinação ecumênica pela paz" estava prevista para se realizar em julho de 2022, o que não foi possível por recomendação médica devido ao problema surgido no joelho do Santo Padre.
Mas, “por que o Papa não vai para o leste? Porque ali existe uma situação insuportável. Existe o risco de lançarem uma bomba e matarem inocentes”, explicou em entrevista às Pontifícias Obras Missionárias (POM) da Espanha o sacerdote espanhol Luis Arcos, dos Padres Brancos (Sociedade dos Missionários da África), missionário no leste da República Democrática do Congo há 52 anos.
“Na verdade, quando começaram os preparativos para a sua visita, já havia muitos problemas e várias baixas causadas pelos mais de 100 diferentes grupos armados presentes na província. E a insegurança produz pobreza para muitos”, acrescenta o sacerdote, que assim resumiu a situação: “Não podes sair de casa depois das seis da tarde; meus confrades congoleses não podem ir visitar seus pais que estão a 50 quilômetros de Goma".
Goma é uma cidade superlotada devido ao número de pessoas que para lá se mudaram saídas das aldeias do Kivu do Norte em busca de um mínimo de segurança.
“Goma - relata o missionário - viu sua população crescer de 300 mil para 1,5 milhão de pessoas em 30 anos. Elas vêm do interior do Kivu do Norte para Goma porque é mais seguro, mas também há assassinatos em seus arredores. O embaixador italiano Luca Attanasio foi morto a 20 quilômetros de onde eu estava”. “E em Goma os deslocados também encontram o vulcão Nyiragongo, que continua ativo, e que há dois anos destruiu 3 mil casas”.
Como todos os missionários que trabalham no leste da RDC, pe. Luis sublinha que no cerne do drama destas terras está a luta pelo controle e exploração da imensa riqueza mineral destas áreas.
Referindo-se às ADF (Forças Democráticas Aliadas), o grupo armado de origem ugandense também conhecido como Província Centro-Africana do Estado Islâmico (Islamic State Central Africa Province, ISCAP), o sacerdote espanhol afirma que “há alguns anos se fala sobre islamismo, mas antes não se falava. O problema é mais político e econômico do que religioso, pois a República Democrática do Congo possui coltan, mineral importantíssimo para o desenvolvimento dos países mais avançados. É uma riqueza mineral enorme, mas quem a aproveita?”
Durante os seus 52 anos de missão na RDC, padre Luis esteve em 4 diferentes dioceses congolesas, podendo testemunhar a profunda transformação da Igreja na República Democrática do Congo. “Todos os bispos agora são congoleses, nenhum é branco. Mesmo entre os missionários africanos, há cada vez menos europeus. Há cada vez mais missionários africanos para continuar a vida da missão”.
Da visita do Papa Francisco, o missionário espera “uma palavra de esperança e diria de coragem, porque vir ao Congo nesta situação foi um gesto de coragem”.
*Com informações da Agência Fides
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