Cardeal Bustillo: a Córsega é um laboratório de paz, a visita do Papa é um presente
Vatican News
“Um belo presente de Natal”. É assim que o cardeal François-Xavier Bustillo, bispo de Ajaccio, define a visita do Papa Francisco à Córsega, no próximo dia 15 de dezembro, confirmada oficialmente no sábado, 23, pela Santa Sé. Já nos últimos dias, o cardeal havia falado sobre a visita do Pontífice, a primeira à ilha. “O Senhor é bom, recebemos este presente não como um privilégio, mas como uma responsabilidade de olhar para a memória e estimular o futuro”, comenta agora o cardeal à mídia vaticana.
Eminência, em que contexto se realiza essa visita do Papa à Córsega?
Organizamos uma conferência sobre tradições religiosas populares no Mediterrâneo, portanto, também estarão presentes bispos da Sicília, Sardenha, Espanha e França. É uma oportunidade de compartilhar uns com os outros o que somos, o que vivemos e as tradições religiosas populares que existem em nossos países. Haverá também uma dimensão teológica, não apenas para ver o folclore de certas tradições, mas também para evangelizar por meio do que nossos pais nos transmitiram.
Qual é a importância do fato de o Papa ir pessoalmente celebrar essas tradições populares?
É uma forma de incentivar a missão por meio desses métodos. Bem, quando pensamos em missão, às vezes pensamos em táticas, estratégias, que “você tem que fazer isso dessa maneira”, que você tem que fazer algum marketing, e assim por diante. E depois temos tradições muito simples, que não exigem nenhum esforço especial. Basta sair às ruas, basta mostrar devoção a Nossa Senhora ou a um santo e cantar, homenagear, caminhar... E dizemos que somos crentes com muita simplicidade. Portanto, na missão há esses dois aspectos.
Os católicos da Córsega são católicos franceses, mas será que eles vivem sua catolicidade de forma diferente do resto do continente?
Há mais serenidade, em minha opinião. Mesmo com as autoridades civis, deputados, senadores, prefeitos, não há muitas dificuldades nas relações recíprocas. Há uma laicidade, todos têm sua responsabilidade na cidade, mas a vivemos de forma serena e também responsável: cada um em seu lugar, mas sempre querendo o bem de todos e o bem do povo.
Sabemos o quanto o Papa Francisco está próximo das questões dos países mediterrâneos. A Córsega quase sempre esteve representada nos encontros do Mediterrâneo. Qual é a vocação da ilha no laboratório de paz que é o Mare Nostrum?
Estamos em um lugar muito estratégico. Estamos perto da Sardenha, por isso é importante que possamos trabalhar em nossas tradições para que elas possam ir além da nossa ilha. É por isso que é bom falar sobre um laboratório e poder transmitir aos outros uma vida pacífica e serena entre as autoridades civis, as autoridades religiosas e o vínculo com as pessoas. Vemos que há muitas guerras mesmo aqui no Mediterrâneo, por isso podemos transmitir uma vida fraterna por meio de nossas tradições. É por isso que queremos que as autoridades civis e eclesiásticas possam dialogar. Hoje não podemos ser inimigos institucionais. Também precisamos de uma responsabilidade pelo bem das pessoas, porque, no final das contas, se ficarmos entre nós, nos esquecemos das pessoas. E essas pessoas precisam de autoridades que estejam comprometidas com seu bem e de autoridades espirituais que pensem em sua alma, que se lembrem de que existem valores, ideais. E é aí que podemos nos encontrar.
O Congresso sobre Religiosidade Popular
A ocasião da visita, como diz a declaração do Vaticano, é o congresso na Diocese de Ajaccio sobre “Religiosidade popular no Mediterrâneo”, que contará com a presença de bispos da Itália, França e Espanha e outros países vizinhos. Um tema, o das tradições religiosas populares, muito apreciado ao Pontífice argentino desde a época de seu ministério em Buenos Aires, também central na histórica conferência do episcopado latino-americano e caribenho em Aparecida, e ao qual o Pontífice dedicou amplo espaço na exortação Evangelii Gaudium. Esse tema também está muito presente na Córsega, onde todos os anos os fiéis católicos corsos - cerca de 90% dos 355.000 habitantes - vivenciam rituais, peregrinações de rua e eventos devocionais, em particular a festa de Nossa Senhora da Misericórdia, mais conhecida como “Madunnuccia”, padroeira de Ajaccio.
