O Papa com a Irmã Rita durante a missa para a comunidade congolesa em Roma, em julho de 2022 O Papa com a Irmã Rita durante a missa para a comunidade congolesa em Roma, em julho de 2022 

Irmã Rita: "Com o Papa na África para denunciar o mal e proclamar a esperança"

Teóloga, missionária, professora universitária, defensora do rito zairense, ativa pelos direitos e futuro das mulheres, a religiosa está na delegação papal para a viagem à República Democrática do Congo e Sudão do Sul: "No país crimes contra inocentes, o Santo Padre espera por uma paz duradoura". Em uma entrevista, o Pontífice tinha definido a irmã de 'bispo' da comunidade congolesa em Roma: 'Sim, porque a missão do bispo é servir'

Salvatore Cernuzio – Enviado a Kinshasa

Ao falar sobre a irmã Rita em uma entrevista à revista espanhola Mundo Negro, o Papa Francisco elogiou seu compromisso com a comunidade congolesa de Roma: "Leciona na universidade, mas comanda como se fosse bispo". A Irmã Rita Mboshu-kongo, religiosa congolesa das Filhas de Maria Santíssima Co-Redentora, missionária, teóloga, defensora do rito zairense e envolvida em Kinshasa em projetos de desenvolvimento para as mulheres, irrompe em uma gargalhada: "O bispo, sim, porque a missão do bispo é servir à Igreja, diocesana e universal. Não para comandar e dar ordens, mas para dizer aos outros "vamos nos levantar, vamos caminhar juntos". E precisamente para "aprender a servir a Igreja", a irmã partirá com o Papa, a única mulher, na delegação papal para a viagem à República Democrática do Congo e Sudão do Sul: "Com o Santo Padre estou aprendendo qual é minha missão na Igreja como mulher, como consagrada, como africana".

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Entrevista

Depois de 37 anos a República Democrática do Congo volta a receber um Papa. Irmã Rita, o que esta visita significa para a senhora e para os congoleses?

Para nós, o Papa Francisco é um missionário incansável, um evangelizador exemplar, que vai ao nosso país para rezar com os congoleses e pelos congoleses. Ele é como um pai que ouviu os gritos e prantos de seus filhos e diz: "Não desistam, continuem, Deus está com vocês". Para nós católicos, o verdadeiro (mas não o único) significado da visita é, antes de mais nada, confirmar os crentes na fé. Naturalmente, sabemos que há uma implicação política e social, no sentido de que o Papa também se dirige a pessoas de boa vontade, aos atores políticos cuja missão é cuidar dos assuntos públicos, para que coloquem no centro de suas escolhas as pessoas humanas, evitando discriminações raciais, tribais e religiosas.

A República Democrática do Congo registrou uma nova escalada de violências. A chegada do Papa pode ser uma contribuição para uma paz duradoura ou pelo menos uma trégua temporária? Ou as feridas são tão profundas que é difícil até mesmo esperar pela paz?

É isso mesmo, as feridas são profundas. Há criminosos que continuam a matar inocentes sem piedade. Há pessoas inescrupulosas que querem se apossar dos minerais estratégicos para as novas tecnologias do futuro. Há jovens cujo futuro está comprometido porque estão sob armas e drogas de países altamente democráticos. O Papa Francisco vai, portanto, denunciar e anunciar: denunciar o mal, para que aqueles que fomentam guerras possam renunciar a seus projetos diabólicos, e anunciar Jesus Cristo, luz do mundo. Não será uma viagem sem frutos. Não, não, não. Talvez os ímpios continuem, mas o Senhor trabalha nas consciência e é capaz de chegar onde os homens não chegam. A presença do Papa é uma forma de dizer "olhemos um para o outro, com a guerra não se chega a lugar nenhum. Tentem trabalhar bem, compartilhar as riquezas, também ajudar os pobres". O Santo Padre certamente espera por uma paz duradoura. Mas a paz é possível se os protagonistas desta inútil matança, que é a guerrilha, decidirem sair da escuridão em que vivem, para dar lugar à luz e fazer o bem. Em resumo, a paz é possível se houver uma verdadeira conversão.

A senhora fará parte da comitiva papal da viagem, junto com seus principais colaboradores. Como a senhora se sente?

Creio que o que levou o Santo Padre a me chamar é que ele viu em mim uma filha que deve aprender a viver e a servir ao lado de seu pai. Isto é, como devo me comportar como religiosa, como missionária, como mulher, como africana, na Igreja universal. Aqui em Roma, realizo uma missão na minha comunidade congolesa e também na minha congregação. Portanto o Papa me leva com ele para dizer: 'Olhe, filha, como eu me comporto, é assim que você deve se comportar com seus irmãos e irmãs'. Eu tenho muito o que aprender...

Falando em serviço, a senhora faz a ponte aérea entre Roma e Kinshasa para projetos que beneficiam principalmente as mulheres. Como a Fundação Papa Francisco para a África, criada no ano passado. Que resultados vocês obtiveram com essas iniciativas?

A Fundação é uma pequena gota no oceano, mas tentamos fazer muitas coisas para o cuidado integral da pessoa. Para ajudar as mulheres, mas também as crianças, as famílias, a terem consciência de que foram criadas à imagem de Deus e que não têm que viver como vermes. As coisas estão indo bem na Fundação: compramos uma pequena casa que agora está em reforma para montar uma oficina. Até o ano passado, estávamos trabalhando em uma paróquia, sem sede. Com a graça de Deus, encontramos este lugar e as jovens podem trabalhar serenamente. É uma experiência de esperança e todas as mulheres mudaram: vou lhe mostrar fotos de quando elas chegaram e, após um ano, como se tornaram. Os resultados por enquanto são discretos, no sentido de que estamos apenas começando, levará anos para se fazer um balanço. Mas deste ponto de vista, tudo é ótimo.

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31 janeiro 2023, 10:18