60 anos da tragédia do Vajont, o Papa: a ganância destrói, a fraternidade constrói
Raimundo de Lima – Vatican News
"Vocês, diante da tragédia que pode resultar da exploração do meio ambiente, dão testemunho da necessidade de cuidar da criação. Isso é essencial hoje, quando a casa comum está desmoronando, e o motivo é mais uma vez o mesmo: a ganância pelo lucro, um delírio de ganho e posse que parece fazer com que o homem se sinta onipotente. Mas isso é um grande engano, porque somos criaturas e nossa natureza nos pede que nos movamos no mundo com respeito e cuidado, sem anular, mas valorizando o senso de limite, que não representa uma diminuição, mas a possibilidade de plenitude".
Foi o que disse o Papa ao receber em audiência na manhã desta sexta-feira, 19 de janeiro, na Sala Clementina, no Vaticano, uma representação da Diocese de Belluno-Feltre, na região italiana do Vêneto, por ocasião dos 60 anos do desastre do Vajon, cujo rompimento da barragem provocou 1910 vítimas.
Se há sessenta anos, exatamente em 9 de outubro de 1963, uma onda catastrófica varreu vilarejos e aldeias inteiras, ceifando 1910 vidas, vocês são uma onda de vida. Pois a essa onda de aniquilação e destruição vocês responderam com a coragem da memória e da reconstrução. Penso em todas as gotas silenciosas que formaram essa grande onda de bem: os socorristas, os reconstrutores, os muitos que não se deixaram aprisionar pela dor, mas souberam como começar de novo. Vocês são os artífices e as testemunhas dessas sementes de ressurreição, que podem não aparecer muito nas manchetes, mas são preciosas aos olhos de Deus, o "especialista em recomeçar", Aquele que, de um túmulo de morte, iniciou uma história eterna de vida nova, disse o Santo Padre no início de seu discurso.
Cuidado com a criação diz respeito ao futuro de todos
Ao refletir sobre o desastre de Vajont, uma coisa chama a atenção: o que causou a tragédia não foram erros no projeto ou na construção da represa, mas o próprio fato de querer construir uma barragem aritificial no lugar errado. E por quê? Em última análise, por colocar a lógica do lucro acima do cuidado com o homem e com o meio ambiente em que ele vive; de modo que, se a onda de esperança de vocês é impulsionada pela fraternidade, a onda que trouxe o desespero foi impulsionada pela ganância. E a ganância destrói, enquanto a fraternidade constrói.
Francisco observou que isso é extremamente atual. "Não me canso de repetir que o cuidado com a criação não é simplesmente um fator ecológico, mas uma questão antropológica: tem a ver com a vida humana, como o Criador a concebeu e a organizou, e diz respeito ao futuro de todos, da sociedade global na qual estamos imersos", frisou.
O Papa destacou ainda que este ano celebramos o oivavo centenário da composição do Cântico das criaturas de São Francisco, Padroeiro da Itália
Precisamos do olhar contemplativo e respeitoso de Francisco
Nessa magnífica laude, o Pobrezinho de Assis chama o sol, a lua, as estrelas, o vento, o fogo e outros elementos de irmãos e irmãs, porque as criaturas fazem parte de uma única "teia viva do bem", amorosamente organizada pelo Senhor para nós, destacou o Papa.
Precisamos do olhar contemplativo e respeitoso de São Francisco para reconhecer a beleza da criação e saber como dar às coisas a ordem correta, para parar de devastar o meio ambiente com lógicas mortais de ganância e para colaborar fraternalmente no desenvolvimento da vida. Vocês fazem isso preservando a memória e testemunhando como a vida pode ressurgir exatamente ali, onde tudo foi engolido pela morte.
O Pontífice concluiu agradecendo aos presentes e abençoando a todos eles, pedindo que rezem por ele.
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