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Campo Teutônico, o cemitério dentro do Vaticano

As primeiras referências ao Cemitério Teutônico nos remetem ao século XIV. Dada a sua localização particular - dentro do Estado do Vaticano - o cemitério recebe milhares de pedidos para sepultamento todos os anos. Mas de acordo com os estatutos da fundação, estes devem obedecer cânones bem precisos: ser membro da arquiconfraria responsável pelo cemitério, ser religioso de origem alemã e membro de Colégios teutônicos de Roma.

Cidade do Vaticano

Nos últimos dias muito se tem falado sobre o Cemitério ou Campo Teutônico, localizado dentro da Cidade do Estado do Vaticano, em função das investigações envolvendo o paradeiro de Emanuela Orlandi. Mas não é a primeira vez que o local ganha a atenção da mídia: foi precisamente lá, em fevereiro de 2015, que por desejo do Papa Francisco foi sepultado “Willy” - como era conhecido - o indigente que vagava pelas ruas nos arredores do Vaticano.

Naturalmente não se trata da Necrópole sobre a qual foi construída a Basílica de São Pedro e onde foi sepultado o Apóstolo Pedro, mas localiza-se nas proximidades. O Campo Santo dos Teutônicos ou dos Flamengos  (Friedhof der Deutschen und der Flamen em alemão, ou Begraafplaats van de Teutoonen en Vlamingen em holandês) foi construído sobre a área onde estava o Circo de Nero, na área localizada agora entre a Basílica de São Pedro e a Sala Paulo VI.

A entrada é pela Praça dos Protomártires, que deve ser atravessada para se chegar, por xemplo, ao “Uficcio Scavi”, onde é possível fazer uma visita guiada à Necrópole vaticana. 

Acesso ao cemitério pela Praça dos Protomártires
Acesso ao cemitério pela Praça dos Protomártires

Século XIV

 

O também conhecido como “Campo Santo”, faz parte de um complexo cuja existência é citada já no século XIV, e que inclui un Colégio e uma pequena igreja, onde costumam ser celebradas Missas para a Guarda Suíça Pontifícia. Há séculos o local é referência para a colônia alemã em Roma.

Durante o Ano Santo de 1450, é assinalado que a Igreja e o Cemitério Teutônico estão mal conservados, e em vista do Ano Santo Jubilar fazia-se necessária a realização de trabalhos de restauração. Assim, membros da Cúria Romana, de origem alemã, destinaram fundos para a total reformulação da área, garantindo a sua manutenção no decorrer dos séculos e fazendo com que tivesse a forma atual.

Em 1597 é fundada a Arquiconfraria de Nossa Senhora, com papel administrativo, que passa a ter sede no Campo Teutônico.

Em 1876, não afastado do Campo Santo, é construída uma residência para estudantes de origem alemã interessados em história eclesiástica e arqueologia sacra. Em 1888 é acrescentada também uma bilioteca proveniente da Goerres Society, com 35 mil livros.

Na entrada do Campo Santo, placa explicativa em alemão
Na entrada do Campo Santo, placa explicativa em alemão

O cemitério

 

No pátio interno, provavelmente construído no século XVII, em meio à vegetação, há estátuas e sepulturas de várias épocas, onde foram sepultados alemães ilustres. Nas lápides dos túmulos, nomes e sobrenomes em alemão. E ao longo do trajeto entre as subdivisões da área, caminha-se sobre lápides de mármores que recobrem algumas sepulturas.

Em uma das fachadas internas do muro que delimita o cemitério, estão fixadas placas com as Estações da Via Sacra, obra de N. L. Piccioni, CH. Unterberger, 1776.

No pátio interno, provavelmente construído no século XVII, em meio à vegetação, há estátuas e sepulturas de várias épocas
No pátio interno, provavelmente construído no século XVII, em meio à vegetação, há estátuas e sepulturas de várias épocas

A Igreja

 

Desta área onde estão as sepulturas, e somente dela, se tem acesso à Igreja de Santa Maria da Piedade no Campo Santo, de origem muito antiga, mas reconstruída entre 1476 e 1517, e submetida a uma esmerada restauração entre 1972-1975. O acesso à Igreja foi reconstruído durante esta reforma, por obra do arquiteto alemão Elmar Hillebrand, com recurso doado pelo presidente da república alemã, Theodor Heuss.

Dividida em três naves, originalmente, a igreja tinha o formato da cruz grega, mais tarde assumindo um formato quadrangular para dar lugar a uma “aula”.

Para quem imagina um local rico em obras de artes e afrescos, se surpreenderá pela austeridade da construção e da própria decoração, limitada a algumas pinturas e estátuas.

Junto aos pilares de um dos lados do coro, estão lápides de sepulcros em mármore do início do século XVIII. No centro da “Piedade” existem cenas cristológicas ambientadas em paisagens naturais, ricas em detalhes.

Já na nave à esquerda, está a Capela dos Suíços, com algumas pinturas atribuídas a Polidoro Caravaggio (1522-1523), com cenas da Vida de Cristo. Ali estão sepultados os guardas suíços mortos durante o Saque de Roma de 1527. 

As Estações da Via Sacra no muro interno
As Estações da Via Sacra no muro interno

Os requisitos para ser sepultado no Cemitério Teutônico

 

Dada a sua localização particular, o Cemitério Teutônico de Roma recebe milhares de pedidos para sepultamento todos os anos. Mas de acordo com os estatutos da fundação, estes devem obedecer cânones bem precisos: só podem ali ser sepultados membros da arquiconfraria responsável pelo cemitério, religiosos de origem alemã e membros dos dois Colégios teutônicos de Roma (o Anima e o Germanico). Tradicionalmente, no entanto, são acolhidas todas as proeminentes figuras de origem alemã e flamenga que tenham prestado serviço a Igreja e que tenham morrido em Roma. Em outras palavras, devem ser católicos, de língua alemã ou flamenga – independente da nacionalidade – e ter residido em Roma.

Há séculos o local é referência para a colônia alemã em Roma.
Há séculos o local é referência para a colônia alemã em Roma.

Entre as personalidades ali sepultadas, estão por exemplo Johann Baptist von Anzer, primeiro bispo dos missionários verbitas missionários (+1903); George da Baviera, príncipe da Baviera (+1943); Hubert Jedin, historiador da Igreja, estudioso da história do Concílio de Trento (+1980); Hermann Kanzler, comandante do exército papal na batalha de Mentana (+1888); Engelbert Kirschbaum, S.J., arqueólogo e colaborador acadêmico na descoberta do túmulo de São Pedro (+1970);  Carlotta Federica de Mecklenburg-Schwerin, duquesa (+1840), esposa do rei Christian VIII da Dinamarca (na quinta-feira 11/07/2019, como parte da pesquisa destinada a encontrar pistas sobre o desaparecimento de Emanuela Orlandi, foram realizadas pesquisas em seu túmulo);  Pascalina Lehnert, religiosa alemã da Congregação das Irmãs Educadoras da Santa Cruz, assistente do cardeal Eugenio Pacelli (mais tarde Papa Pio XII) (+1983); Michael Schulien, sacerdote, missionário e etnólogo, antigo Visitador Apostólico no Sarre (+1968); Johannes Hendrik Olav Smit, cônego da Basílica de São Pedro no Vaticano (+1972); Rolf Schott, historiador de arte e estudioso de Michelangelo (+1977); Augustin Theiner, prefeito dos Arquivos Secretos do Vaticano (+1874); Gustav Adolf von Hohenlohe-Schillingsfürst, cardeal (+1896).

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12 julho 2019, 15:22