Gandhi em 1948 Gandhi em 1948 

A grande lição de Gandhi: amar a todos, inclusive os inimigos

"Amor fraterno e não-violência pela paz e a harmonia global". Este é o tema da Conferência inter-religiosa de estudo realizada nesta terça-feira em Roma, 150 anos após o nascimento de Mahatma Gandhi, cujo aniversário é recordado em 2 de outubro, Dia Internacional da Não-Violência.

Roberta Gisotti - Cidade do Vaticano

Há 150, mais precisamente em 2 de outubro de 1869, nascia na Índia o líder que marcaria a história moderna de seu país, libertado do jugo do colonialismo britânico sem derramamento de sangue, mas também o homem que indicaria ao mundo o caminho pacífico para o conflito político e o respeito pelos direitos humanos em todas as situações e lugares, bem como uma filosofia de vida para a qual "os meios certos levam a fins justos" para alcançar uma sociedade pacífica.

"A não violência - ensinava Gandhi - é a maior força à disposição da humanidade. É a mais poderosa das armas de destruição idealizada pela engenhosidade humana".

Ainda hoje deveríamos "nos inspirar em nossos esforços para não deixar ninguém para trás" nas metas de desenvolvimento e paz para todos, sublinhou o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, ao homenagear a memória de Gandhi durante os trabalhos da Assembleia das Nações Unidas, em andamento em Nova York.

E é dedicada precisamente ao líder político, advogado e filósofo, ícone da independência incruenta da Índia, a Conferência comemorativa organizada pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que conta com a participação de acadêmicos e estudiosos e cerca de cinquenta representantes de várias Confissões. Também presente o embaixador indiano junto à Santa Sé, Sibi George.

 

Ao abrir os trabalhos do encontro, Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do dicastério que promove o evento, destacou o legado dessa grande figura e a relevância de seus ensinamentos diante de tantas realidades de intolerância religiosa, violência civil e conflitos armados, que vemos subsistir e ressurgir com força no mundo .

O Vatican News pediu ao arcebispo que será criado cardeal pelo Papa Francisco no Consistório no próximo sábado, o que não foi ainda entendido e realizado da estratégia não violenta da própria filosofia de vida de Gandhi ainda não foi entendida e realizada?

R. - A palavra "ahimsā", que transmite o significado de não-violência para Gandhi, não é apenas um estado negativo de não causar dano, mas acima de tudo, um ato positivo de amor. Por este motivo Gandhi definiu 'ahimsā' como o amor maior, a caridade maior. E se faz aqui, por meio desse amor, que para ele não conhece fronteiras e deve se estender a todo ser humano, incluindo os mal-intencionados, os maus e até mesmo o mal personificados. Gandhi disse que não é não-violência se amamos apenas aqueles que nos amam. É não-violência somente quando amamos aqueles que nos odeiam. Neste sentido que a não-violência é um remédio que cura a doença da sociedade. É um antídoto ao ódio e ao conflito. Aqui é onde procuramos trabalhar em conjunto com membros das diferentes tradições religiosas, buscando todos juntos com pessoas de boa vontade, construir um mundo melhor, também em vista de uma ética universal a ser reproposta, porque devemos e somos chamados como seres humanos a ser bons, a fazer o bem, a evitar o mal, a semear a paz.

O que torna mais difícil, em nível pessoal, aderir à filosofia de Gandhi? Que apelo poderia ser feito às pessoas?

R. - Eu recordaria, como queria Gandhi e como também o  quer o Papa Francisco, amar a todos, sem exclusão e de não odiar ninguém, de respeitar a diversidade e promover a fraternidade. Somos irmãos e irmãs na humanidade, portanto, que não prevaleça o sentimento de pertença que nos divide,  mas que saibamos ver na diversidade das cores e dos sons da música, uma diversidade que colocada junta, cria um lindo arco-íris, também cria aquele sound of music, essa grande sinfonia, da qual o mundo tem necessidade. Penso que todos os esforços que cotidianamente,  eu diria, o  Papa Francisco tem realizado, para convidar toda a humanidade a seguir por esse caminho da fraternidade humana pela paz e convivência comum, seja uma clara indicação para recordar ao mundo que a paz é um produto do amor. Neste sentido, eis a pergunta que poderia ser proposta: Fracassamos? Somos fracassados? Onde está essa paz que tantas vezes vem a faltar? Como podemos produzir frutos de paz e de fraternidade - e aqui as religiões e líderes religiosos têm todos uma grande responsabilidade, como nos recorda o documento de Abu Dhabi assinado em fevereiro passado pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb – para poder levar em frente esses projetos de paz e a possibilidade de perspectivas de fraternidade humana e harmonia coexistencial.

(Atualizada em 02.10, às 11h52).

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01 outubro 2019, 13:08