Prosseguem no Vaticano os trabalhos do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens Prosseguem no Vaticano os trabalhos do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens 

Relançar aliança Igreja-família para acompanhar discernimento dos jovens

Nesta quarta Congregação geral foi também central o chamado à aliança Igreja-família: primeiro educador dos jovens, sobretudo no acompanhamento rumo à idade adulta, o núcleo familiar baseado no matrimônio cristão deve ser hoje revalorizado. No campo da formação foi recordada a importância da Doutrina social da Igreja.

Cidade do Vaticano

“Muitos hoje falam dos jovens, mas não muitos falam aos jovens”: era o que afirmava o Papa Paulo VI, proximamente santo, e o repete hoje o Sínodo. O tema da escuta retornou na parte da manhã desta sexta-feira (05/10), na quarta Congregação geral, cadenciado de diferentes modos: há a necessidade de ouvir os jovens no mundo digital, onde a bulimia informática muitas vezes corresponde à anorexia dos sonhos, com o risco de criar “info-obesos”.

Mas há também a necessidade de olhar a face positiva da juventude, portadora de grandes recursos humanos e espirituais, como a amizade, a solidariedade, o voluntariado, a autenticidade no testemunho, o pedido de coerência dirigido à sociedade civil, o apelo a uma Igreja mais corajosa e evangélica.

Confrontar-se construtivamente com os adultos

Os jovens buscam a escuta de um adulto, que lhes dedique tempo, os acolha com empatia e respeito, não os julgue e os acompanhe no discernimento, inclusive vocacional. Uma necessidade hoje maior ainda, vista a tendência de alguns adultos a querer ser jovem a todo custo, uma atitude que desorienta os jovens, privando-os de pontos de referência.

Importância da liturgia e dos sacramentos

Os padres sinodais recordaram, em seguida, a importância de revitalizar a missa, as orações diárias, os sacramentos, que representam um modo para atrair os jovens, torná-los parte ativa da vida da Igreja, favorecendo o protagonismo deles.

Por conseguinte, nas celebrações litúrgicas deve-se dar atenção a uma utilização mais envolvente da música, bem como à catequese e às homilias: não basta a memorização de orações e fórmulas, é preciso uma pregação alegre e inspiradora, porque os jovens devem entender com a cabeça e crer com o coração, diz o Sínodo.

 Somente desse modo, poderão ser os primeiros apóstolos de seus coetâneos. Agente de mudança, construtora de paz e unidade no mundo, a juventude deve ser considerada um lugar teológico, em que a Igreja se reconhece.

Solidão em abundância

Ao mesmo tempo, os pastores não devem limitar-se a esperar os jovens nas paróquias: o verdadeiro desafio é ser “Igreja em saída” para alcançar os jovens onde estes se encontram. Muitos deles têm muitas amizades virtuais mas nenhum amigo verdadeiro, sofrendo assim a chamada “solidão em abundância”, à qual a Igreja pode oferecer uma resposta real.

No campo da formação foi recordada a importância da Doutrina social da Igreja, bússola válida que pode orientar a juventude nas escolhas de vida, bem como o papel das escolas católicas, consideradas ótimos centros educacionais, mas talvez incapazes de envolver completamente os jovens na vida eclesial.

Aliança Igreja-família

Nesta quarta Congregação geral foi também central o chamado à aliança Igreja-família: primeiro educador dos jovens, sobretudo no acompanhamento rumo à idade adulta, o núcleo familiar baseado no matrimônio cristão deve ser hoje revalorizado.

De fato, ele representa o primeiro banco escolar também para quem entra no seminário. Por isso, hoje se mostra necessária uma reflexão sobre a figura paterna, pilar para a transmissão da fé e para o amadurecimento da identidade dos filhos. Trata-se de um papel que deve ser levado adiante em colaboração, e não em concorrência, com a figura materna, observou-se na Sala do Sínodo.

Acolher refugiados e migrantes

Da Sala do Sínodo ecoa também um apelo em favor do acolhimento a migrantes e refugiados, muitas vezes jovens, cuja dignidade é tão frequentemente violada. A palavra chave é solidariedade, evocam os padres sinodais, a fim de que os jovens refugiados se sintam realmente acolhidos e integrados. O Sínodo insiste sobre a necessidade de se trabalhar a fim de que os povos não sejam obrigados a migrar, mas possam permanecer em seus países de origem.

“Ministério da escuta”

A Sala do Sínodo deu a palavra ao convidado especial, Prior da Comunidade de Taizé, Irmão Alois, que evocou a importância do “ministério da escuta”, a ser confiado, quem sabe, também aos leigos.

O fundador da Comunidade monástica ecumênica de Taizé, Irmão Roger Schutz, dizia: “Quando a Igreja escuta torna-se aquilo que é: uma comunhão de amor”, ressaltou o Irmão Alois.

 

Em seguida, foi dado espaço a oito auditores e auditoras: os jovens não são meras categorias estatísticas, afirmou-se num dos pronunciamentos, mas desejam ser parte da solução para as dificuldades atuais.

Daí, o apelo ao mundo a fim de que faça uma opção preferencial por eles: feridos por sistemas que excluem, que não favorecem a igualdade e a justiça, os jovens devem ser ouvidos e ajudados de modo concreto, porque correm o risco de tornar-se como os pobres de nosso tempo, ou seja, vítimas da “cultura do descarte”.

Firmeza e transparência no combate aos abusos

Ser jovem hoje parece garantir, quase automaticamente, a inscrição na categoria dos “descartados”: desenraizados e “nascidos líquidos” (sem solidez, ndr), os jovens  de hoje são incertos e frágeis, muitas vezes instrumentalizados pela política, desprovidos de futuro.

Pelo contrário, eles sonham um mundo que os conduza e lhes permita ser protagonistas da história, construtores na ótica do serviço e não do poder. Nas palavras dos auditores, também o apelo à firmeza e à transparência no combate aos abusos, a fim de que a Igreja seja mais crível.

Por fim, um chamado à valorização do papel da mulher na vida eclesial, de modo que se sinta encorajada a crescer na liberdade da fé em Jesus. (Isabella Piro)

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05 outubro 2018, 17:52