Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Turkson Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Turkson 

A contribuição das religiões para os objetivos do desenvolvimento sustentável

Foi apresentada, nesta terça-feira (05/03), na Sala de Imprensa da Santa Sé, a Conferência internacional que terá início na próxima quinta-feira (07/03), no Vaticano. Contará com a participação de expoentes de várias religiões que irão refletir sobre o papel das religiões na promoção do desenvolvimento integral da pessoa humana.

Marco Guerra, Mariângela Jaguraba - Cidade do Vaticano 

“As religiões e os objetivos do desenvolvimento sustentável: ouvir o grito da terra e dos pobres” é o tema da conferência internacional, que se realizará na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, de 7 a 9 deste mês, promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

Apresentação na Sala de Imprensa

O evento foi apresentado nesta terça-feira (05/03), na Sala de Imprensa da Santa Sé, pelo prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, pelo secretário desse organismo, mons. Bruno Marie Duffé, pelo diretor-geral do Departamento Clima, Biodiversidade e Desenvolvimento do Território da FAO (Fundo das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação), René Castro, e pela irmã Sheila Kinsey, secretária co-executiva da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação (Jpic) que se formaliza como grupo de trabalho conjunto da União dos Superiores Gerais (Usg) e da União Internacional dos Superiores Gerais (Uisg).

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Contribuição das religiões para alcançar as metas da ONU

Os relatores esclareceram que não é por acaso que a iniciativa tenha sido pensada em colaboração com os dois dicastérios. O tema central dos trabalhos é quanto as religiões podem participar na conquista dos objetivos do desenvolvimento sustentável, formulados pelas Nações Unidas, contribuindo, sobretudo, para o desenvolvimento integral do ser humano.

A economia não basta

A reflexão parte do pressuposto de que somente as medidas econômicas não são suficientes, mas serve uma dimensão ética e espiritual a fim de estimular o compromisso de cada pessoa com a proteção da criação e o combate à pobreza.

Turkson: fundamental a força moral das religiões

“A conferência que estamos apresentando a vocês hoje não é sobre a evolução dos Objetivos do Milênio”, disse o cardeal Turkson. “A nossa conferência trata da implementação urgente dos 17 objetivos estabelecidos por mais de 190 países e da força moral da religião na base da implementação dos objetivos. Devemos trabalhar juntos, pois não podemos negligenciar nenhuma fonte de sabedoria, assim como ninguém pode ser deixado para trás!”

Papel chave no campo educacional

O cardeal Turkson destacou que “as religiões são atores fundamentais também em termos de desenvolvimento” e desempenham um papel crucial na educação. “Ainda hoje”, disse ele, “segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), fornecemos ou sustentamos 50% de todas as escolas e na África Subsaariana 64% de todas as escolas”.

O purpurado conversou com o Vatican News sobre as análises que impeliram os organizadores da conferência e sobre o papel das religiões.

Turkson: Primeiramente, todas as religiões possuem exemplos, mesmo não tendo muitos meios, de como é possível empreender projetos para o desenvolvimento e o bem-estar humano. Por exemplo, por onde passa a Igreja Católica, toda ação é caracterizada por duas coisas: promoção da educação, formação e saúde. Assim, para a Igreja católica, a mensagem está sempre ligada ao bem do ser humano, ao seu desenvolvimento, ao seu bem-estar na terra. Mas, além disso, somos impelidos, como Igreja católica, pelo fato de que Deus nos amou, nos enviou ao mundo como missionários de amor. Assim, em todos os lugares que vamos, somos estimulados por essa missão de amor que nos dá a força para superar todos os obstáculos que encontramos. A razão que chamamos de moralidade, ética, nasce do fato de que a decisão de comprometer-se com o desenvolvimento do outro não vem dos meios econômicos, mas do reconhecimento do outro, como criatura à imagem de Deus, com a sua dignidade, e comprometer-se com a proteção dele, porque é um irmão, um ser humano como eu.”

Um desenvolvimento sustentável olha inevitavelmente para o desenvolvimento integral do ser humano...

Turkson: Sim, é assim. A ONU formulou esse adjetivo “sustentável’. Nós, como dicastério, falamos de “desenvolvimento humano integral”. Sustentável e integral, porque não nos preocupamos simplesmente com o desenvolvimento de hoje, mas com o que acontecerá amanhã. Então, digamos que essa responsabilidade seja um pouco intergeracional, olhando para o futuro. No centro de tudo, do presente e do futuro, está o ser humano. Portanto, o objetivo sustentável em sua apresentação está ligado à dignidade, sem deixar ninguém de fora. É neste ponto que os objetivos e a fé católica trabalham juntos. Os objetivos visam desenvolver a dignidade de cada pessoa, sem deixar ninguém de lado. Isto é o que a Igreja faz, reconhecendo que a criação do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, é fonte da dignidade.

O compromisso com a manutenção da criação e o compromisso com o desenvolvimento integral da pessoa combinam, pois a pessoa precisa de um desenvolvimento integral que olhe para toda a sua dimensão...

Turkson: Olha toda a sua dimensão, espiritual, material e também para a ligação com a criação, porque sem a criação não temos o terreno para viver nossas vidas! Daí o desenvolvimento integral refere-se à pessoa em seu aspecto material, espiritual, transcendental e também aos meios ao seu redor. Tudo isso facilita a sua vida terrena.

Mons. Duffé: as pessoas olham para a dimensão religiosa

Mons. Duffé também destacou o papel que as diferentes confissões religiosas podem desempenhar. “Durante muito tempo pensou-se que o desenvolvimento econômico poderia continuar sem limites”, disse o prelado. “Hoje, devemos reconhecer que muitas pessoas olham as religiões para o desenvolvimento sustentável, a visão religiosa abre novos cenários”.

Memória e esperança no centro do diálogo

Segundo mons. Duffé os princípios da memória e da esperança estão no centro do diálogo inter-religioso, porque cada religião está consciente de sua própria memória que leva ao respeito pela divindade e ao mesmo tempo pelas outras pessoas. “Crer em Deus significa saber que Deus nos criou e nos ama”, prosseguiu. “Portanto, devemos transmitir esse amor a todas as pessoas”.

FAO contra desperdício de alimentos

O diretor do Departamento sobre Clima da FAO, René Castro, também está convencido de que as religiões podem recorrer às suas tradições para indicar soluções concretas na luta contra o desperdício de alimentos, como quando nos séculos passados uma parte da colheita era oferecida às pessoas mais pobres. “Não há comida suficiente para todos os habitantes da Terra, mas jogamos fora um terço”, explicou o expoente da agência da ONU. “Bastaria recuperar esses desperdícios para resolver o problema de mais de 800 milhões de pessoas que estão em estado de insuficiência alimentar”, sublinhou.

Ensinamentos concretos das religiões

Irmã Sheila enfatizou que é possível conectar soluções concretas aos ensinamentos oferecidos pelas religiões. “Ao reunir pessoas que partilham a nossa visão comum para o bem-estar de toda a criação”, afirmou a religiosa, “podemos nos esforçar para encontrar maneiras de promover com responsabilidade uma nova realidade que atualize os objetivos para o desenvolvimento sustentável”.

Conferência intergeracional

Por fim, irmã Sheila informou que a conferência será “intergeracional” com a presença de muitos grupos de jovens e que a iniciativa foi projetada para construir um roteiro sustentável com compromissos e propostas claras a fim de promover e expandir os objetivos para o desenvolvimento sustentável.

 

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05 março 2019, 18:07