Cardeal Pietro Parolin Cardeal Pietro Parolin 

Cardeal Parolin e as ameaças à liberdade religiosa nos tempos atuais

O secretário de Estado do Vaticano participou na quarta-feira do Simpósio sobre a liberdade religiosa organizado pela Embaixada dos EUA junto à Santa Sé, que tratou entre outros temas, sobre as violações deste direito fundamental causadas pela intolerância, mas também por aqueles que contestam a instituição do matrimônio e o direito à vida, para proclamar os "novos direitos " em locais públicos.

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano

Por trás das violações do direito à liberdade religiosa há a intolerância daqueles que "consideram qualquer religião fora de sua, como inferior" ou "de segunda classe", mas também a proclamação dos assim chamados "novos direitos humanos", que "especialmente nas praças públicas",  se chocam frequentemente com aqueles fundamentais, como a liberdade religiosa e o direito à vida, no que diz respeito à instituição do matrimônio ou ao direito inviolável a toda a vida humana ".

O simpósio na Embaixada dos EUA junto à Santa Sé

 

Foi o que ressaltou o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, encerrando o Simpósio "Permanecer juntos para defender a Liberdade Religiosa Internacional", sobre a defesa da liberdade religiosa no mundo, realizado nesta quarta-feira na sede da Embaixada dos Estados Unidos junto à Santa Sé. Entre os oradores das duas mesas redondas em que o Simpósio foi articulado, também Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, falando sobre o tema da conscientização pública, através da mídia de massa, sobre a realidade da perseguição religiosa.

Trabalhar juntos para defender a liberdade religiosa

 

Ainda mais delicado, segundo o cardeal Parolin, o tema do segundo painel, "a cooperação internacional não só para" estar juntos ", mas para" trabalhar juntos "em todos os níveis para defender e promover a liberdade religiosa". Porque "se não houvesse uma tentativa séria e dedicada de trabalhar juntos para enfrentar e superar as causas profundas" da perseguição religiosa, para o secretário de Estado do Vaticano “a sensibilização sobre a brutal realidade" deste problema no mundo, "seria inútil".

Trabalhos abertos pela embaixadora Callista Gingrich

 

O encontro foi promovido pela Embaixada dos EUA em conjunto com o #StandTogetherProject, uma plataforma digital, inclusiva e ecumênica, criada para dar voz a todos os cristãos que vivem em situações de discriminação ou perseguição.

Protagonistas da manhã de trabalhos na Via Sallustiana em Roma, diplomatas, líderes religiosos, expoentes da sociedade civil e do mundo acadêmico, apresentados pela embaixadora dos Estados Unidos junto à Santa Sé, Sra. Callista L. Gingrich.

Ataque a um dos direitos humanos fundamentais

 

O cardeal Parolin esclareceu que as violações da liberdade religiosa são "um ataque agressivo que afeta o cerne do usufruto dos direitos humanos fundamentais", necessários para o desenvolvimento da pessoa humana, da sociedade "e para a coexistência pacífica entre as nações".  

Infelizmente, não obstante os muitos esforços, as violações continuam, "muitas vezes ocorrem impunemente  e às vezes recebem pouca ou nenhuma atenção da mídia". E em vez disso, também "através dos rápidos meios agora disponível com a mídia digital - sublinha o secretário de Estado do Vaticano - aqueles que trabalham nos meios de comunicação e na área de comunicações sociais devem trazer à luz" as ameaças ao bem comum da família humana, como "as graves violações da liberdade religiosa".

Ruffini: a mídia tem a responsabilidade de dizer

 

Temas e solicitações que também são encontradas no pronunciamento do prefeito do Dicastério para a Comunicação Paolo Ruffini, que pediu "uma séria e específica assunção de responsabilidade por parte da mídia" diante dos "crimes cometidos contra as minorias religiosas". Porque hoje – recordou Ruffini com as palavras do Papa Francisco - os cristãos mortos por sua fé são "em número maior do que os mártires dos primeiros tempos". Mas isso não é notícia".

Ter o cuidado para não construir “tribos” baseadas no ódio

 

"Não se pode servir a verdade com a desinformação - esclareceu o prefeito do Dicastério para a Comunicação - que é feita de silêncios, mas também de meias verdades, ou instrumentalização da verdade". É preciso - continuou ele - "uma grande cautela diante do risco de apagar, de se livrar de todas as formas de diálogo, qualquer mínimo denominador comum". É o risco de construir, "também por meio uma comunicação incorreta", tribos em vez de comunidades, "tribos fundadas na exclusão do outro. No ódio pelo outro. Muitas vezes com a pretensão de recrutar Deus em suas fileiras”.

