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Vaticano, documento sobre questões econômicas: "O dinheiro deve servir, não governar"

É intitulado "Oeconomicae et pecuniariae quaestiones" o novo documento da Congregação para a Doutrina da Fé e do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Amedeo Lomonaco, Silvonei José - Cidade do Vaticano

As temáticas econômicas e financeiras para progredirem "no caminho de um bem-estar para o homem que seja real e integral", devem estar ligadas a um claro "fundamento ético" e à necessária "união entre o conhecimento técnico e a sabedoria humana". Esta é uma das premissas que orientam o novo documento: ""Oeconomicae pecuniariae quaestiones. Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro". Trata-se de considerações aprovadas pelo Papa Francisco, que também ordenou a sua publicação.

Documento presentato dal card. Turkson e da mons. Ladaria

Participaram na apresentação do texto, na Sala de Imprensa da Santa Sé nesta quinta-feira (17/05), o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No encontro com os jornalistas tomaram parte também os economistas Leonardo Becchetti, professor de economia política na Universidade Tor Vergata de Roma e Lorenzo Caprio, professor de finanças corporativas na Universidade Católica.

O amor pelo bem integral é a chave para o desenvolvimento

Referindo-se à Carta Encíclica Laudato si 'do Papa Francisco, no documento sublinha-se que "o amor pela sociedade e o compromisso para com o bem comum são uma forma eminente de caridade, que diz respeito não apenas às relações entre indivíduos, mas também "macro-relações, relações sociais, econômicas e políticas". A chave para um desenvolvimento autêntico é "o amor pelo bem integral, inseparável do amor pela verdade". Para promover tal desenvolvimento é crucial "o discernimento ético". E a Igreja – lê-se ainda no documento - "reconhece entre suas tarefas primárias também a de recordar a todos, com humilde certeza, alguns claros princípios éticos".

Mundo governado ainda com critérios obsoletos

O documento também analisa a história recente do tecido econômico mundial. "A recente crise financeira - é enfatizado -, poderia ser uma oportunidade para desenvolver uma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da atividade financeira, neutralizando os aspectos predatórios e especulativos e valorizando os serviços à economia real". Apesar dos "esforços positivos em vários níveis", não houve "uma reação que tenha levado a repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo".

Lucrar é deplorável

Um fenômeno inaceitável "é lucrar explorando a própria posição dominante com a injusta desvantagem de outras pessoas ou enriquecer-se gerando danos ou perturbações ao bem-estar coletivo". E esta prática é particularmente deplorável, do ponto de vista moral, "quando a mera intenção de ganhar por parte de poucos através do risco de uma especulação visando provocar reduções artificiais nos preços dos títulos da dívida pública, e não se preocupa em afetar negativamente ou agravar a situação econômica de países inteiros ".

Economia e cultura do descarte

Preocupa, em particular, a difusão, também em âmbito econômico do que o Papa Francisco chama de "cultura do descarte". "Está em jogo - recorda o documento - o autêntico bem-estar da maioria dos homens e mulheres de nosso planeta, os quais correm o risco de ficarem cada vez mais confinados às margens, e até mesmo de serem excluídos e descartados pelo progresso e pelo bem-estar real, enquanto algumas minorias desfrutam e reservam para si mesmos enormes recursos e riquezas, indiferentes à condição da maioria ".

O egoísmo faz com que todos paguem um preço muito alto

Em um contexto marcado por profundas desigualdades é necessário repensar os modelos econômicos. "Portanto, é tempo – lê-se no texto – de seguir com uma recuperação do que é autenticamente humano, ampliar os horizontes da mente e do coração, para reconhecer com lealdade o que vem das exigências da verdade e do bem". Está cada vez mais claro que "o egoísmo no final não paga e faz com que todos paguem um preço alto demais". A economia não deve ser vista como um instrumento de poder, mas de serviço: "o dinheiro - se enfatiza no documento - deve servir e não governar".

Novas formas de economia

Portanto, os operadores competentes e responsáveis são chamados a "desenvolver novas formas de economia e finança, cujas práticas e regras sejam dirigidas ao progresso do bem comum e respeitosas da dignidade humana, no seguro sulco oferecido pelo ensinamento social da Igreja". Em particular, se sente a necessidade de empreender uma reflexão ética sobre "certos aspectos da intermediação financeira, cujo funcionamento, quando desconectado de adequados fundamentos antropológicas e morais, produz abusos e injustiças evidentes, como também se revelou capaz de criar crises sistêmicas e de amplitude mundial".

Em busca do bem comum

Para remodelar os atuais sistemas econômico-financeiros, cada um de nós – lê-se enfim no documento - "pode fazer muito, especialmente se não permanecer sozinho": "muitas associações da sociedade civil representam neste sentido uma reserva de consciência e responsabilidade social". Hoje, mais do que nunca, "todos somos chamados a vigiar como sentinelas da vida boa e a nos tornarmos intérpretes de um novo protagonismo social, marcando nossa ação na busca do bem comum e baseando-a nos sólidos princípios da solidariedade e da subsidiariedade".

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17 maio 2018, 16:15