A programação
Francisco participará da sessão de encerramento do congresso, de acordo com o programa que também foi divulgado no sábado. Mais especificamente, o Papa partirá do aeroporto de Roma-Fiumicino às 7h45, horário local, para chegar às 9h no Aeroporto Internacional de Ajaccio, onde será realizada a recepção oficial.
Às 10h15, ele estará no “Palais des Congrès et d'Exposition d'Ajaccio” onde fará seu discurso aos participantes do congresso. Cerca de uma hora mais tarde, o Pontífice se deslocará para a Catedral de Santa Maria Assunta para o encontro com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e seminaristas e rezar o Angelus.. Um pronunciamento do Papa também está previsto para essa ocasião.
À tarde, às 15h30, a Missa será celebrada na “Place d'Austerlitz”, o grande parque chamado “U Casone” em memória de um antigo prédio onde, segundo a tradição, Napoleão costumava ir quando criança. E é exatamente na Place d'Austerlitz que se encontra uma grande estátua dedicada a Bonaparte. A Celebração Eucarística será seguida, às 17h30, pelo encontro do Papa com o presidente francês Emmanuel Macron no aeroporto de Ajaccio. De lá, após a cerimônia de despedida, às 18h15 parte o voo com destino a Roma, com aterrisagem prevista em Fiumicino às 19h05min.
Recebido pelo cardeal Bustillo
É a primeira visita de um Pontífice à Córsega; a terceira na França para o Papa Francisco, depois de breves etapas em Estrasburgo em 2014 e em Marselha em 2023.
Dando as boas-vindas ao Papa estará o cardeal Bustillo, 56 anos, um franciscano conventual, espanhol de Pamplona, mas naturalizado francês. Ele lidera a Igreja da Córsega desde 2021, depois de ser nomeado por Francisco que, em 2022, distribuiu exemplares do livro de Bustillo, Witnesses not Officials, a todos os sacerdotes que participaram da Missa Crismal na Basílica de São Pedro. Em 2023, o Papa o criou cardeal no Consistório de 30 de setembro.
Logotipo e lema
Na manhã de quinta-feira, 21 de novembro, o próprio Bustillo deu uma entrevista coletiva no pátio do palácio episcopal de Ajaccio, onde, enquanto aguardava a confirmação oficial da viagem, mostrou o logotipo oficial da viagem, atualmente intitulado “Papa Francescu na Córsega”, com a data de 15 de dezembro de 2024.
O fundo do logotipo é totalmente azul-esverdeado para representar o mar, com a Córsega estilizada no canto superior esquerdo por meio de linhas azuis verticais. A linha mais alta culmina na forma de uma cruz, simbolizando a fé em Cristo, e é atada a uma linha amarela que desce do alto, uma alusão ao Espírito Santo. À direita da ilha estilizada pode-se ver, no mesmo amarelo, cor da luz e da Santa Sé, o título em língua corsa “Papa Francescu in Corsica” e, abaixo dele, em branco, o lema da Viagem Apostólica “Jésus passa en faisant le bien” (At 10,38) ("Ele andou fazendo o bem"), expressão dos Atos dos Apóstolos que, aplicada ao evento, lembra que o Papa visita a Igreja na Córsega como o pastor que caminha entre seu povo. Na parte inferior está colocada, na mesma cor azul da ilha estilizada, a silhueta de Nossa Senhora, Rainha da Córsega, representada dos quadris para cima, com o rosto e as mãos voltadas para o alto. Com o fundo ajul, ela aparece como se estivesse imersa no mar.
Apelo aos voluntários
O cardeal também apresentou o site oficial, www.lepapeencorse.corsica, onde serão comunicados todos os detalhes da viagem e onde “todos os corsos terão a oportunidade de contribuir”. O purpurado também fez um apelo a todos os cidadãos: “Posso dizer a vocês que precisamos de voluntários, porque o tempo voa. Faltam três semanas. O evento é histórico, precisamos de meios extraordinários”.
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