Necessária a perseverança para contar a verdade

 

O conselho de Paolo Ruffini para os colegas,  é o do autor da Carta aos Hebreus, repetidamente citado pelo Papa Francisco: "Tenham perseverança". Na narração da verdade e "no construir também por meio da mídia as condições, para que ninguém seja perseguido ou sofra constrangimentos e violência por causa de sua religião".

Perseverança também "no recordar - como disse João Paulo II - que o Estado não pode reivindicar uma competência, direta ou indireta, sobre as convicções religiosas das pessoas". E no cessar, como está escrito na declaração de Abu Dhabi assinada por Francisco no início de fevereiro, "de instrumentalizar as religiões para incitar o ódio, a violência, o extremismo e o fanatismo cego".

Renunciar ao uso discriminatório do termo “minorias”

 

Perseverança, por fim – concluiu o prefeito - "recuperando o conceito de cidadania plena e renunciando ao uso discriminatório do termo minorias", que "prepara o terreno para hostilidades e discórdias e subtrai as conquistas e os direitos civis e religiosos de alguns cidadãos,  discriminando-os".

A primeira regra, "para construir, também por meio da mídia, um mundo mais livre, sem perseguições" permanece :"Não fazer aos outros o que você não gostaria que fizessem com você. Faça aos outros o que você gostaria que fizessem com você ”.

Parolin: autoridades sejam guardiãs da liberdade religiosa

Porque a liberdade religiosa – prosseguiu o cardeal Parolin  em suas conclusões no Simpósio - não é "algo concedido de fora" à pessoa, mesmo pelo Estado", mas sim" um dom dado por Deus, na verdade um dom enraizado na dimensão transcendente da natureza humana ”. As autoridades civis, então, "têm a obrigação de proteger e defender a liberdade religiosa", não porque são "o autor, mas sim o custódio".

Liberdade para viver de acordo com princípios éticos ligados à própria fé

 

A liberdade religiosa – observou ainda o secretário de Estado do Vaticano - "não é somente a crença privada ou de culto”, mas "é a liberdade de viver, quer privadamente como publicamente, de acordo com os princípios éticos que derivam dos princípios religiosos".

Este, para Parolin, "é um grande desafio no mundo globalizado, onde as convicções débeis também baixam o nível ético geral e, em nome de um falso conceito de tolerância, se acaba por perseguir aqueles que defendem sua fé".

Em suma, a "liberdade religiosa certamente o direito de adorar a Deus, individualmente e em comunidade, como as nossas consciências impõem". Mas "nossas diferentes tradições religiosas servem à sociedade sobretudo através da mensagem que proclamam" e "nos recordam a dimensão transcendente da existência humana e a nossa irredutível liberdade diante de qualquer pretensão de poder absoluto".

Liberdade religiosa e proteção da consciência

Na conclusão, o cardeal Pietro Parolin reafirmou "que a Santa Sé continuará comprometida com a promoção da liberdade religiosa, já que este direito fundamental está intimamente ligado à proteção da consciência e à defesa da pessoa humana".

Com todos os meios possíveis, ele encoraja "o respeito recíproco e a colaboração entre as nações, povos e religiões, para favorecer a coexistência pacífica", e "um ambiente sócio-político que respeite a liberdade de consciência da pessoa", especialmente "nos contextos em que a sua a fé pode não ser a da maioria ”.

Despertar a consciência religiosa nos jovens

 

Um exemplo recente dessa prioridade para a Igreja é o documento sobre "Fraternidade Humana" assinado pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame Ahmed al-Tayyeb em Abu Dhabi, no último dia 4 de fevereiro, no qual - foi a consideração final do Secretário de Estado – se afirma "a importância de despertar a consciência religiosa e a necessidade de fazer reavivar essa consciência nos corações das novas gerações por meio de uma sã educação e uma adesão aos valores morais e aos ensinamentos religiosos retos". Desta forma, é possível “enfrentar tendências individualistas, egoístas, conflitantes, mas também enfrentar o radicalismo e o extremismo cego em todas as suas formas e expressões".

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03 abril 2019, 16:40