Editorial: Dar o melhor de si
Silvonei José - Cidade do Vaticano
No início deste mês de junho o Dicastério vaticano para os Leigos, a Família e a Vida publicou um documento com o título “Dar o melhor de si”, sobre a perspectiva cristã do esporte e da pessoa humana. Um documento em cinco capítulos e com cerca de 50 páginas no qual se analisa a história do fenômeno esportivo, se oferece uma leitura antropológica do ponto de vista dos valores e um ponto de vista sobre os desafios e desvios do esporte.
Entre os desafios e desvios estão o doping e a corrupção. Um olhar ainda para o papel desempenhado pela Igreja neste setor, considerado um "moderno Pátio dos Gentios". Tendo às portas a Copa do Mundo de Futebol na Rússia é oportuno recordar esse documento.
Visão cristã do esporte
Reitera-se no texto que não há um "esporte cristão", sim "uma visão cristã do esporte". Por esta razão, reafirma-se que a Igreja - como repetidamente ensinada nas últimas décadas, em particular por João Paulo II, - não se limita a incentivar uma "prática esportiva qualificada", mas "quer estar" dentro do "esporte", entendido como "esporte para a pessoa "e, portanto, como espaço onde dar o" melhor de si ", a partir do qual, se desenvolvem amizade, diálogo, igualdade, respeito, solidariedade.
Voltando aos desafios e desvios: doping e corrupção que levam o esporte à ruína. No documento esta é uma afirmação forte; levam à ruina do esporte. O problema do doping prejudica a compreensão fundamental do esporte. Infelizmente hoje, é praticado seja por atletas individuais, seja por equipes e seja por Estados. O doping amplifica uma série de complicadas problemáticas morais porque não corresponde aos valores de saúde e de jogo leal. Representa um exemplo muito claro de como o mentalidade da 'vitória a todo custo' corrompe o esporte levando-o à violação de suas regras constitutivas. Neste processo a 'estrutura do jogo' é quebrada e os valores internos do esporte, que dependem da aceitação das regras, se perdem.
Não ao doping
O documento do dicastério vaticano também adverte sobre a corrupção: "Não menos do doping, a corrupção pode levar o esporte à ruína”. Ela explora o sentido de competição dos jogadores e dos telespectadores, que são deliberadamente trufados e enganados. A corrupção não se refere apenas a um único evento esportivo, mas é uma chaga que também pode se espalhar às políticas esportivas. As escolhas sobre o mundo esportivo são hoje feitas por atores externos seguindo interesses financeiros ou políticos. Igualmente condenável é qualquer tipo de corrupção que se refere a apostas esportivas. Se inúmeros desportistas ou apaixonados pelo esporte são enganados somente para que poucos outros possam enriquecer, “também isso ameaça a integridade do esporte”.
O Papa Francisco em uma Carta escrita ao Cardeal Farrell, prefeito do dicastério vaticano para os Leigos, a Família e a Vida recorda que “o esporte é uma riquíssima fonte de valores e virtudes, que nos ajuda a melhorar”.
Esporte, lugar de encontro
O esporte, escreveu o Santo Padre, é um lugar de encontro, onde as pessoas, de todos os níveis e condições sociais, se unem para obter um resultado comum. Em uma cultura, dominada pelo individualismo e pelo descarte das jovens gerações e dos idosos, “o esporte é um âmbito privilegiado, no qual as pessoas se encontram, sem distinção de raça, sexo, religião ou ideologia; onde também podem experimentar a alegria de competir e atingir uma meta em equipe. O esporte é um catalisador de experiências comunitárias e familiares e um lugar de união e encontro entre as pessoas.
O esporte é também um veículo de formação. Hoje, mais do que nunca, - destacou Francisco - devemos apostar nos jovens, na sua formação e no seu desenvolvimento integral. Sabemos que as novas gerações se inspiram nos atletas e desportistas, que, por sua vez, devem dar exemplo de virtudes, como a generosidade, humildade, sacrifício, constância e alegria; devem ainda contribuir para o espírito de equipe, o respeito, a saudável competição e solidariedade com os outros.
Lógica da vida
Na "lógica do esporte" se reconhece a "lógica da vida". "O esporte - dissera Bento XVI - pode unir em um espírito de amizade povos e culturas”. O esporte é um sinal de que a paz é possível.
O esporte pode ser instrumento de educação, pode estar a serviço da humanidade se se recupera a centralidade do "jogo" e que ele seja "para todos". Francisco, nas suas palavras no Centro Esportivo Italiano em 2014 disse algo que vale apena recordar: “não tenha medo de entrar em jogo com os outros e com Deus e não se contente com um empate "medíocre". E o convite: "dar o melhor de si" pelo "que dura para sempre".
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