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Padre Faggioni: uso de remédio que inibe puberdade é arriscado

Jovens gerações e sexualidade, novas perspectivas e desafios. Vatican News conversou com o padre Maurizio Faggioni, especialista em bioética e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele aborda dois casos: uma campanha na Holanda contra a prostituição e a questão da disforia de gênero.

Cidade do Vaticano

Há sinais de mudança de tendência com relação à permissividade absoluta e ao uso puramente instrumental da sexualidade, como demonstra a campanha em prol da ilegalidade da prostituição na Holanda. São palavras do padre Maurizio Faggioni O.F.M., consultor de Bioética da Academia Alfonsiana, que nesta entrevista ao Vatican News convida a considerar os riscos ligados ao uso da triptorrelina que inibe a puberdade nos jovens que manifestam problemas com a sua identidade sexual.

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Na Holanda 42 mil jovens assinaram uma petição para pedir que a prostituição se torne ilegal. A campanha “sou impagável” foi conduzida principalmente por grupos de inspiração cristã e feminista. Em um dos países mais permissivos do mundo, assiste-se a uma tomada de posição por parte de uma geração que, como somos acostumados, era mais levada a defender a liberdade de fazer tudo. O que está mudando?

Estamos assistindo a uma tomada de consciência global por parte das jovens gerações. São eles que vão às ruas e protestam quando não concordam com alguma coisa. Atraíram muita atenção as grandes manifestações em favor do ambiente, mas também esta mobilização nos Países Baixos mereceria maior espaço e consideração. Os jovens são muito mais sensíveis e agudos ao registrar desequilíbrios e injustiças: no momento que estes jovens holandeses entenderam que por trás da fachada da prostituição livre na realidade escondia-se uma exploração de mulheres pobres, não hesitaram em enfrentar abertamente o caso – de fato, a campanha está no Instagram – para dizer chega! Não estão a venda, não devem ter um preço.

Na Exortação pós-sinodal “Christus vivit” o Papa, ao falar de matrimônio, convida os jovens a “educar a própria sexualidade, de modo que seja sempre menos um instrumento para usar os outros e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa de maneira exclusiva e generosa”.

É um chamado importante e atual. Na Exortação o Papa observa que “em um mundo que destaca excessivamente a sexualidade, é difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas”. De fato vivemos na época da hipersexualização, da sexualidade exagerada super-exposta, da liberdade de acesso sem limites a qualquer tipo de imagem e de pornografia. Os psicólogos denunciam um aumento das patologias ligadas à esfera sexual justamente nos jovens e pré-adolescentes, com crises de ânsia pelo desempenho de um lado e pela violência de outro. Se entre os jovens das escolas médias torna-se normal a solicitação de fotos nuas como “prova de amor” para depois usá-las para chantagem e bullyng, talvez alguma coisa não funcione da pressuposta libertação de tabus.

Em algumas crianças e adolescentes há uma certa “confusão” ligada à sexualidade, à percepção de si, do próprio corpo. Aqui entra em jogo também a educação sexual.

Em uma época dominada pelo “quero tudo e logo”, por assumir precocemente papeis e comportamentos erotizados, pela pressa do tempo da iniciação sexual, um aspecto fundamental e delicado do crescimento como o da educação sexual corre o risco de se reduzir a uma informação sobre as técnicas contraceptivas e sobre a prevenção da doenças sexuais, sem enfrentar os temas decisivos para a formação psico-afetiva da pessoa. E algumas problemáticas ligadas com a sexualidade dos pré-adolescentes hoje podem encontrar soluções medicamentosas e caminhos duvidosos e arriscados.

A propósito do uso da triptorrelina que inibe a puberdade nos jovens que manifestam a chamada “disforia de gênero”, o que o senhor pensa sobre isso?

O uso da triptorrelina (substância cuja principal função é a de inibir a liberação dos hormônios sexuais) no casos dos pré-adolescentes com dificuldade de definição da própria sexualidade é emblemático. Na tentativa de superar situações de indiscutível aflição pode-se ser levados a percorrer o caminho farmacológico de eficácia e de consequências que ainda não são bem conhecidas. Os dados publicados são preliminares e falta a confirmação que deve vir dos usuários e de rigorosos protocolos experimentais. Sabe-se alguns resultados da triptorrelina em situações patológicas como a puberdade precoce e alguns tumores, mas não existem ainda dados suficientes, não apenas referentes a efeitos fisiológicos, mas principalmente sobre consequências psicológicas de uma inatural prolongação da pré-puberdade.

Hoje a internet é a “fonte” de todas as informações, principalmente sobre estes temas. A geração de “pais amigos” parece que não consegue ser o principal interlocutor para os jovens que buscam informações sobre a sexualidade.

O paradoxo da educação sexual dentro da família moderna é justamente este: por mais que tenha sido desmitificada a figura autoritária dos pais, os jovens continuam a buscar informações em outras fontes, principalmente as ligadas ao sexo. Certamente um dos fatores é o pudor e a reserva, mas ao mesmo tempo, a tentativa de serem considerados “coetâneos” e amigos dos próprios filhos gerou uma clamorosa confusão nos papéis de cada um. Falar de afetividade e de sexualidade quer dizer falar de respeito e de consciência, quer dizer se envolver e ser acreditáveis. Isso é cada vez mais difícil quando são os próprios pais a se exporem, algumas vezes de modo constrangedor, exatamente nas redes sociais onde o uso discriminado é alertado aos filhos.

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15 abril 2019, 14:30