Dom Ribat: “nosso povo está unido pela fé, graças aos missionários”
Fábio Beretta
O Arcebispo de Port Moresby, Cardeal John Ribat, em entrevista à Agência Fides, fala do caminho da comunidade cristã, que vive em Papua Nova Guiné, segunda etapa da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Ásia e Oceania: trabalho dos missionários entre as tribos; obra da Igreja local, que segue os ensinamentos do Evangelho; pertença à Igreja católica; alegria e entusiasmo pela visita do Papa.
O Papa encontrará uma Igreja jovem, que se orgulha por já ter um mártir...
“Esta é, realmente, uma Igreja jovem, que continua a crescer, graças ao exemplo de Peter To Rot, hoje beato, cujo processo de canonização, atualmente, está paralisado por falta de um milagre. Esta será uma das coisas que pediremos ao Papa: que intervenha no seu processo de canonização. A nossa esperança, como comunidade, é que este processo possa ser concluído no próximo ano, para que, muito em breve, possamos ter nosso Santo catequista. Aqui, em Papua-Nova Guiné, a Igreja é jovem, mas sua fé é forte. Os católicos estão vibrando com esta visita papal. Muitas pessoas estão chegando à capital, Port Moresby, provenientes das altas planícies e das cidades vizinhas, até das dioceses sufragâneas. Muitos fazem peregrinações a pé ou de barco, sempre em oração”.
Qual a importância da obra dos missionários em Papua Nova Guiné? Por que o Papa quis encontrar os missionários nestas terras?
“Os missionários chegaram a estas terras há muitos séculos. Em relação aos primeiros missionários, agora são menos. Mas, a comunidade cristã ainda traz em sua memória o início das missões, especialmente, graças aos alemães e americanos. Hoje, em Papua Nova Guiné, muitos missionários estão espalhados em diversas Dioceses do país, provenientes da Índia, Filipinas e Indonésia. Mas, como no início, não faltam europeus, como os Salesianos italianos. Em Vanimo, uma das cidades que o Papa visitará, há missionários argentinos, seus compatriotas. A obra dos missionários é importante para nós, não só porque continuam a propagar a fé católica, mas também porque animam as pessoas, com as quais trabalham. Isso é muito importante. As relações entre os missionários e a população são muito boas, devido ao fato que várias Dioceses daqui, historicamente falando, foram fundadas por missionários. Agora, com a chegada do Pontífice, há mútua ajuda entre as pessoas. A nossa Conferência Episcopal une Papua Nova Guiné às Ilhas Salomão. Por isso, muitos também vêm de lá para nos ajudar na organização. Este clima de unidade na fé é devido aos missionários”.
Em Papua Nova Guiné há conflitos entre tribos. A Igreja intervém nisso? As tribos lutam entre si, mas nos seminários muitos jovens, de várias aldeias, convivem em paz...
“As lutas tribais não acontecem em todos os lugares, mas, sobretudo, nas regiões montanhosas, onde, ao contrário das regiões costeiras, a Igreja conseguiu chegar apenas há algumas décadas. Trata-se de aldeias de difícil acesso, cujos usos e costumes estão fortemente enraizados no passado; a região é ambientalmente frágil; ali tivemos, recentemente, catástrofes naturais, que mataram muitas pessoas. No entanto, a tensão social reina em todo o país. Em 10 de janeiro deste ano, houve uma revolta contra o corte de salários, com várias vítimas, lojas saqueadas, carros incendiados... Agora, estamos nos recuperando. Como Igreja, fizemos declarações à imprensa, lidas também nas igrejas, onde condenamos todo e qualquer tipo de violência; oferecemos novas chaves para a compreensão dos vários problemas e das novas leis, que não foram bem esclarecidas. Em relação às lutas tribais é diferente: deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus”.
Um Papa visita o país pela segunda vez: o que a comunidade católica local pode oferecer à Igreja católica?
“Esta é uma questão sobre a qual nós, como comunidade, temos refletido muito. Estamos tentando entender como podemos ajudar os outros. A primeira resposta “prática” que demos foi enviar novos missionários: eles nos transmitiram a fé e, agora, estamos prontos para partir, para ajudar a Igreja a crescer, onde for necessário. Alguns de nossos sacerdotes foram para a Argentina e Brasi e muitos para a África. Esta é apenas uma nossa pequena contribuição. Somos uma Igreja em aumento, porque nos esforçamos para viver bem os ensinamentos do Evangelho e a Doutrina da Igreja católica. Isso nos faz sentir parte de algo universal. Esses eventos nos ajudam, nos dão forças para vivermos a universalidade em casa e participar da Santa Missa”.
Quais são, hoje, as principais dificuldades para o anúncio do Evangelho pela Igreja em Papua Nova Guiné?
“Uma das dificuldades é a desinformação, que vem das redes sociais e não só. Como Igreja, temos a tarefa de ajudar as pessoas a compreender quando as notícias são falsas. Somos bombardeados por muitas mensagens e isso gera confusão. Neste sentido, falo a título pessoal, as palavras de São Paulo me ajudam muito a dialogar com as pessoas. Eu me pergunto como a Igreja pode pregar bem o Evangelho, nestes tempos, em que as mudanças estão na ordem do dia. A resposta que me dei foi: tudo pode mudar, mas a verdade permanece sempre a mesma. A verdade para nós é Cristo. A Palavra de Deus, depois de 2 mil anos, continua a mesma, não mudou. No entanto, alguns tentam transmitir uma mensagem errada, interpretando-a e adaptando-a às mudanças do mundo. Mas esta não é a verdade”.
Embora Papua Nova Guiné seja um pequeno rebanho, segundo dados oficiais, o número de batizados e vocações continua a aumentar. Como o senhor pode explicar isso?
“As vocações aumentam porque os jovens, mas também os mais velhos, querem dar a sua contribuição fazendo algo de importante pela sua terra. Neste sentido, a Igreja sempre os encorajou. Os jovens, em particular, ocupam um lugar importante na vida da Igreja. Antes de entrar no seminário, muitos fazem os mais variados tipos de trabalhos, sempre a serviço dos outros. Mas, aos poucos, sentem que isso não é suficiente. Os batizados, também em contínuo aumento, são devido ao crescimento populacional. Porém, noto que um número cada vez maior de jovens também está se casando. Trata-se de jovens que a Igreja ajudou a crescer na fé e, agora, podem dizer que alcançaram a sua realização na vida”.
*Agência Fides
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