Diocese de Cúcuta Diocese de Cúcuta 

Editorial: Amor além fronteiras

A Igreja Católica tem a missão de levar o Evangelho de Cristo a todas as criaturas e de ser o samaritano que cuida e cura as feridas provocadas por uma humanidade desumanizada.

Silvonei José - Cidade do Vaticano

A Igreja Católica está presente em todas as partes do mundo levando através das mãos e do coração de seus membros o balsamo da esperança para milhões de pessoas. Basta olhar ao nosso redor e ver a presença de bispos, sacerdotes e leigos que dedicam a sua vida ao próximo, aos necessitados, aos últimos. Abrindo um jornal, entrando na internet, ouvindo o rádio, vendo a televisão nos deparamos com um universo de informações que nos trazem de modo concreto a presença da Igreja entre os deserdados deste mundo, entre os classificados como “descarte” da sociedade. A Igreja Católica tem a missão de levar o Evangelho de Cristo a todas as criaturas e de ser o samaritano que cuida e cura as feridas provocadas por uma humanidade desumanizada.

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São muitos os exemplos dessa ação concreta, mas o nosso olhar se dirige para uma realidade não muito distante da nossa brasileira: estamos falando da cidade de Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, onde falta alimentos, gêneros de primeira necessidade e remédios.

Um sinal de esperança

Cúcuta é um sinal de esperança para aqueles que fogem do desespero, para aqueles que acreditam na paz e para aqueles que lutam contra o flagelo das drogas. Devido a crise que vive hoje a Venezuela, para milhares de venezuelanos esta cidade, a capital do departamento de Norte de Santander, é um destino para buscar alimentos, remédios e curas. Muitos têm fome, alguns estão doentes, outros estão desnutridos e não têm mais nada. A grave crise que afeta a Venezuela os leva a viajar milhares de quilômetros. Para esse povo sofrido, a diocese de Cúcuta oferece ajuda concreta, refeições quentes e assistência espiritual.

A busca pela paz é outro horizonte fundamental para a diocese de Cúcuta. O departamento de Norte de Santander é de fato abalado pela presença de dois movimentos de guerrilha, o Exército de Libertação Nacional (Eln) e o Exército de Libertação Popular (Epl). Neste cenário preocupante, a voz da Igreja é uma preciosa contribuição para alimentar os caminhos do diálogo e da reconciliação.

Cúcuta, uma das cidades com maior taxa de desemprego na Colômbia, também é um dos símbolos da luta contra o narcotráfico, um dos maiores flagelos que atinge a Colômbia. A Igreja local está ao lado dos camponeses, incentivando o cultivo do cacau para conter a disseminada papoula do ópio no país.

Mistura de desespero e esperança

Cúcuta é, portanto, uma mistura de desespero e esperança. Uma encruzilhada espalhada entre grandes periferias sociais, na qual a Igreja é uma fronteira entre consolação e dor, entre solidariedade e injustiças.

O bispo de Cúcuta Dom Víctor Manuel Ochoa Cadavid falando à Rádio Vaticana nos dias passados disse que Cúcuta é uma cidade de um milhão de habitantes. A diocese compartilha espaço com a de San Cristóbal na Venezuela. “Cúcuta é uma cidade que está sofrendo e que está vivendo a tragédia dos irmãos venezuelanos. Todos os dias, em Cúcuta, chegam 45-50 mil pessoas à procura de alimentos, medicamentos, assistência médica ou coisas de que precisam, como peças sobressalentes para carros. Em Cúcuta permanecem desses 45 mil que chegam, cerca seis mil pessoas. Muitos deles caminharam 1.500 quilômetros até a fronteira com o Equador e chegaram a Quito ou Lima. Percorreram 3.000 quilômetros a pé até chegar a Cúcuta.

Mulheres, crianças, idosos, pessoas necessitadas, jovens. Talvez seja a maior migração de todos os tempos na América Latina e é devido à situação que a Venezuela está vivendo. Os que chegam da Venezuela devem caminhar até Cúcuta para pegar um pouco de arroz, um pouco de macarrão, um pouco de açúcar. Mas eles não têm dinheiro, estão passando por uma terrível crise monetária. Eles conseguem arranjar alguma coisa vendendo uma correntinha de ouro, um relógio ou trabalhando em Cúcuta. Muitos permanecem ali e muitos voltam para casa. Eles têm filhos, esposas e família na Venezuela e devem voltar.

A solidariedade

Há cerca de um ano, em 5 de junho de 2017, este grande rio de venezuelanos começou a chegar a cidade e teve inicio a ajuda da diocese local. Todos os dias – disse o bispo - distribuímos oito mil refeições quentes a partir do café da manhã: um pouco de aveia com cevada quente com leite e açúcar, porque a maioria é de crianças ou adolescentes. Depois um pão de 120 gramas, um pouco de queijo e um pouco de mortadela.

A Igreja não entra no problema político. É um problema que todo país livre deve resolver com a democracia e respeitando os direitos das pessoas. A Igreja procura ajudar com grande caridade, com muito amor para dar esperança. Não se dá apenas comida, mas também são administrados os sacramentos: confissão, Santa Missa, uma palavra espiritual, uma palavra de encorajamento. Tem-se diante dos olhos um drama assustador. E o amor da Igreja não vê passaporte, não vê raça, não vê religião, vai além fronteiras. Um amor sem limites que vê no irmão o Cristo necessitado e descartado. Vê no irmão a oportunidade ser cristão, de amar sem condição, de ser misericordioso. A oportunidade de ser cristão ser reserva.

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08 dezembro 2018, 08:00